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A grande sacada da série é a opção de mostrar os bastidores da Casa Branca e por recorrer a notícias reais para construir os roteiros dos episódios | Divulgação
A grande sacada da série é a opção de mostrar os bastidores da Casa Branca e por recorrer a notícias reais para construir os roteiros dos episódios| Foto: Divulgação

Tevê paga

The Newsroom

Primeira temporada.Todos os domingos, no canal pago HBO, às 21 horas.

Em 1976, o diretor norte-americano Sidney Lumet (de Um Dia de Cão) criou uma das cenas mais emblemáticas do cinema daquele período. Howard Beale (Peter Finch, que morreu logo após finalizar o filme), âncora veterano de um telejornal cujos índices de audiência estão em declínio, é demitido, mas tem a chance de antes se despedir de seus espectadores, se desculpando por ter anunciado ao vivo que iria se suicidar.

Em vez de adotar um tom conciliatório, contudo, Beale muda de ideia e radicaliza: diz que a vida é uma grande bobagem e, por fim, convoca os telespectadores a colocar a cabeça para fora de suas janelas e gritar, a plenos pulmões: "I’m mad as hell, and I’m not going to take it anymore!" ("Estou louco da vida, e não vou mais suportar isso!", em português). Os índices de audiência do programa disparam com a ira do âncora transformada em espetáculo.

Os Estados Unidos viviam, à época, a ressaca da Guerra do Vietnã e do caso Watergate. E a fala explosiva de Beale teve enorme ressonância. Era o desabafo de todo uma nação, indignada com o estado de coisas em um país desgovernado. Rede de Intrigas venceria quatro Oscars, incluindo o de melhor ator, para Finch, e o de melhor roteiro original, concedido a Paddy Chayefsky.

Passados 36 anos, há ecos evidentes do filme de Lumet na série The Newsroom (A Redação, em tradução livre), há quatro semanas no ar pela HBO. Criada por Aaron Sorkin, vencedor do Oscar de melhor roteiro adaptado por Rede Social, retrata os bastidores de um telejornal ficcional exibido por um canal de tevê paga nos Estados Unidos, aos moldes da CNN e do Fox News.

ContextoRede de Intrigas tinha como pano de fundo político o mandato errático do republicano Gerald Ford, que assumiu a presidência depois da renúncia de Richard Nixon, em 1974, em decorrência do escândalo Watergate, retratado em outro grande filme sobre jornalismo lançado naquele mesmo ano, Todos os Homens do Presidente, de Alan J. Pakula.

O contexto histórico de The Newsroom é outro, mas não menos instável: o governo de Barack Obama enfrenta os reflexos da profunda crise econômica que aflige o país, a contínua ameaça do terrorismo dentro e fora do país e a marcação implacável da oposição.

No centro da trama está o âncora Will McAvoy (Jeff Daniels, de A Lula e a Baleia e Laços de Ternura), que tem a ambição de fazer jornalismo isento, crítico e menos vulnerável a interesses comerciais e políticos. Um idealista até certo ponto ingênuo, apesar de sua fachada cínica. Para isso, enfrenta todo tipo de pressão, a começar pela exercida pela CEO de sua emissora, Leona Lansing, vivida pela veterana Jane Fonda (de Amargo Regresso), em grande forma.

Paralelamente, McAvoy também tem de enfrentar obstáculos na sua vida pessoal: seu chefe, Charles Skinner (Sam Waterston, de Gritos do Silêncio) contrata, para ser produtora do noticiário apresentado por ele, a jornalista MacKenzie "Mac" McHale (a inglesa Emily Mortimer, de Ponto Final – Match Point), com quem o âncora tem uma história de amor muito mal resolvida.

Fatos reais

Além dos protagonistas, há um interessante grupo de coadjuvantes, quase todos jornalistas, que vivem tramas paralelas que apimentam The Newsroom. Mas a grande sacada da série acaba sendo a opção de Sorkin, também criador da The West Wing (1999-2006), sobre os bastidores da Casa Branca, por recorrer a fatos noticiosos da vida real para construir os roteiros dos episódios. O derramamento de petróleo no Golfo do México pela British Petroleum, em 2010, a ascensão do The Tea Party, ala conservadora e fundamentalista do Partido Republicano, são alguns deles.

Parte da imprensa norte-americana identificou em The Newsroom a deliberada intenção de, em uma ano de eleição presidencial nos EUA, usar as tramas para falar (bastante) mal dos republicanos, o que tem até sua razão de ser, uma vez que a série tem um evidente tom liberal, pró-democratas. Mas isso não faz de The Newsroom menos interessante. É entretenimento inteligente na linha de outros bons programas atualmente em cartaz, como as ótimas séries Mad Men, sobre o mundo da publicidade nos anos 1960, e Homeland, que retrata os esforços governamentais de proteção doméstica contra o terrorismo.

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