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HQ

As Diabruras de Quick e Flupke – Vol. 2

Hergé. Globo Livros, 152 págs. R$ 39,90. Humor

O nome do belga Hergé remete imediatamente ao de sua criação mais famosa, o repórter mirim Tintim, que em 2011 ganhou uma adaptação cinematográfica nas mãos de Steven Spielberg. O quadrinista, no entanto, tinha um repertório de outros personagens. Entre eles, as crianças Quick e Flupke, cujas histórias estão reunidas na coletânea As Diabruras de Quick e Flupke – Vol. 2.

Conhecidos em Portugal como Quim e Filipe, os personagens são dois meninos problemas, tipo consagrado em tiras norte-americanas como Peanuts e Dennis, o Pimentinha. Em curtas histórias, eles costumam provocar desencontros, brigas e confusões com vizinhos. Sempre com a melhor das intenções. A vítima mais recorrente é um policial que ronda a rua em que moram. A dupla foi desenhada por Hergé no suplemento infantil Le Petit Vingtième entre 1930 e 1940.

Por que ler? Além do belo traço do artista belga, a coletânea também é um delicioso retrato sobre como se pensava o público infantil há 70 anos. Frutos de seu tempo, os quadros apresentam as crianças portando armas de fogo, explosivos e destruindo patrimônio alheio. Ações inconcebíveis em histórias infantis atuais.

Livro

O Médico Alemão

Lucia Puenzo. Tradução de Gílson Soares. Gryphus, 174 págs., R$39. Romance

A América do Sul, em especial a Argentina, foi o destino preferido dos criminosos nazistas que conseguiram sobreviver à Segunda Guerra. Muitas histórias (e algumas lendas) foram contadas sobre este período. E a mais interessante de todas serviu de argumento para este ótimo romance. A trama se passa no verão de 1960 em uma região remota da Patagônia argentina. Uma família dona de um hotel conhece um médico estrangeiro carismático. Ele se encanta pela filha mais nova, a pequena Lilith, com problemas hormonais que a impedem de crescer. O médico se dedica a tratar e estimular o crescimento da menina até que se descobre sua verdadeira identidade, Josef Mengele. O anjo da morte, médico do Reich famoso por suas cruéis experimentações biológicas.

Preste atenção: o livro é um thriller psicológico cativante e assustador. A autora, uma das mais importantes escritoras argentinas da nova geração, curiosamente, transpôs pessoalmente a obra para o cinema escrevendo o roteiro e dirigindo o belo Wakolda, que concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro deste ano.

Exposição

MAC – Um Acervo Restaurado

Museu de Arte Contemporânea (MAC) (R. Des. Westphalen, 16 – Centro), (41) 3323-5328. Visitação de terça a sexta-feira, das 10h às 19 horas. Sábado e domingo das 10h às 16 horas. Entrada franca. Até 31 de agosto

Um bom motivo para visitar o MAC é poder ver obras do acervo, antes danificadas pelo tempo, totalmente restauradas e prontas para serem exibidas ao público. Estão no conjunto de 41 trabalhos, restaurados pelas profissionais Jozele Penteado e Ângela Zampier, obras como a da pintora e gravadora paranaense Dulce Osinski (foto), de 1990, e também dos artistas Fernando Calderari, Helena Wong e Luiz Carlos Brugnera. O conjunto traz não somente obras em tela e papel, mas também conta com uma instalação do catarinense Luiz Henrique Schwanke (1951-1992). Além do valor artístico do acervo, a mostra consegue mostrar o quanto o processo de recuperação foi necessário: por toda a exposição, ao lado de cada uma das obras, há uma explicação com fotografias e textos, que mostram um "antes e depois" dos trabalhos.

Preste atenção: na obra Significante – Significado II, do chileno Hugo Zanzi, um óleo sobre madeira de 1975, uma das obras mais importantes do acervo do MAC, vencedor do 32º Salão Paranaense. Áreas com craquelês, perdas na pintura e até uma dobra na tela eram os problemas pré-restauração.

CD 1

Pe’ahi

The Raveonettes. Beat Dies. US$ 19,90 (importado). Noise pop

O sétimo álbum do duo dinamarquês The Raveonettes foi uma surpresa. Primeiro porque não havia pistas sobre o novo disco. Ele saiu assim, de supetão. Depois porque, ora, é um baita registro, que faz jus à carreira consistente dessa dupla nórdica.

Pe’ahi apruma as referências da banda – em especial o Velvet Underground – e, sem medo, potencializa suas características tão conhecidas. As camadas de guitarra, os vocais sobrepostos e complementares, a massa sonora que consegue incrivelmente lembrar ora um simplista rock dos anos 1950 ora um projeto de Skrillex.

Sune Rose Wagner (guitarra e voz) e Sharin Foo (baixo e voz) vão bem desde o início. "Endless Sleeper" parece surgir do espaço, mesmo que haja lacunas para pequenas fanfarras. "Sisters" também começa sônica, e torna-se incrivelmente angelical, com o que parecem ser harpas prenunciando o fim do mundo. Há vez para os moderninhos: "Killer in the Streets" poderia tocar naquela balada de sexta-feira, enquanto "Z-Boys" lembra a suntuosidade de Mercury Rev.

Pe’hai, assim, coloca-se entre os melhores registros dessa banda comprovadamente original. Estaria, por exemplo, entre os ótimos Chaing Gang of Love (2003), seu debute, e Lust Lust Lust (2007), considerado por seu pequeno e fiel grupo de fãs como o melhor registro. Vá sem medo.

cd 2

Quente

Saulo Duarte e a Unidade. YB Music. Preço médio: R$ 20 (CD) e R$ 60 (Vinil). Ouça em sauloduarte.com.br. Rock/Regional

Cantor e compositor paraense criado em Fortaleza e atualmente radicado em São Paulo, Saulo Duarte lança seu segundo disco ao lado dos parceiros da Unidade – Klaus Sena (baixo), Beto Gibbs (bateria), João Leão (teclado) e Tulio Bias (percussão). Viabilizado por um projeto de financiamento colaborativo, Quente reafirma a mistura das influências de ritmos da América Central e Latina com outros elementos da música popular. Com participações de 26 convidados – entre instrumentistas e cantores como a também paraense Luê e o cantor e baterista Curumin –, Saulo apresenta 11 faixas, quase todas de sua autoria, com letras e melodias interessantes e arranjos sofisticados – um deles, da faixa "Flores Pelo Ar", com a incomum participação de steel drums, tocada pelo músico guianense David Hubbard.

Por que ouvir? A invasão da guitarrada, lambada e carimbó que ganhou visibilidade nos últimos anos no Brasil não é novidade. Mas, para quem se interessou de verdade pela enorme força criativa e diversidade deste movimento, o trabalho de Saulo Duarte e a Unidade é uma ótima pedida.

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