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Rio de Janeiro – A Inglaterra tem um novo rei e uma nova rainha: James Morrison e Amy Winehouse. A coroação se deu em cerimônia realizada semana passada, em Londres, na qual os dois levaram, respectivamente, os troféus de melhor cantor e melhor cantora no Brit Awards 2007, o Grammy inglês. Só que não é preciso ser um Bond, James Bond para descobrir que se trata de um caso de dois prêmios e duas medidas. Basta escutar os discos da dupla, recém lançados no Brasil pela Universal: Undiscovered, de Morrison; e Back to Black, de Winehouse. Embora tenham ligações em comum — são ingleses, brancos e têm vozes impregnadas de soul — cada disco conta uma história diferente e tem um final idem.

Excepcionalmente invertendo a mão da boa educação, primeiro o cavalheiro, o recém-chegado. Undiscovered é o debut de Morrison, 21 anos, que vivia lavando carros até ser descoberto por um caçador de talentos. Até esse clássico momento, seu quarto era o seu esconderijo, palco e estúdio, o lugar onde se refugiava dos problemas caseiros (pai alcoólatra, mãe ausente, amigos junkies), ouvia seus ídolos (Otis Redding, Stevie Wonder e Van Morrison) e tentava moldar um som à base de blues, soul e folk. "Premiado" com a benção e o investimento de uma grande gravadora (Universal), Morrison foi para um estúdio de verdade, passar da teoria à prática, do sonho à realidade.

O resultado foram as 11 músicas de Undiscovered (o disco inglês tem duas faixas a mais), que formam uma estréia promissora, mas ao mesmo tempo linear e polida demais. Morrison é um canarinho, sem dúvida, na mesma linha de outros soulmen brancos, como Andrew Strong e Mick Hucknall. O problema é a produção contida de Undiscovered, que faz com que os r&bs e as belas baladas do disco – "The Letter" e "Call the Police", as melhores – acabem deixando no ouvinte a sensação de que a qualquer momento vai surgir James Blunt cantando "You’re Beautiful".

Há um perigo nisso. Perigo de redundância que não existe em Back to Black. O único perigo do disco está na capa, está por toda a parte: é a própria Amy Winehouse, que começa o disco já mandando na lata: "Tentaram me mandar para a reabilitação/Mas eu disse não, não, não", como se fosse uma Etta James infiltrada nas Supremes. Opa, aí tem. E tem mesmo. O que em Morrison é biografia contada, não conferida, em Amy é fato vivido, na frente das câmeras.

Entre o seu primeiro disco, Frank, de 2003, e este Back to Black, Winehouse teve tempo suficiente para mostrar que de Barbie não tinha nada. Barraqueira e pé na jaca, cool e divertida, ela é uma estrela com brilho próprio. Ou, como diriam os caretas, é uma pessoa muito autêntica, sabe? De cara (limpa?), uma coisa: o jazz de Frank virou águas passadas. Em Back to Black, Amy parte para outra e emula o som das girl bands dos anos 60. E faz isso muito bem. O disco todo tem um som antigo, mas não exatamente retrô. É como se Martha & The Vandellas estivessem ativas. E Amy cantasse todas as vozes. Mais uma vez, questão de personalidade porque a produção é assinada por Mark Ronson, que tem no currículo trabalhos com Lily Allen e Cristina Aguilera.

Nem por isso o disco soa como uma ou outra. Back to Black é, sem dúvida, um disco de Amy Winehouse, que ora detona um namorado que a fez perder um show de Slick Rick ("Me & Mr. Jones") e no outro reconhece ser encrenqueira ("You Know I’m No Good"). Diferente do James Blunt que assombra o disco de James Morrison, em alguns momentos a impressão que se tem em Back to Black é que baixou uma Shirley Bassey em Amy, que vai cantar o tema de "Goldfinger" a qualquer momento. Na verdade, algo parecido pode rolar, já que ela está cotada para cantar a música tema do próximo filme de James Bond. Por isso e por tudo mais, que Deus abençoe a rainha. A rainha Amy.

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