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Curtíssima temporada

Os 12 Trabalhos, filme que encerra hoje sua curta carreira na programação dos cinemas de Curitiba, depois de apenas uma semana de exibição, é um dos bons trabalhos da safra 2006/ 2007 do cinema brasileiro. Premiada em mostras de cinema – melhor ator Festival do Rio, cinco prêmios no recente Cine PE (melhor direção, ator, ator coadjuvante, roteiro e trilha sonora) –, a fita estreou "de surpresa" na capital paranaense na mesma semana do filme mais esperado do ano (o leitor sabe qual, não precisa falar).

A data incômoda certamente deve ter prejudicado a audiência do filme dirigido pelo paulista Ricardo Elias, que não segurou mais uma semana de exibição na capital. É uma triste constante que tem acontecido na programação da cidade, carente de mais espaços para o cinema independente, de arte e brasileiro – e claro, de um público mais interessado nesse tipo de produção; se mesmo quando há boa bilheteria, como no caso de O Céu de Suely, os filmes brasileiros ainda perdem espaço para os blockbusters estrangeiros, imagine quando têm poucos espectadores. Caso o longa-metragem não retorne na programação dos cinemas da Fundação Cultural de Curitiba (o que acontece algumas vezes com certos títulos), o público só poderá acompanhá-lo no DVD. Mais uma derrota para o cinema nacional.

Nova revelação do cinema brasileiro, o jovem ator Sidney Santiago, de 21 anos, protagonista do premiado Os 12 Trabalhos, que encerra hoje curta temporada em cartaz em Curitiba (veja quadro ao lado), ainda não está muito seguro da continuidade de sua carreira nas telas.

O paulista (da cidade de Guarujá) conversou com o Caderno G durante o Cine PE, festival encerrado no último dia 29, e que o consagrou como melhor ator ao lado do veterano Leonardo Medeiros (de Não Por Acaso). Foi o segundo prêmio de interpretação para Santiago, que já havia conquistado a mesma laureação no Festival do Rio, em outubro de 2006. "As premiações foram realmente uma surpresa. Esperava que as pessoas gostassem do personagem, do meu trabalho, mas não tanto assim. Mas tenho mais certeza da minha carreira no teatro. No cinema, ainda é uma experimentação, até porque sei das condições, sei quem eu sou nesse país (um ator negro). Vislumbrar uma carreira nesse veículo não é algo que eu pense ainda não", confirma. No filme, ele vive o motoboy Heracles, personagem baseado no mito grego de Hércules. Assim como o herói mitológico, o rapaz precisa realizar 12 tarefas para conseguir um emprego definitivo na empresa de entregas em que trabalha.

Sidney conta que sua inspiração para virar artista foi o circo, que gostava muito de acompanhar. Mas o início nas artes foi através do balé, passando depois para o teatro, chegando a estudar com José Mojica Marins (o Zé do Caixão) e a encenadora Denise Weinberg. "Depois, fui para a universidade, entrei na EAD (Escola de Artes Dramáticas da USP), que estou terminando. Minha formação é de dança e teatro. Continuo dançando, estou numa companhia paulista que faz balé africano contemporâneo", revela.

Seu trabalho nas artes cênicas segue atualmente na companhia paulista Filhos de Olorum, formada apenas por atores negros, organizada na EAD em 2004. "Nós temos a intenção de discutir o Brasil, quebrar esses conceitos de democracia racial, de miscigenação e do país do samba, que todo mundo adora colocar", diz o ator, lembrando que o grupo segue este mês para a Europa, para temporadas nas cidades de Berlim, Hannover e Paris. Em agosto, a Filhos de Olorum estréia novo espetáculo em São Paulo.

Além de Os 12 Trabalhos, Sidney Santiago também está no elenco de Sob o Signo da Cidade, segundo longa-metragem do ator e diretor Carlos Alberto Riccelli, que deve ser lançado em setembro. O roteiro é de Bruna Lombardi, que também atua como protagonista do filme, uma vidente responsável por interligar a vida de várias pessoas, entre elas o personagem de Sidney, um travesti.

O próximo filme do ator poderá ser o primeiro longa-metragem do diretor paulista Jeferson D (premiado curta-metragista negro). "Adoro cinema, estou experimentando. Gosto da radicalização, pois essa é a minha pesquisa no teatro. E vejo que isto está acontecendo no cinema também, talvez isso me atraia novamente para a área", conclui.

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