Ele entrevistou pessoas em surtos psicóticos provocados por drogas, gente que se recusava a falar, mulheres lânguidas em suas camas, gente em vias de ser presa, gente que chorou e o abraçou num surto de carência afetiva. Os nomes dos seus entrevistados: Madonna, Courtney Love, Lady Gaga, Snoop Dogg, Bruce Springsteen, Prince, Motley Crue, Marilyn Manson, Christina Aguilera.
Ele é Neil Strauss, um dos mais famosos jornalistas de rock do mundo. Escreve para a revista Rolling Stone e o jornal The New York Times. Cobriu o suicídio de Kurt Cobain e ganhou prêmios com um perfil de Eric Clapton. Escreveu um best seller, The Game: Penetrating the Secret Society of Pickup Artists. Mas agora foi direto ao coração da tormenta: em seu novo livro, Everyone Loves You When Youre Dead Journeys into Fame and Madness (HarperCollins), o autor faz um exame das circunstâncias em que entrevistou celebridades do pop e do rock, recuperando tudo aquilo que jamais pode escrever em veículos convencionais (incluindo obituários que escreveu e diálogos nonsense com editores e redatores).
"Na idade de ouro do jornalismo cultural, as pessoas queriam saber sobre os rock stars: quem eram eles, o que eles pensavam, como viviam. Nesse tempo, o jornalista de cultura pop era o emissário que ia buscar essas informações. Mas agora o fã não precisa mais dessa intermediação. O rock star se expõe por meio do Twitter, do Facebook, dos blogs. É de fato um novo mundo, mas há um problema: agora, eles mostram apenas o que querem mostrar", analisa Strauss, em entrevista por telefone, de Los Angeles.
Foi assim que o autor resolveu contar os bastidores de 228 entrevistas que realizou (cantores, músicos, atores).
O livro abre com uma antientrevista memorável, a recusa de John Casablancas, do grupo Strokes, em fornecer algumas aspas minimamente razoáveis para um artigo. "Vamos falar sobre música então", lhe diz Strauss. E ele responde apenas: "Pro inferno a música." Ele passou sete dias com Lady Gaga, e a viu desabar e chorar em seus ombros. Comprou fraldas Pampers com Snoop Dogg. Madonna lhe falou sobre morfina, Deus e helicópteros. "Morte é quando você está desconectado de Deus", disse-lhe.
E Strauss enfrentou momentos constrangedores, como quando foi atrás de um velho ídolo do R&B dos anos 50, Ernie K-Doe no bar onde este tocava, e fez a entrevista antes da performance. Quando Ernie K-Doe começou a tocar, ele ligou o gravador para registrar alguma música que lhe servisse de embasamento. O músico enlouqueceu quando o viu fazendo aquilo, e parou o show para tomar-lhe a fita. Também chamou amigos no bar para tomar o equipamento do fotógrafo e chamou a polícia.
Strauss diz que não vê influência nem do gonzo journalism de Hunter Thompson nem do estilo agressivo de Lester Bangs em seu livro. "Tanto Thompson quando Bangs buscam descrever o momento social e histórico naquilo que fazem. O que eu faço é mais tentar entrar dentro da cabeça dos entrevistados, pensar por um momento da forma como pensam, entender o que os faz agir de certa forma e então traduzir isso para os leitores", avalia.
Strauss praticamente abandonou o métier recentemente dedica-se agora a escrever livros, e diz que já tem contrato para escrever mais quatro livros para a editora. O escritor também menciona as dificuldades de se editar uma boa matéria de rock e pop na velha mídia tradicional.
Al Siegal, editor do The New York Times, só permitiu que ele escrevesse a palavra gangsta (gíria usada largamente na América) após descobrir que havia um precedente no próprio jornal. Só que era de 1924. Um outro editor o proibiu de escrever a palavra "homofóbico" argumentando que só um homossexual poderia fazê-lo. "Não se trata de uma vingancinha, não é isso. É apenas a manifestação da minha liberdade atual. Tive de aturar isso durante muitos anos, e agora estou fazendo o que quero. É mais um ato de liberdade do que uma vingança. Mais humor do que raiva."
Serviço
Everyone Loves You When Youre Dead Journeys into Fame and Madness, de Neil Strauss. Editora HarperCollins. R$ 544 págs., US$ 16,99.
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