Para Jabor, a roubalheira não é uma causa, mas resultado de uma antiga cultura nacional de clientelismo, coronelismo, burocracia e tolerância à corrupção| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

Quem foi ao Teatro Positivo nesta quarta-feira (13), esperando o Arnaldo Jabor da TV, expansivo e definitivo em suas declarações, deve ter estranhado. “Fiquei muito honrado de vir, nesse momento, aqui à República de Curitiba”, brincou, arrancando risos e palmas e um aplauso entusiasmado do público.

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Apesar do início empolgado, sua fala manteve-se à distância das paixões que estão colocando a população em lados opostos do espectro político. A proposta da palestra era fazer uma leitura do passado, presente e futuro do Brasil, algo que Jabor fez em tom moderado. Foi cauteloso sobre o momento e sóbrio quanto a previsões.

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Sentado em uma poltrona capitonê de couro, entre duas mesinhas e um abajur em estilo barroco, ele fez alguns elogios à operação Lava Jato, uma ou outra piada sobre o posicionamento de Chico Buarque e algumas críticas mais ácidas ao ex-presidente Lula (PT). Mas, diante de uma plateia igualmente discreta, ressaltou sua perplexidade.

“O tom do nosso pensamento agora é de questionamentos sobre o que vai acontecer, de perguntas. E não de certezas. Elas são uma das coisas que estão sendo postas em questão. As certezas são muito perigosas”, disse.

Raízes do Brasil

Em sua fala, a “roubalheira” não é uma causa, mas uma consequência de uma cultura de patrimonialismo, clientelismo, coronelismo, burocracia e tolerância à corrupção que remonta aos tempos de colônia, e que nunca cessou de atrasar o desenvolvimento do país. “No Brasil, os honestos não fazem sucesso nem em suas próprias casas”, debochou.

Os erros que Jabor vê nos governos do PT seriam motivados por certezas baseadas em uma ideologia de esquerda que ele considera ultrapassada. E também têm a ver com o que chama de “batalha” perene entre o atraso e a modernização no Brasil. A ânsia por soluções e por “salvadores da pátria” é outro vício cultural. “Não existem soluções, existem processos”, disse.

Mutação

A atual “crise”, que o jornalista prefere chamar de “mutação”, é um momento em que todos estes erros da formação histórica da sociedade e da política brasileira estão vindo à tona, batendo de frente com mudanças culturais, econômicas e tecnológicas que estão acontecendo no mundo todo. “A sociedade contemporânea não suporta mais as loucuras arcaicas da nossa formação”, afirmou. “É impossível um país funcionar com os vícios que nos acometem.”

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Nos minutos finais, fez uma elogiosa leitura do legado de Fernando Henrique Cardoso, uma breve análise dos anos Lula e uma quase nota de rodapé sobre Dilma.

A gente vai ficar irritado, vai sofrer, mas não vai passar fome. Mas vai haver um processo muito doloroso na vida popular desse país se tudo isso não for resolvido

Jabor não trouxe respostas. Seu diagnóstico do momento é de uma situação grave, difícil de ser sanada. Disse não saber se o impeachment é o melhor para o país, já que as dificuldades que se seguiriam poderiam ajudar Lula a voltar em 2018. Como medida emergencial, admite até a volta da CPMF, para discretos protestos corporais nas poltronas vizinhas à de Darci Piana, presidente da Federação do Comércio do Paraná – uma das patrocinadoras da palestra.

Deixou o palco sob uma salva de palmas breve e um tanto circunspecta.