Faltam apenas quatro semanas para a estréia nos cinemas dos Estados Unidos de "Milk", o relato de Gus Van Sant sobre o primeiro político californiano declaradamente gay. Mas não se vê nenhum indício disso.
Diferentemente do rebuliço que cercou o filme de temática gay anterior da Focus Features, "O Segredo de Brokeback Mountain", que já atraía críticas de setores da direita meses antes de sua estréia em 2005, praticamente não se ouviu até agora um pio sobre "Milk" nas páginas editoriais ou nos programas de entrevistas.
É claro que a eleição presidencial está dominando todas as atenções. Mas outro fato é que a Focus está deliberadamente evitando publicidade para o filme estrelado por Sean Penn, mantendo-o fora dos festivais de cinema famosos do outono e limitando ao máximo as sessões em que é exibido para a mídia.
Abrir mão da divulgação boca a boca, visando evitar a difusão de opiniões infundadas, não é típico. Basta ver a eficácia com que a Lionsgate divulgou filmes politicamente carregados como "W.", a cinebiografia de George W. Bush dirigida por Oliver Stone, ou o documentário "Religulous", de Bill Maher. Mas a Focus se dispôs a assumir esse risco.
Em todo caso, o silêncio em torno de "Milk" não vai durar muito tempo. A bola política começará a rolar quando o filme fizer sua pré-estréia, na noite de terça-feira em San Francisco, e continuará após a eleição de 4 de novembro. E, quando isso acontecer, o estúdio se verá diante de um dilema de marketing: como promover o tema dos direitos dos gays, que o público-alvo espera ver destacado, e ao mesmo tempo atrair o público majoritário, que poderia não se sentir imediatamente seduzido por um filme sobre esse tema.
Depois da eleição presidencial, a divulgação do filme também terá que se manter acima da política. A Focus pretende divulgar "Milk" em parte como uma história de esperança e mudanças (Harvey Milk, membro do Conselho de Supervisores de San Francisco que foi assassinado em 1978, conquistou árduas batalhas pelos direitos iguais para gays), assim como vendeu "Brokeback Mountain" como uma história de amor.
A estratégia era lógica no caso de "Brokeback Mountain", mas não é igualmente evidente no caso de "Milk."
Como "Brokeback Mountain", "Milk" traz à tela um romance gay. Mas, diferentemente do primeiro filme, "Milk" foi feito por cineastas gays, é estrelado pelo polarizador Sean Penn e se coloca diretamente num contexto político. A luta de Harvey Milk contra a Proposta 6, contra os direitos dos gays - drama tratado em grande detalhe no filme - traz paralelos com a atual luta na Califórnia em torno da Proposta 8, que pretende proibir os casamentos entre gays.
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