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Nova Iorque – David Lynch, o consagrado cineasta de obras como Veludo Azul, Twin Peaks e Cidade dos Sonhos, apresentou no fim da semana passada no Festival de Nova Iorque o seu INLAND EMPIRE (assim mesmo, com maiúsculas). Não é um filme fácil, mas Lynch também não é um cineasta fácil. Sua obra tem uma assinatura inconfundível, a ponto de muitos não aplaudirem seus novos trabalhos sob a alegação de que ele é um artista difícil, mas que quase sempre repete a mesma fórmula.

INLAND EMPIRE tem realmente elementos constantes de longas anteriores de Lynch, mas é um filme belíssimo e é cinema na mais correta e pura expressão da palavra. Laura Dern faz o papel de uma atriz convidada a trabalhar num filme. Ao aceitar, descobre algo muito estranho: o filme é o remake de outro que estava inacabado porque os protagonistas foram assassinados durante as filmagens. Além de Laura, estão no elenco Jeremy Iron, Harry Dean Stanton, Scott Coffey e Julia Ormond, entre outros.

Após a projeção, Lynch concedeu uma coletiva, da qual o Caderno G participou, quando falou de INLAND EMPIRE, dos elementos recorrentes em seu trabalho e das novas possibilidades para o cinema. Confira os principais trechos.Qual a origem de INLAND EMPIRE?David Lynch – Inicialmente, eu tinha apenas a premissa da trama em torno da história misteriosa de uma mulher em dificuldades. Comecei o filme sem um roteiro prévio e a cada dia escrevia as cenas antes das filmagens. A decisão de escrever à medida que ia filmando teve muito a ver com a unidade das coisas. Quando temos uma primeira parte de algo, e depois uma segunda que aparentemente não tem relação com a primeira, pode acontecer uma coisa muito curiosa: descobrir que, afinal, elas tinham uma grande conexão uma com a outra, e foi realmente o que ocorreu.Laura Dern foi sua primeira escolha para o papel principal?Devo confessar que prefiro as morenas (risos), mas amo Laura Dern. É uma grande atriz, deu ao personagem exatamente o que eu pretendia e espero que desta vez seu talento seja reconhecido com uma indicação para o Oscar.Por que os personagens bizarros, as reviravoltas na trama, assim como o clima mórbido e sobrenatural estão sempre presentes em seus filmes?As idéias para meus filmes simplesmente surgem na minha mente e eu apenas as organizo dentro do meu estilo. Além disso, o encanto do cinema é exatamente permitir que os espectadores entrem num mundo onde eles não sabem o que pode acontecer. Por isso, procuro sempre aconselhar os espectadores a usar a intuição e a não esquecer que o cinema vai além das palavras.INLAND EMPIRE é o seu primeiro filme com tecnologia digital. O que achou dessa experiência? Eu me apaixonei pela impressão visual que o digital proporciona. Além disso, ele oferece uma enorme liberdade nas filmagens e na pós-produção, assim como obtém coisas dos atores que os celulóides não conseguem. A propagação da nova técnica é irreversível e, na minha opinião, a película tem pouco tempo de vida. Ela risca, mofa, pega fogo, exige a contratação de uma equipe grande, precisa de equipamentos pesados; tudo isso fará com que cada vez mais seja utilizada a técnica digital.Por que a escolha da Polônia para algumas locações do filme?Foi por um motivo muito pessoal. Eu costumo ir ao festival de cinema em Lodz e fiz amizade com os organizadores e também com muita gente da cidade. É um grupo tão legal que resolvi fazer algumas cenas lá, que no final acabaram sendo muito mais do que imaginava. Mas isso me agradou muito. Foi complicado conseguir os recursos para produzir o filme?Isso é sempre difícil. INLAND EMPIRE foi produzido em grande parte com recursos próprios. Para as vendas internacionais, tive a colaboração do Studio Canal francês, a unidade de produção cinematográfica do Canal Plus, que já tinham produzido dois filmes meus, Uma História Real e Cidade dos Sonhos. Eu amo o Canal Plus.INLAND EMPIRE deverá ser um filme difícil de encontrar o seu público. Que receptividade você espera para ele?Primeiro, quero dizer que cinema é uma mídia mágica. Quanto ao filme, espero que as pessoas tenham a abstração necessária ao assisti-lo e sintam a mesma emoção que eu tive ao fazê-lo.O fato de você fazer meditação transcendental tem alguma influência nos seus filmes?Eu faço meditação transcendental há 33 anos. Acho que, por causa disso, o meu grau de intuição aumenta e as idéias surgem e são criadas num nível mais alto.

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