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Terça Insana apresenta espetáculo 8 Anos Luz em Curitiba | Priscila Prade
Terça Insana apresenta espetáculo 8 Anos Luz em Curitiba| Foto: Priscila Prade

O espetáculo de humor Terça Insana volta a Curitiba para duas apresentações, nesta sexta-feira (3) e sábado (4), no Grande Auditório do Teatro Positivo. A turnê em comemoração aos oito anos do grupo, Terça Insana - 8 Anos Luz, traz novidades como sete novos personagens e 12 cenas inéditas. Em entrevista à Gazeta do Povo Online, por telefone, a atriz, diretora artística e criadora do show Grace Gianoukas contou que o segredo do sucesso é inovar sempre e fazer um humor inteligente, crítico e sem apelos. "Nosso público se interessa por coisas diferentes, assiste cinema europeu e não consome novela e Zorra Total", disse Grace.

A atriz explica que em São Paulo há uma central de criação que monta um espetáculo diferente a cada mês, com assuntos e personagens novos, para que o show apresentado todas as terças-feiras na capital paulista não caia na mesmice. "A proposta é ter uma criação constante, e é proibido se acomodar", contou.

Grace também conta que o Terça Insana nunca teve a pretensão de ser o sucesso que é hoje, mas foi criado simplesmente porque precisava existir algo que fosse diferente de imitações, piadas prontas e do humor preconceituoso que sempre existiu. "Minha ideia com o espetáculo nunca foi que ele ficasse desse tamanho."

A diretora diz ainda que o Terça Insana recebe constantemente inúmeros convites para ir para a televisão, mas que seria inviável fazer um programa no formato atual e, por isso, o espetáculo teria que sofrer muitas adaptações. Grace conta que depois de muita insistência até gravaram um piloto com o que seria a versão do Terça Insana para a TV, mas o resultado foi tão diferente e incomum que não foi aceito, pois segundo ela, "a televisão aberta trabalha com entretenimento e o Terça Insana, com arte".

Quem for ao Teatro Positivo nesta sexta e sábado às 21h vai apreciar um show totalmente diferente do apresentado na capital em 2008. Em 8 Anos Luz, o espectador encontra personagens que fazem rir e refletir, como a fada, interpretada pela própria Grace que fala sobre novas doenças, remédios e descobertas inúteis da ciência, e Vicente, um homem vindo do interior que adora rock n’ roll e relembrar os casos da adolescência, interpretado por Guilherme Uzeda.

Confira a entrevista na íntegra:

O Terça Insana já existe há oito anos, o que fazer para não cair na mesmice?

Nós criamos sempre. Em São Paulo temos um projeto que a cada mês cria um espetáculo completamente diferente, inspirado em um tema que dá margem a novos personagens e textos. Também estamos sempre pesquisando e inventando. É um projeto que tem como proposta uma criação constante, e é proibido se acomodar. Nós também temos um controle de qualidade muito grande em relação a tudo: texto, mensagem e conteúdo. É um humor bastante crítico, sem baixar o nível.

O que mudou no espetáculo desde a primeira apresentação há oito anos?

Não mudou nada e mudou tudo, porque as diretrizes continuam as mesmas e o formato se mantém, mas como a proposta é renovar, o elenco se renova, os textos e as ideias.

E quais são as novidades na temporada 8 Anos Luz?

São muitas novidades. O espetáculo é uma coletânea de grandes momentos nas apresentações de São Paulo. São 14 cenas, dentre as quais 12 são completamente novas.

Para as apresentações em Curitiba, todos os personagens serão diferentes dos que vieram em 2008? Tem algum já conhecido do público?

Dos 10 personagens, apenas três já passaram pela turnê: a TPM, o Açougueiro e o Boliviano, personagem do primeiro DVD, mas com novas aventuras. Os demais são todos novos. Tem a Fada, a Economista, a Leila e Laila que são duas amigas interpretadas por mim e pela Agnes que enlouquecem uma a outra. Tem também um super herói que é um ímã de gente chata, a Margarida, que é uma varredora de rua que faz coleta seletiva e comenta sobre a reforma ortográfica e as pérolas que a falta de cultura proporciona, e vários outros.

Quais personagens você interpreta? Como são eles?

Para esse show eu interpreto três personagens: uma economista, a Leila e a Fada, que fala sobre novas doenças, remédios e descobertas inúteis da ciência.

Entre todos os personagens, é possível eleger um favorito do público?

Depende do momento, das pessoas e do que elas esperam do espetáculo. Tem personagens que provocam gargalhadas e têm outros que são feitos para as pessoas refletirem. É difícil falar sobre um favorito.

E qual é a fonte de inspiração para escolher os temas e criar personagens tão diferentes?

A fonte é o mundo. De uns tempos pra cá somos bombardeados com informações. Metade não presta para nada, mas muita coisa pode ser usada. Existe uma necessidade humana de compartilhar tudo, e por isso recebemos um absurdo de informações. É daí que surgem as opiniões e as ideias para novos personagens.

No espetáculo, quanto é improviso e quanto é roteiro?

No Terça Insana existe um roteiro, que é testado e ensaiado pelos atores. É claro que se acontece alguma coisa na plateia, podemos aproveitar. Mas não é improviso, seguimos o roteiro.

Vocês fazem o tipo de humor que não apela para preconceito e imitações, o que é uma fórmula certa que atrai ou atraía muito público. A ideia de um espetáculo com "humor inteligente" não pareceu um tanto arriscada no começo?

Não, porque eu não estava fazendo para o público. O Terça Insana foi criado porque tinha que existir. Minha ideia com o espetáculo nunca foi que ele ficasse desse tamanho, era para ser uma peça entre atores e hoje nós recebemos inúmeros convites para participações e para televisão.

E interessa ao Terça Insana ir para a televisão?

Não. Para o Terça Insana a questão não é dinheiro, é conteúdo. O espetáculo não seria viável para a TV do jeito que é hoje. A televisão aberta trabalha com entretenimento e nós, com arte. Depois de muita insistência, fizemos um projeto e gravamos um piloto com adaptações para o que imaginamos que seria o Terça Insana para a TV. Ficou tão original e diferente que não aceitaram. Foi bom porque pararam de "encher o saco". No teatro nós falamos de tudo, de empresas, por exemplo, e na televisão trabalham com patrocinadores. Nós lidamos com a verdade que a televisão não mostra porque tem "rabo preso" com patrocinador. E também não é o público. Nosso público se interessa por coisas diferentes, vai ao cinema europeu e não consome novela e Zorra Total. Por outro lado, nós também fazemos várias participações, eu, por exemplo estou fazendo uma participação para o Toma Lá da Cá. O texto é do Falabella mesmo e, como atriz, é uma delícia, mas como autora e diretora não. Minha produção é diferente o que não desmerece o que passa na TV. Mas o Terça Insana não cabe na televisão aberta.

Nomes como Marcelo Médici e Marco Luque já passaram pelo Terça Insana e hoje fazem muito sucesso na televisão. Pode-se dizer que o show é uma porta de entrada para a TV?

O show é uma porta para mostrar o seu talento. O Marcelo Médici, por exemplo, é um ator genial, com um talento incrível e muita versatilidade, que passou pelo Terça Insana, criou seus personagens e hoje tem seu próprio espetáculo. O Terça Insana é uma escola de formação de autores que promove, lapida e desenvolve o potencial dos atores.

Como é feita a escolha do elenco?

Para estar no Terça Insana o ator tem que ter versatilidade, muita opinião e originalidade. A pessoa também precisa ter muita disposição para mergulhar nisso, discutir e filosofar, e ter talento para escrever. Talento esse que vem da leitura para construir uma opinião original. Às vezes nós também recebemos convidados que tem um trabalho bom.

Que atores permanecem desde o início?

Só o Roberto Camargo e eu, até porque a proposta é renovar. Como o Roberto é meu braço direito, ele ainda está comigo e me ajuda a segurar essa onda. O Terça Insana era um projeto completamente despretensioso que cresceu de um jeito que agora eu trabalho todos os dias da semana com uma equipe de 20 pessoas. Juntando todo mundo: equipe, funcionários e colaborados, temos mais que 40 pessoas. É uma coisa muito grande e eu, como empresária, preciso de alguém para ser o braço direito também no lado artístico.

O público de Curitiba é muito diferente do de São Paulo? Vocês precisam adaptar piadas para que elas façam sentido aqui?

Não. Hoje em dia o mundo está globalizado. Nós apresentamos até em Portugal em 2004. Trabalhamos uma coisa universal, claro que se for uma piada muito local, ela deve ser adaptada, mas são as mesmas informações.

Você já fez alguma apresentação em que o público simplesmente não riu ou não entendeu o personagem? Como lidar com isso?

Milhares de vezes. Mas quando você tem certeza do que está falando e do que há por trás da personagem, você vai até o fim. A pessoa não precisa gargalhar no Terça Insana, a pessoa pode sorrir. Tem gente que não entende nada, mas também não volta. Eu faço umas personagens meio chocantes, como a Cinderela, uma traficante e a Advogada do Diabo. Quem está acostumado a ver coisas mais óbvias na televisão e humor preconceituoso, não gosta. Tem um lado do Terça Insana que é radical, que é uma delícia e que tem que existir. São vários tipos que não são comuns às pessoas. Mas sempre tem quem gosta de Ramones e quem gosta de Kelly Key; quem gosta de ópera e quem gosta de Ivete Sangalo.

O público tira fotos, grita e bate palmas durante o espetáculo. O que atrapalha a concentração dos atores em cena?

Nós sempre pedimos para que não tirem fotos porque o flash atrapalha e quando vemos, estão gravando. Quando as pessoas gravam, o produto final é de péssima qualidade e não é isso o que queremos divulgar. Acaba sendo uma coisa que denigre nosso trabalho e por isso nós colocamos imagens no site que tem qualidade e passam a ideia necessária para que o público entenda do que se trata o personagem. Além disso, a pessoa que fotografa pode cortar a imagem, editar, fazer o que quiser e alterar o contexto completamente, e isso não é ético. É um conteúdo original, de propriedade do autor e não da pessoa que filma e fotografa.

O que esperar das apresentações em Curitiba?

Eu espero que pelo menos umas quatro pessoas apareçam. Vai ter personagens para vários gostos e entendimentos, e eu acho que nossos fãs e as pessoas que compreendem nosso trabalho vão gostar dos novos personagens.

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