Encerrado na semana passada, o Festival de Veneza foi o palco de estréia de Árido Movie, segundo longa-metragem do pernambucano Lírio Ferreira – co-diretor do premiado e elogiado Baile Perfumado (1996). A produção tem no elenco o curitibano Guilherme Weber, em seu primeiro papel de protagonista no cinema. O ator fez parte da equipe que representou o filme na cidade italiana e retornou à capital paranaense na terça-feira passada. Em entrevista ao Caderno G, ele conta como foi a experiência de ter participado da prestigiada mostra – a mais antiga do mundo (criada em 1932) e uma das três mais importantes, ao lado de Cannes e Berlim.

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Weber, Ferreira e Murilo Salles (diretor de fotografia de Árido Movie, também cineasta) chegaram a Veneza no segundo dia de evento e ficaram até a premiação, que aconteceu no dia 10 de setembro, acompanhando diversos filmes. A produção brasileira estava na seleção da mostra paralela Horizontes. "Para mim, ela é a verdadeira mostra do festival, pois destaca o trabalho dos profissionais jovens, que investem em novas linguagens e realmente apresentam algo interessante no cinema", opina o curitibano, que revela ter tomado contato com muitos dos realizadores dessa seção do evento, como o diretor Matthew Barney, do concorrente Drawing Restraint 9.

O cineasta americano é marido da cantora islandesa Björk, que participa do filme, sua segunda investida como atriz no cinema (estreou em Dançando no Escuro, de Lars Von Trier, pelo qual foi premiada em Cannes). A conversa com a estrela também foi para o lado musical e rendeu a Weber uma lista de pedidos de CDs. "A Björk é muita interessada em música brasileira. Prometi mandar para ela CDs do Beijo AA Força e do Maxixe Machine. Ela também me pediu discos de artistas brasileiros mais antigos, que não têm trabalhos editados na Europa, como a Dalva de Oliveira", revela.

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O ator lembra que Veneza também lhe proporcionou a oportunidade de poder ver de perto nomes do cinema que admira há muitos anos, como a atriz Isabelle Hupert e o diretor Patrice Chéreau (ambos do filme Gabrielle, da mostra oficial). Ele também pôde acompanhar o agito em torno das estrelas hollywoodianas (estiveram em Veneza este ano, entre outros, George Clooney, Matt Damon e Orlando Bloom): "O festival é grande, mas é aquela coisa esperada. Na Europa, o pessoal é mais formal e eles discutem mais o cinema, não ficam só na badalação das celebridades, até porque têm também seus próprios artistas importantes, como lembrou a Susan Sarandon em uma das coletivas do evento", diz.

Árido Movie teve três sessões em Veneza, uma para críticos e jornalistas (da qual a equipe do filme não pôde participar) e duas para o público. "Ficamos sabendo que a da imprensa foi interessante, mas com uma recepção normal, nada eufórica", observa Weber. A coletiva realizada após a apresentação foi muito produtiva segundo o curitibano. Os jornalista fizeram comparações do trabalho de Lírio Ferreira aos de Glauber Rocha e Júlio Bressane, pela realização de um cinema autoral. Houve elogios, também, para a fotografia de Salles. "Falaram que a abertura do filme lembrava a de Terra em Transe, e essa foi mesmo uma referência do Lírio ao Glauber, tanto que a cidade do filme se chama Rocha", revela o ator.

A entrevista se estendeu por quase duas horas e o leque de assuntos se abriu para as diferenças regionais brasileiras. "Explicamos muitas coisas sobre a seleção dos atores, que não foi aleatória. Eu, assim como meu personagem, sou do Sul, uma espécie de estrangeiro naquela região (o filme se passa no sertão nordestino). Esse tipo de sutileza não fica muito claro para eles, que não conhecem as peculiaridades das nossas regiões. Isso se perde no filme e, por isso, foi legal explicar essas questões", continua, dizendo que respondeu muitas perguntas sobre o trabalho de ator no Brasil.

A primeira apresentação ao público foi na sala principal do festival, que tem capacidade para duas mil pessoas e estava com cerca de 60% das cadeiras ocupadas. "Essa audiência é muito boa para a mostra Horizontes. Fomos capa da revista oficial diária do festival um dia antes da sessão e acho que isso ajudou no comparecimento do público, que recebeu bem o filme", informa o ator, lembrando que foi nessa sessão aberta que viu pela primeira vez o longa.

As próximas participações de Weber no cinema serão em Insolação – primeiro longa-metragem do diretor teatral Felipe Hirsch, parceiro do ator na Sutil Cia. de Teatro – e em Ouro Negro – filme de Isa Albuquerque (Histórias do Olhar) sobre o início da exploração de petróleo no Nordeste. Árido Movie terá uma sessão especial de lançamento no Festival do Rio (que se inicia na próxima quinta-feira), poderá fazer parte da seleção principal do Festival de Brasília e vai participar, ainda, do Festival de Roterdã. A produção deve ser lançada comercialmente em março ou abril de 2006.

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