Nana Caymmi, em tributo a Dorival lançado no ano passado, aparece fadista, carregada de memórias familiares as vozes da mãe e do rádio , na canção "Francisca Santos das Flores", de seu pai. Assim como Caetano Veloso no disco "Caetano e Chico juntos e ao vivo", de 1972, quando canta sua "Os Argonautas". Antes e depois, Bibi Ferreira vem iluminando Amália Rodrigues há anos. Pelo afeto, pelo abraço tropicalista ou pela tradição, fado e MPB carregam uma relação muito mais complexa do que pode parecer sob um olhar apressado relação que funciona quase como metáfora das proximidades e distâncias entre Brasil e Portugal.
Canto (Som Livre/MPB), álbum de Carminho que será lançado no fim deste mês, é uma forma bonita de entender essa troca entre os países. E não apenas porque o terceiro disco da cantora que fala em Nelson Cavaquinho e Cartola para fazer paralelo entre as tradições do fado e do samba traz músicas inéditas de Caetano (em parceria com seu filho Tom e César Mendes) e Marisa Monte (com Arnaldo Antunes), além da participação de Dadi, Carlinhos Brown, Naná Vasconcelos e Jaques Morelenbaum, entre outros. Mas porque o Brasil está presente nas raízes (termo caro a ela) mais profundas do projeto.
"O disco traz uma veia que tenho, ainda fininha e tímida, mas que assumo com responsabilidade: escrever e agora, pela primeira vez, compor música. Já o fazia, mas nunca tinha tido a confiança para expor. Isso aconteceu muito como fruto das minhas experiências no Brasil", revela a cantora. "Há muita liberdade aqui, de pensamento, de composição, de escrita, de parceria. Artistas mais velhos cantam artistas mais novos, homens cantam palavras de mulheres, mulheres cantam as palavras dos homens. Tudo isso é de uma liberdade que me inspira, mesmo que eu não vá à literalidade desse espírito brasileiro, porque também tenho a minha identidade."
O aprofundamento de sua história no Brasil gerou vários diálogos. Carminho gravou com Chico Buarque, Milton Nascimento e Nana ("Ela é minha meta como intérprete", diz) para a edição brasileira de Alma, seu segundo disco. Também cantou "Sabiá" com António Zambujo (outro português que traça uma relação entre as tradições e a produção contemporânea dos dois países).
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