Sucesso
Consagração chegou com vitórias em festivais de música
Gravada no primeiro disco do compositor, A Música de Edu Lobo por Edu Lobo, a canção "Arrastão" mudou os caminhos da música brasileira. Em 1965, a contagiante interpretação de Elis Regina no 1º Festival de Música Popular Brasileira, na TV Excelsior, levou o primeiro prêmio e ajudou a consolidar o gosto do público brasileiro pelas disputas musicais.
Com o sucesso do primeiro festival, todas as outras emissoras de televisão da época passaram a explorar o filão. Em 1967, na mais acirrada e politizada de todas as disputas, na TV Record, "Ponteio", uma parceria de Edu Lobo com o poeta Capinam, desbancou clássicos como "Domingo no Parque", de Gilberto Gil, "Alegria, Alegria", de Caetano Veloso e "Roda Viva", de Chico Buarque, consagrando definitivamente o compositor.
Biografia
Edu Lobo São Bonitas as Canções
Eric Nepomuceno. Janeiro, 248 págs., R$ 59. Não ficção.
No que parecia ser o auge de sua carreira, Edu Lobo fez uma escolha inexplicável. Quando tinha pouco mais de 20 anos, era parceiro de Vinicius de Moraes e único bicampeão do Festival da Canção, o então mais importante palco midiático do país. Seu sucesso garantia agenda lotada de shows no Brasil e no exterior.
Edu, no entanto, resolveu sair de cena. Em 1969, fez as malas, pegou seu violão e se mudou para os Estados Unidos para estudar música e composição. "Eu sentia falta. Era como ter uma limitação. Muitas vezes, na hora de gravar, eu sabia o que queria, mas não tinha ideia de como chegar lá", conta.
O depoimento está transcrito no livro Edu Lobo São Bonitas as Canções, escrito pelo jornalista Eric Nepomuceno, e dá uma boa medida da personalidade do compositor. Discreto, concentrado e silencioso, Edu Lobo conquistou seu espaço entre os maiores compositores da música popular brasileira sem fazer alarde.
Fruto de uma série de quatro entrevistas com seu personagem, a biografia musical de Nepomuceno tem uma estrutura diferente da maioria dos lançamentos do gênero, pois valoriza, sobretudo, o músico e sua obra.
No fundo, é quase uma análise faixa a faixa da trajetória do compositor. Mas a obra também traz revelações importantes da vida pessoal do discreto artista que completa 70 anos em 2014, como o fato de ele só ter conhecido o pai famoso o jornalista e compositor Fernando Lobo ("Chuvas de Verão") na adolescência.
Nepomuceno destaca a sólida trajetória do artista, que, por si só, tem histórias muito interessantes. Durante o autoexílio nos EUA, Edu chegou a gravar um disco para o mercado americano com o aval de Sérgio Mendes, mas seu foco principal era o estudo de música. Ao voltar, concentrou-se nos estúdios, lançando discos ousados e experimentais que resistem, contundentes, ao tempo.
Parcerias
Participou ainda de projetos para musicais de teatro e dança que renderam novos lotes de canções fundamentais, principalmente em sua parceria com Chico Buarque foram 42 canções e obras-primas como "Beatriz" e "Choro Bandido", da qual Nepomuceno extraiu o verso que dá título ao livro.
Segundo Zuza Homem de Mello, no texto da apresentação do livro, a carreira de Edu Lobo tem esta particularidade: "dos compositores de sua geração, é ele quem se dedicou com mais afinco a verdadeiros conjuntos de canções que associadas se transformam em projetos de grande monta em trilhas para cinema, teatro e balé", analisa.
Um dos capítulos do livro conta a saborosa história do encontro musical e afetivo de Edu Lobo com Vinicius de Moraes em 1962. O poetinha, de fato, mudou a vida do compositor. O rebatizou Edu (Eduardo era muito "formal") e o incentivou a largar a faculdade de Direito e o desejo de ser diplomata. A primeira parceria entre os dois, aliás, se perdeu com uma amiga de adolescência. O que não impediu que surgissem outras muito marcantes, como "Zambi", "Canto Triste" e a consagradora "Arrastão".
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