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Dave Eggers: entre a realidade e a ficção | Divulgação
Dave Eggers: entre a realidade e a ficção| Foto: Divulgação

Zeitoun, do escritor estadunidense Dave Eggers, é um livro que nasceu de outro livro, que por sua vez nasceu de uma história. A coleção literária Voice of Witness (Voz de Testemunhas), dirigida por Eggers e que se destina a relatar histórias de violações dos direitos humanos, lançou, em 2005, o livro Voices from the Storm (Vozes da Tempestade). Escrito por Chris Ying e Lola Vollen, a obra é um relato de várias pessoas que vivenciaram o drama de Nova Orleans na ocasião em que o furacão Katrina passou pela cidade, devastando casas e alagando ruas.

Entre os relatos, o da família de Abdulrahman Zeitoun chamou a atenção de Eggers. Zeitoun veio da Síria, casou-se e estabeleceu uma pequena empresa de pintura e reparos domésticos. Quando a chegada do Katrina se tornou iminente, Zeitoun pediu que sua mulher saísse da cidade com seus filhos e buscasse abrigo na casa de parentes, e, como bom homem da casa, permaneceu na cidade para cuidar dos clientes e do lar da família.

A bordo de um bote, ele passou a fazer pequenos resgates em seu bairro depois da inundação da cidade. Até que um mal-entendido fez de Zeitoun mais um personagem na história de injustiças e excessos que marcaram o governo de George W. Bush.

Do breve depoimento, Dave Eggers reconstruiu a trajetória do patriarca, com o auxílio de uma equipe de pesquisadores e muitas entrevistas com a família Zeitoun. O resultado é um livro narrado em forma de romance, que remonta não só o episódio, mas também grande parte do passado de Zeitoun e sua esposa Kathy: a conversão da mulher ao islamismo ainda na adolescência, a vida de Abdulrahman como aspirante a marinheiro e sua vinda para os Estados Unidos.

Sem a pretensão de ser uma biografia nos moldes característicos do gênero, e sem ser também um livro-reportagem convencional, Zeitoun é, antes de tudo, um relato não ficcional que se propõe a analisar o microcosmos de uma família injustiçada. Como acontece na maior parte de casos como esse, a desumanização das vítimas se dá pela incapacidade de não olhar o quadro completo da catástrofe.

Eggers constrói de maneira muito engenhosa uma história ao mesmo tempo cativante e repulsiva, embora às vezes abuse das mesmas imagens e deixe transparecer sua posição panfletária. Tudo tem uma razão: a verba arrecadada com a venda de Zeitoun é destinada à Fundação Zeitoun, que tem como objetivo a reconstrução de Nova Orleans. Um esforço ínfimo, porém necessário. Como o de Zeitoun em seu bote. GGG1/2

Serviço

Zeitoun, de Dave Eggers. Companhia das Letras. 400 págs., R$ 49.

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