Nilson Monteiro: como bom repórter, ele soube escutar o que os personagens tinham a dizer| Foto: Marcelo Andrade/ Gazeta do Povo

Romance

Mugido de Trem

Nilson Monteiro. Editora Banquinho, 204 págs., R$ 35.

Sessão de autógrafos

Museu Oscar Niemeyer – Pátio das Esculturas (R. Mal. Hermes, 999 – Centro Cívico), (41) 3350-4400. Dia 5 de agosto, a partir das 19 horas. Entrada franca.

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Uma frase. Uma frase forte e sentida. Uma frase que resume o conflito da alma humana. "Mãe morreu de uma fisgada só e o que restou foi um pai morto". Estas palavras inspiraram e abriram Mugido de Trem, primeiro romance do jornalista Nilson Monteiro. O livro narra a saga nada heroica de uma família de sitiantes. Pessoas comuns, com problemas comuns.

Monteiro não determina onde e quando se passa a história. Pode ser no interior do Paraná, em uma cidadezinha de São Paulo ou em uma vila de Minas Gerais. O escritor dá pistas, confunde. "Foi proposital. Existem várias situações que eu vivi. Algumas foram ampliadas, outras minimizadas ou recriadas", afirma Monteiro. "Não é autobiográfico, mas penso que o escritor transpõe para o livro o que viveu."

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A experiência de quem é jornalista há 42 anos está presente na obra. Monteiro coloca o narrador em segundo plano e deixa os personagens contarem suas histórias. Como um bom repórter, ele sabe escutar o que as personagens do livro querem falar.

Briga de galoUma das passagens mais fortes trata de uma briga de galo. Tão comum no Brasil, apesar de proibida, a disputa reúne pobres e ricos, empresários e trabalhadores. No capítulo 16 de Mugido de Trem, Monteiro narra a disputa de classe reunida em torno de uma rinha, quando o galo de Modesto, agricultor que tem a sabedoria de identificar e criar uma ave campeã, enfrenta o animal do fazendeiro rico.

O capítulo é eletrizante. A construção deixa o leitor preso. O galo cinza do fazendeiro é maior, mas o galo preto de Modesto vem de uma linhagem de vencedores. O embate é sangrento. "O resultado da briga era o menos importante. Eu quis mostrar a brutalidade das pessoas, a questão de classe. Na minha cidade, a rinha de galo era o Maracanã", conta Monteiro, que nasceu em Presidente Bernardes, no interior paulista, começou no jornalismo no extinto Novo Jornal, em Londrina, e vive desde 1986 em Curitiba.

Em Mugido de Trem, Nilson optou por uma linguagem não linear, "que não fosse uma novela". O livro teve uma lenta gestação e, segundo Monteiro, está concluído desde 2009. Alguns capítulos foram publicados no periódico Cândido, da Biblioteca Pública do Paraná. A receptividade estimulou o autor tirar da gaveta a obra, que ganhou ilustrações de Fabiano Vianna e tem prefácio de Roberto Gomes, colunista da Gazeta do Povo.