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Autor acompanhou set de Sopranos e as crises de Gandolfini | Divulgação
Autor acompanhou set de Sopranos e as crises de Gandolfini| Foto: Divulgação

Livro

Homens Difíceis

Brett Martin. Tradução de Maria Silvia Mourão Netto. Aleph, 368 págs., R$ 54.

Enquanto todo mundo fala na tal "Era de Ouro da Tevê", um jornalista mais afeito à área de gastronomia se virou para entender – e explicar – o que está acontecendo por trás disso. Um "espectador civil" até então, como se define, o americano Brett Martin usou sua percepção aguçada do cotidiano como base para escrever o livro Homens Difíceis (Aleph), que disseca o ambiente que possibilitou o surgimento de séries como Família Soprano, Breaking Bad, Mad Men e The Wire.

"Como muita gente interessada em artes e cultura eu percebi, conversando com pessoas no trabalho, em festas, na rua, que o assunto mudou. Em vez de filmes e livros, fala-se sobre séries de tevê", diz Martin, em entrevista por telefone, de Chicago.

Na mesma época do tal estalo, ele recebeu a incumbência de escrever uma reportagem sobre o set de Família Soprano para a revista GQ e, como consequência, um convite da HBO para contar em livro os bastidores da série de David Chase, considerada uma das melhores de todos os tempos.

A partir de então, o escritor, que esteve no Brasil em março, durante o RioContentMarket, começou sua missão de entrevistar e perfilar os tais homens difíceis, criadores, produtores e roteiristas dessas séries, os verdadeiros motores de uma revolução televisiva que começou de baixo para cima – e não foi um movimento estudado e encomendado pelos grandes conglomerados de tevê.

Critérios

Para não se perder entre as muitas produções, Martin estabeleceu critérios estritos: séries de canais fechados, com episódios de uma hora de duração, temporadas curtas, anti-heróis como protagonistas e foco no roteiro, em vez da direção, como no cinema, eram alguns deles.

"Em 2009, quando comecei minha pesquisa, duas das quatro principais séries já tinham terminado [Família Soprano e The Wire]. Então foi complicado encontrar as pessoas", conta Martin, que estima ter feito uma centena de entrevistas e teve acesso até ao writer’s room da premiada Breaking Bad durante sua misteriosa reta final, além de ter flagrado os momentos de tensão no set de Família Soprano durante um dos típicos sumiços do astro da série, James Gandolfini.

Para Martin, a televisão tomou uma missão que a indústria cinematográfica de Hollywood "praticamente abandonou" – a de contar boas histórias para adultos –, e todas as mudanças no antes árido cenário televisivo foram orgânicas. "Tendo visto o quão inacreditavelmente difícil é emplacar um programa de tevê, ainda mais um realmente bom, não consigo imaginar que os envolvidos nessas séries possam ter se permitido o luxo de olhar o quadro e perceber que estavam criando uma revolução. Eles só queriam fazer um bom trabalho."

Com as quatro séries-gancho fora do ar desde o fim de Breaking Bad, em setembro de 2013, poucos meses depois de seu livro ser lançado nos Estados Unidos, Martin analisa o todo e não acredita que o fim da saga de Walter White tenha marcado também o fim de uma era.

"O período original, ou mesmo ingênuo, pode ter acabado, de modo que não é tão chocante ver qualidade na tevê, mas acho que ainda há espaço para o próximo programa surpreendente."

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