O repúdio da crítica já foi mais notório, mas a sentença ainda é válida: desde o levante punk, não há nada mais uncool no mundo da música do que o rock progressivo. Há quem diga que, por trás dos malabarismos sonoros, resta pouca criatividade no gênero; outros se restringem a dizer que progressivo é chato pra caramba mesmo. Com este grupo gosto é gosto , não há muito como debater; quanto à primeira "acusação", no entanto, o show de Jon Anderson em Curitiba, na última sexta-feira, foi excelente para um tira-teima.
Lá estava o homem consagrado como cantor do Yes defendendo muitos dos temas do grupo, mas em posição atípica, sem seus companheiros instrumentistas virtuosos. Acompanhando sua voz, apenas um instrumento a seu próprio cargo: ora violão, ora teclado, ora ukulele.
Essa execução intimista soa tão mais inusitada quando se lembra que o Yes é o grupo de rock progressivo arquetípico, com toda a pompa e grandiloquência características do gênero. Sim, o Pink Floyd é o nome mais conhecido relacionado ao rótulo, mas tem origens distintas, carrega diversas outras influências e, por vezes, se distancia completamente do progressivo strictu sensu. Está para o gênero assim como a cocada está para os doces brasileiros o Yes é uma compota de jabuticaba. Sobreviveria a música do grupo à falta de firulas?
Em alguns dos temas, a simplificação harmônica e a supressão dos contrapontos se fizeram notar: como violonista, Anderson não ficaria no Top 3 de uma rodinha do luau de Ciências Sociais. A "Close to the Edge" apresentada pelo cantor, por exemplo, foi uma sombra da versão original de 1972 para muitos, o ponto máximo do rock progressivo.
Mas houve momentos em que o minimalismo instrumental serviu como prova de que a música do Yes não se restringe a tecnicidades de solos velozes, compassos compostos, quebras de andamento e mudanças de tom: também há simples e belas melodias. "Wonderous Stories" não precisa das toneladas de teclados de Rick Wakeman para ser uma grande canção; "Soon" dispensa os efeitos de guitarra de Steve Howe para soar grandiosa.
Além da música do Yes, houve canções da carreira solo de Anderson e de sua parceria com o tecladista Vangelis, quase todas desconhecidas da plateia. O cantor usou sua presença para reverter um possível mal-estar, puxando corinhos, contando piadas e fazendo troça de suas próprias limitações como instrumentista. Senso de humor surpreendente para um representante do rock progressivo, gênero com fama de se levar a sério demais.
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