Com a voz tranquila, doce, Nina Becker esclarece que sua carreira solo não demorou a acontecer. A estreia fonográfica se deu quase dois anos depois de ter sido eleita melhor cantora pela Associação Paulista de Críticos de Arte e indicada como revelação da MPB pelo Prêmio Bravo! Mas, para a moça projetada ao lado de Thalma de Freitas na numerosa Orquestra Imperial, os CDs Azul e Vermelho, lançados juntos há dois meses, vieram no tempo certo. "Fui fazendo na medida da minha vontade", diz.
Muito antes, desde 2004, Nina faz seus próprios shows e pesquisa repertório. Dessas apresentações vieram a maior parte das canções enfim gravadas. Foram também a base para a criação do espetáculo que ela apresenta amanhã, a partir das 23 horas, no Era Só o Que Faltava.
Azul trouxe mais desafio ao ser transportado ao palco. Gravado em estúdio com poucos instrumentos e muito espaço para o silêncio, exigiu novos arranjos, adaptados para a formação da banda que a acompanha: duas guitarras (Gabriel Bubu e Bartolo), baixo (Eduardo Manso) e bateria (Thomas Harres). "Outras faixas, toco praticamente sozinha na guitarra e continuam bem vazias, como Medo, em que os músicos só ficam fazendo barulhinhos como grilos", conta.
Por isso, seu show acaba soando mais Vermelho do que Azul. Afinal, a ideia por trás do disco de cor quente, desde o princípio, era incorporar a sonoridade de banda, tanto que o registro foi feito "ao vivo" no estúdio.
Não que sejam tão gritantes as diferenças entre os dois discos, ambos carregam melancolia. "As pessoas querem que sejam diferentes", percebe Nina. "Não vejo necessidade nenhuma, isso pode ser sutil. Sou uma artista só, não uma pessoa esquizofrênica. São dois trabalhos mais ou menos contemporâneos que trazem o repertório da minha vida."
Um pouco de tudo
Livre para mostrar sua personalidade como artista, muito mais do que no trabalho coletivo com a Orquestra, Nina revela sobre o palco um pouco de tudo o que faz, inclusive o repertório que acumulou ao longo dos anos. Canta, por exemplo, uma versão de "Estrada de Sol", de Dolores Duran e Tom Jobim, trocando a levada de bossa nova por uma puxada "mais africana".
Outra que incorporou ao show é "LAmour en Privé". A composição de Serge Gainsbourg estava no roteiro da homenagem feita pela Orquestra Imperial ao mito da chanson francesa, no show Gainsbourg Imperial, vencedor do Prêmio Bravo! deste ano. Só houve duas apresentações no Sesc Pinheiros, em São Paulo, com ingressos esgotados em duas horas. Jean-Claude Vannier, maestro de Gainsbourg nos anos 60 e 70, veio pessoalmente regê-lo. "Dá para ver uns trechos no YouTube", sugere a cantora.
Da Orquestra Imperial em si, canta "Supermercado de Amor" e, das suas prediletas, sem restrições, entoa "May This Be Love", do Jimmy Hendrix.
Como grande parte do repertório dos discos passou pelo palco antes de chegar ao estúdio, raras são as "inéditas". Caso de "Dans Ton Île", composição de Domenico Lancelotti gravada no Azul. Além dele, Nina dá voz a temas de Moreno Veloso, Romulo Fróes, Nuno Ramos e a uma parceria com Jorge Mautner, entre outros, mas também a nove faixas autorais.
Hérnia
Compor é algo relativamente novo para a moça. Na verdade, ela já escrevia, mas "morria de vergonha de mostrar para os outros". Só internada em casa por conta de uma hérnia de disco, deslanchou na criação.
"Esse momento de introspecção acabou favorecendo um mergulho no universo das minhas composições e anotações", diz.
Também são de sua autoria os figurinos, embora ela já não tenha tempo para o ateliê de roupas que mantinha antigamente.
Todas as quartas-feiras, Nina se apresenta com a Orquestra Imperial no projeto Rival Mais Tarde, para um público jovem carioca. No dia seguinte, parte em sua turnê solo.
Se não fosse a carreira em conjunto, teria sido complicado vencer a timidez para se lançar como cantora. "Quando comecei na Orquestra, eu não tinha experiência quase nenhuma de palco, não sabia usar o microfone. Sempre fui uma pessoa muito tímida e, ao tocar com uma banda enorme, não me senti tão exposta. Minha natureza é bem mais tranquila", diz a cantora carioca.
Serviço:
Nina Becker. Era Só o Que Faltava (Av. Rep. Argentina, 1.334), (41) 3342-0826. Amanhã, às 23 horas. Ingressos a R$ 20 e R$ 10 (meia).
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