Perfil
Saiba mais sobre Marcos Cordiolli, o novo presidente da Fundação Cultural de Curitiba (FCC):
Nascido em Maringá, 49 anos.
Vive em Curitiba desde 1979.
Formado em História pela UFPR (1988)
Mestre em Educação pela PUC-SP (1997).
Professor universitário, consultor e cineasta.
É também produtor de filmes como Curitiba Zero Grau, de Eloi Pires Ferreira, e Brichos A Floresta É Nossa, de Paulo Munhoz, ambos lançados no ano passado.
Ligado ao PT, coordenou programas de governo das candidaturas a prefeito de Ângelo Vanhoni (PT) e de Gleisi Hoffmann (PT).
Foi assessor técnico da Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados e assessor da diretoria da Agência Nacional do Cinema (Ancine).
O recém-empossado gestor da Cultura na cidade quer unir forças e criar novas alternativas de financiamento da produção local. Cineasta, Marcos Cordiolli (veja mais no quadro ao lado) vai focar ações no incentivo à leitura. Saiba mais sobre os projetos do novo presidente da Fundação Cultural de Curitiba (FCC) na entrevista a seguir:
O que muda na sua gestão à frente da FCC?
Temos três desafios principais. Um deles é criar políticas estruturantes de preservação do patrimônio material e imaterial da cidade. Precisamos também criar uma estrutura que garanta aos nossos artistas não apenas a chance de viver do seu trabalho, mas que a cidade possa desfrutar disso de forma permanente.
A produção local, em geral tem qualidade, mas tem problema de autosustentabilidade. Por fim, precisamos fazer com que nossa qualidade artística tenha visibilidade fora de Curitiba e até no exterior.
Há como induzir isso por meio de políticas públicas?
Sim. Nosso conjunto de editais de fomento é focado na produção de obras. Podemos redirecionar para a distribuição. Por exemplo, algumas bandas e filmes já têm um espaço na cidade e já têm uma capacidade de se autoproduzir. Talvez, para elas, fosse mais interessante um edital que as permitisse circular fora de Curitiba, para o exterior e participar de festivais. Queremos avançar nessa questão.
Nos últimos dois anos houve ameaça de redução dos editais pela administração anterior. Qual a ideia da nova gestão?
O prefeito já se comprometeu com o aumento do orçamento até 1% da arrecadação total do município até o final do mandato. Significa que os valores não só serão mantidos como serão ampliados. O que nós iremos fazer é buscar outras formas de incentivo à produção artística de maneira complementar.
Quais seriam estas formas?
Aproveitando a sintonia com o governo federal e buscando outras formas de financiamento, inclusive internacional, que permitam um aporte maior de recursos. Estamos iniciando um projeto para potencializar outras formas de captação através da Lei Rouanet. Faremos uma campanha muito forte para que os empresários que atuam na cidade destinem recursos para projetos de artistas de Curitiba.
Em campanha, o prefeito Fruet prometeu elevar para 1% da arrecadação total o orçamento da Cultura. Para este ano, porém, o orçamento ainda é limitado, não?
O orçamento da Cultura sempre será pequeno uma vez que a cultura é tão grande. Mesmo este aumento para 1% ainda seria pouco para tudo o que a sociedade deseja e nós gostaríamos. Nós temos três linhas de ação: precisamos minimizar os custos, estamos identificando os gastos e vamos cortar o desnecessário ao limite. A segunda questão é executar todo o orçamento e a terceira é buscar alternativas com a Lei Rouanet, com articulações como o Ministério da Cultura. E também mapear outras fontes de recurso. Estamos, por exemplo, fazendo um contato com a ONU, porque queremos desenvolver projetos de igualdade de gênero e racial e eles têm uma linha de financiamento para isto. Vamos buscar outras fontes.
Como será a relação com a secretaria estadual de Cultura? Já houve este contato?
O [secretário estadual de Cultura] Paulino Viapiana foi muito gentil, já me telefonou desejando boa sorte e disse que quer trabalhar em conjunto. Ele já foi presidente da FCC e conhece as nossas necessidades. De nossa parte, queremos estabelecer uma relação republicana. Temos vários equipamentos culturais e políticas do estado aqui na cidade e no que depender de nós elas serão realizadas. Já percebemos várias sinergias. Queremos que todos os agentes culturais, todos os governantes estejam unidos para que a gente possa fazer uma política cultural importante. Além desta relação com os governos estadual e federal, também queremos procurar fortemente a imprensa, os principais agentes empresariais da cidade, vamos procurar os movimentos culturais e, em particular, manter um canal sempre aberto para os artistas. O que nós queremos fazer efetivamente em nossa gestão é um pacto pela cultura. Queremos que as forças vivas e ativas da cidade deem as mãos para que a gente consiga fazer uma política consistente para o futuro da cidade.
E quanto ao modelo de gestão, você teria terceirizado a Pedreira Paulo Leminski?
A mim cabe cumprir o contrato. Não gostaria de trabalhar sobre hipóteses, mas talvez tivesse tomado uma decisão diferente. Penso que isto deve ser discutido caso a caso. De uma forma geral, acreditamos que a gestão pública é a melhor gestão possível. O que não impede que, em determinados momentos, trabalhemos com algum tipo de terceirização. O caso da Pedreira foi uma decisão tomada no governo anterior. Nos cabe fiscalizar e garantir que ela cumpra a sua função pública. Já tivemos o contato com a empresa que vai gerir a Pedreira. Pareceram-me pessoas sérias, sensíveis à cultura da cidade e com planos concretos. Vamos tentar trabalhar para o melhor da cidade.
Sempre quando alguém assume a gestão da Cultura há um discurso de estender as políticas para a periferia. Como fazer para passar à prática?
Queremos difundir a cultura. Uma das ações podem ser feitas pela própria prefeitura. Queremos um cineclube em cada escola municipal, isso depende de fomento público. Nós temos grandes números de contrapartidas da lei de fomento, queremos organizar um circuito nos bairros para estas apresentações. Também queremos aumentar muito o número de eventos na cidade e levá-los para espaços na periferia. Em colégios há bons auditórios, que, com bons investimentos, podem virar espaços bons. Precisamos, basicamente, de estrutura e diálogo com a população local. Temos mecanismos para isso.
Nós também sabemos que existe muita cultura nos bairros de Curitiba, o problema é que ela fica invisível. Queremos apoiá-la e torná-la acessível. Tenho dois exemplos: o movimento hip-hop, que é impressionante e precisa apoiado por ações culturais e a cena do heavy metal. A FCC nunca teve bom diálogo com estes segmentos no sentido de dar apoio e visibilidade a eles. Às vezes, não são apoios muito fortes; é só não atrapalhar, cedendo uma praça, uma estrutura de segurança mínima.
A cidade tem uma certa carência de acessibilidade nos equipamentos públicos...
Gostaria de terminar minha gestão em quatro anos com 100% de acessibilidade nos espaços públicos. Há casos complexos como o Solar do Barão e outros prédios históricos em que vamos ter que achar soluções inteligentes. Há alguns bons exemplos em cidades como Outro Preto. Vamos trabalhar com cuidado, mas vamos achar soluções. Queremos a manutenção preventiva dos equipamentos e acessibilidade total.
Incomodava o meio artístico local a pouca familiaridade de governantes anteriores com a cultura local. Isto deve mudar na nova gestão?
Sou um filho da FCC, assíduo frequentador dos equipamentos da cidade desde 1979. Este convívio é fundamental para o gestor. O Gustavo Fruet também é um frequentador assíduo, vai a shows, aos cinemas da cidade, ao teatro. Nossa parceria tem esta característica e temos um apreço muito grande por isso.
Há algo de que você sentia falta como público e artista e que agora tem a chance de fazer como gestor?
O que eu queria ver era a sociedade curitibana sentando em volta de uma mesa e firmando um pacto pela cultura. Queremos apoiar a arte em todas as dimensões e que ela esteja na cidade inteira. E que a partir daqui, ela ganhe visibilidade nacional e internacional. Pessoalmente, eu gostaria mesmo de ver o curitibano lendo em todos os lugares. Temos várias bibliotecas, os Faróis do Saber, mas não temos ainda um hábito de leitura muito grande. Eu queria entrar num ônibus, numa fila e ver as pessoas com livros nas mãos. Gostaria também que nos deparássemos com obras de arte nos espaços públicos: uma escultura, um quadro, um grafite. Quero ver os curitibanos lendo e convivendo com arte.
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