Rio de Janeiro – Mesmo tendo inovado a linguagem da televisão brasileira com Hoje É Dia de Maria, microssérie da Globo exibida em janeiro passado, o diretor Luiz Fernando Carvalho fez questão de não se repetir. A segunda fase do projeto, que estréia dia 15 de outubro, está cheio de mudanças criativas. A mais notável pode ser percebida na narrativa, muito mais próxima de um musical.

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Além disso, os atores, embora sejam quase todos os mesmos, vivem novos papéis, que conservam as características dos anteriores. Novas referências artísticas também se juntaram à produção, que se apropria de uma linguagem plástica mais moderna e contemporânea. A história possui um novo objetivo. Pretende resgatar aspectos do folclore brasileiro, mas também questionar os valores deturpados da sociedade urbana.

Depois de ter sido hipnotizada pelas franjas do mar e devolvida à terra em um lugar desconhecido, Maria, vivida por Carolina Oliveira, cai dentro da boca de um gigante e vai parar no lixão de uma movimentada metrópole. Ao chegar lá, precisa enfrentar a guerra e novos tipos de demônios e encontrar o rumo de volta para casa. Para ajudá-la na nova missão, ela conta com o apoio do poeta e andarilho Dom Chico Chicote (Rodrigo Santoro) e de dr. Copélius (Osmar Prado), dono de uma loja de brinquedos.

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Quase todos os diálogos são músicas, cantadas pelos próprios atores, em solos, duetos ou coros. A série conta com mais de 50 letras originais criadas pelos autores Luís Alberto de Abreu e Luiz Fernando Carvalho, com composições do maestro Tim Rescala. "A música faz parte do nosso espírito e da nossa brasilidade. Nos próprios contos de Câmera Cascudo, existe uma presença musical forte", explicou o diretor ao Caderno G, em entrevista coletiva realizada no Rio de Janeiro, no Projac.

A atriz curitibana Letícia Sabatella será a espanhola Alonsa, grande paixão do sonhador Chico Chicote. A personagem é inspirada em poemas de Helena Kolody e o figurino, no trabalho da artista de rua curitibana Efigênia, feito com papéis de bala e materiais alternativos. "Todos os personagens tem um pé na loucura e na infantilidade", acredita Letícia.

O elenco, que também conta com Fernanda Montenegro, Ricardo Blat, Stênio Garcia e Daniel de Oliveira, entre outros, está encantado com a possibilidade de participar de mais uma "loucura saudável" de Carvalho. O projeto, que levou dez anos para ser concretizado, será transformado em livro e longa- metragem.

Embora o diretor não acredite que esteja fazendo algo de novo na televisão brasileira, a "dama do teatro" Fernanda Montenegro discorda: "O que fazemos aqui não existe mais. A série resgata uma forma de criar e produzir artesanal e sincera. É uma loucura que deu certo", diz.