A famosa casa de punk-rock CBGB vai fechar as portas em breve, o que para alguns nova-iorquinos significa o fim de um lugar lendário, e para outros simboliza o processo de sofisticação de mais um bairro de Manhattan.
Sob o toldo vermelho do clube na noite de quinta-feira, vários jovens músicos fumavam e lamentavam a perda daquele lugar úmido e sujo, inaugurado em 1973. O último show, de Patti Smith, está marcado para domingo.
Os Ramones e os Talking Heads já tocaram ali. Deborah Harry, vocalista do Blondie, se apresenta no sábado no clube, cujo nome completo é CBGB & OMFUG, sigla para "Country Bluegrass Blues and Other Music For Uplifting Gormandizers", ou seja, "country, blues, bluegrass e outras músicas para levantar os comilões".
- Fica mais difícil de ver quando a gente não está no ombro dos gigantes - disse o músico Ben Meyerson, de anos 20.
- Onde é que a gente vai ficar bêbado agora? - queixava-se seu amigo Peter Kalaitzidis, de 21.
Para eles, o Bowery é mais um bairro de Manhattan a sucumbir aos interesses comerciais, depois que redes com os cafés Starbucks superlotaram os pontos do vizinho East Village, há alguns anos.
- Estão vendendo isso aí, preparando para gente mais empresarial - disse Kalaitzidis.
O Bowery costumava ser conhecido por seus cortiços e bêbados, ou "Bowery bums", vagabundos do Bowery, um termo imortalizado na canção "Better Off Without a Wife", de Tom Waits. Hoje em dia, porém, a rua Bowery está repleta de caríssimos prédios de apartamentos, feitos em vidro e aço, deixando muitos moradores com saudades do tempo em que o CBGB simbolizava a agitação do lugar.
- O Bowery tinha reputação de favela, e agora é todo de aço e vidro - disse o poeta e historiador Michael Logan antes de um recente espetáculo no The Bowery Poetry Club, em frente à casa de punk-rock. - Percebemos que este seria o último lugar de Manhattan a ser 'melhorado' e virar burguês.
Logan lembra que há não muito tempo ainda se viam bêbados, estacionamentos vazios e pensões baratas. Hoje em dia, o que há são bares da moda e lugares para celebridades.
Muitos, como o CBGB, foram expulsos pelo preço do aluguel.
Hilly Kristal, dono da casa, disse que fundou o CBGB há 33 anos porque o aluguel era barato. Ele queria um lugar para música country, blues e "bluegrass", mas, naquela Nova York do começo da década de 1970, o punk logo dominou o lugar, lançando nomes como Television e Patti Smith.
Segundo ele, a mudança do bairro aconteceu "muito gradualmente, mas abruptamente nos últimos dois anos". Várias pequenas lojas e restaurantes também fecharam.
Para alguns, o fechamento do CBGB é o resultado das mudanças naturais do movimento artístico, que fez alguns passaram de Manhattan para o Brooklyn.
Logan lembra que nem todo mundo está chateado.
- Se você perguntar para o Donald Trump, ele dirá 'ótimo' - disse ele, brincando que o bairro pode mudar de novo. - Todo este vidro e aço será o cortiço dos sem-teto do futuro.
Mas para Kristal e o CBGB, isso não importa. O proprietário espera reabrir a casa em Las Vegas, levando muitos dos itens originais consigo, inclusive os mictórios.
Leia mais: O Globo Online
Congresso mantém queda de braço com STF e ameaça pacote do governo
Deputados contestam Lewandowski e lançam frente pela liberdade de expressão
Marcel van Hattem desafia: Polícia Federal não o prendeu por falta de coragem? Assista ao Sem Rodeios
Moraes proíbe entrega de dados de prontuários de aborto ao Cremesp
Deixe sua opinião