Documentário
20 Centavos
(Brasil, 2014). Dirigido por Tiago Tambelli. 53 minutos. Produtora Lente Viva. Disponível no catálogo do Netflix (www.netflix.com).
Pouco mais de um ano se passou e os protestos de junho de 2013 já estão rendendo produtos culturais nas salas de cinema e nos serviços de streaming. Um dos mais recentes é o documentário 20 Centavos, que estreou no Netflix há algumas semanas. Em 53 minutos, o filme faz uma radiografia das manifestações que tomaram conta do país.
A produção segue a linha do documentário Junho O Mês Que Abalou o Brasil. Com direção de Tiago Tambelli, a narrativa condensa registros em alta definição de vários cinegrafistas durante alguns dias do movimento. Não há tentativa de dar sentido ao que ocorreu, apenas mostrar que foi por mais do que pelos 20 centavos do preço passagem de ônibus.
Preste atenção: em duas cenas. Em uma delas, um policial é encurralado e espancado por vândalos. A imagem é angustiante e cheia de significados sobre a truculência de alguns manifestantes e das forças policiais. Em outra, há um debate dentro de um protesto no Centro de São Paulo. Pacifistas tentam impedir depredações e defendem integrantes do movimento que portam bandeiras enquanto são agredidos verbalmente e fisicamente por radicais mascarados. "Aqui só não está confuso quem não está bem informado", brada um personagem diante da discussão. (RS)
Livro 1
Cinquenta Anos Esta Noite: o Golpe, a Ditadura e o Exílio
José Serra. Record, 266 págs., R$ 30. Memórias.
O ex-governador de São Paulo José Serra era presidente da UNE quando ocorreu o golpe militar de 1964. No contexto da época, a posição dava a ele um espaço privilegiado na vida política brasileira, o que incluía conversas pessoais com o presidente da República e participação em reuniões em que políticos eleitos discutiam os rumos do país.
Serra tinha apenas 22 anos, mas estava de tal forma envolvido com o movimento social que podia circular dentro do cenário político com naturalidade. Suas memórias do período registram minuciosamente os eventos que precederam o golpe e o exílio do presidente Jango e os primeiros meses da ditadura, além de suas próprias impressões sobre o que ocorria, tudo com um texto muito claro e competente.
Por que ler? O ponto de vista de Serra é ao mesmo tempo o do estudante imerso no ambiente político de 64 quanto o do político experiente, 50 anos e vários cargos eletivos depois. A riqueza de detalhes faz do livro uma boa obra de referência sobre o golpe, mas também pode dificultar um pouco a leitura. (MS)
Livro 2
De Profundis
Oscar Wilde. Tradução de Cássio Arantes. Tordesilhas, 208 págs., R$ 32,50. Carta.
É um Wilde diferente, mas não menos intenso. O deboche e a extravagância, características que o fizeram até popular, dão lugar a profundas reflexões, sejam elas pessoais, sociológicas e até religiosas. Pouco conhecido e estudado no Brasil, De Profundis é uma extensa carta escrita pelo irlandês durante o tempo em que esteve preso. Foi na Londres de 1895 que Wilde viu sua fama e prestígio ruírem ao ser condenado a dois anos de prisão sob a acusação de "indecência grave", devido a seu relacionamento com o jovem estudante Lord Alfred Douglas.
Endereçada ao próprio Douglas, cujo apelido era Bosie, a epístola não só faz um relato da conturbada relação de amor e ódio entre os dois, mas também apresenta momentos de clareza ímpar, a partir de uma espécie de autoanálise involuntária.
Preste atenção: Com seu virtuosismo verbal, Wilde vai além e lamenta a hipocrisia da sociedade vitoriana em relação a questões como o amor e a sexualidade. Estranho é que o escritor tenha sido absolutamente enjeitado por aquela mesma aristocracia que um dia o idolatrou. (CC)
Livro 3
Um por Um 101 Encontros Extraordinários
Craig Brown. Tradução de Renato Marques. Três Estrelas, 535 págs., R$ 39. História.
O genial dramaturgo e escritor Bernard Shaw foi um entusiasta do uso da bicicleta na década final do século 19. Porém, era notório pela falta de equilíbrio ao pedalar e em uma tarde qualquer colidiu sua bicicleta com o filósofo Bertrand Russel. O mágico Harry Houdini iludiu com um truque o presidente americano Theodore Roosevelt. Oscar Wilde marcou um jantar com Marcel Proust mas saiu correndo, em pânico, ao descobrir que os pais do francês também estariam presentes. Michael Jackson teve náuseas depois que Madonna colocou a mão do astro em seus seios.
A vida é mesmo a arte do encontro e a descrição destas ligações perigosas entre personagens fundamentais da história são o conteúdo do delicioso livro arquitetado pelo jornalista Craig Brown.
Preste atenção: São, ao todo, 101 encontros de gente como James Dean, Paul McCartney a o czar Nicolau II e Josef Stálin. Cada encontro é descrito em 1.001 palavras e o personagem coadjuvante do primeiro encontro torna-se o principal do segundo, formando um ciclo que surpreendentemente se fecha. (SM)
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