Deve ter ocorrido algum problema de comunicação entre a Fundação Cultural de Curitiba e os produtores de Mônica Salmaso e Paulo Bellinati. De acordo com a divulgação da FCC, o show que a cantora e o violonista realizam hoje e amanhã no Teatro do Paiol se chama Afro-Sambas e tem como base a lendária parceria entre Baden Powell e Vinicius de Moraes. A dupla, no entanto, chega à cidade para mostrar outro repertório. "Não tem nada a ver. O Paulo toca comigo desde o disco Afro-Sambas, de 1995, mas o show que faremos aí é o Alma Lírica Brasileira, com músicas no limite entre o erudito e o popular", explica a intérprete, surpresa com o desencontro de informações.
Confusão esclarecida, Mônica destrincha o conceito da apresentação. "É mais um concerto de voz e violão do que um show propriamente dito. O Paulo tem uma formação forte tanto no erudito como no popular, e o repertório busca essa fronteira", diz a cantora de 35 anos, praticamente uma unanimidade nos circuitos mais "sofisticados" da MPB. Para ela, Tom Jobim é o grande representante nacional desse diálogo. Não à toa, boa parte de Alma Lírica Brasileira é centrada em composições do maestro "Luiza" e "Manhã de Carnaval" são algumas delas. O show/concerto ainda contempla Waldemar Henrique ("Uirapuru"), Orlando Silva ("A Deusa da Minha Rua"), "Wilson Batista" ("Preconceito"), Moreira da Silva ("Risoleta") e Milton Nascimento ("Vera Cruz"), entre outros. "Essa parceria do Milton com o Márcio Borges deve ser a coisa mais contemporânea do show", diverte-se.
Mônica acredita que as barreiras entre erudito e popular não deveriam existir. "É tudo música. A erudita, com sua densidade de estrutura e raciocínio, pode até ser feia. Já a popular, mesmo se for crua, cativa se tiver beleza. Uma não é pior do que a outra. Mas a sofisticação ainda é o limite entre elas", reflete.
Recém-chegada de mais uma turnê européia (que passou por Áustria, Itália, Alemanha, Suíca, Eslovênia e França), a intérprete tem outro motivo para comemorar. Trampolim, seu álbum de 1998, acaba de ser relançado pela gravadora carioca Biscoito Fino a mesma de nomes como Chico Buarque, Maria Bethânia, Francis Hime e Zé Renato. "É uma parte da minha história que está ali. Dava uma dor no coração saber que o disco não estava em catálogo, que as pessoas o procuravam e não encontravam nas lojas", confessa, aliviada.
Pouco conhecida do grande público, Mônica se diz satisfeita com os rumos de sua trajetória. Segundo ela, é um tipo de carreira construída aos poucos, mas que se reverte na formação de um público fiel. "Meus discos não têm música de trabalho, não têm um personagem de novela que ajuda a empurrar uma canção. Talvez por isso durem mais".
Serviço: Mônica Salmaso e Paulo Bellinati no show Alma Lírica Brasileira, que integra a programação de 35 anos do Teatro do Paiol (Pça. Guido Viaro, s/n.°). Hoje, às 21 horas, e amanhã, às 20 horas. Ingressos a R$ 30 e R$ 15 (mais uma lata de leite em pó). Informações pelo telefone (41) 3213-1340.
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