A Estação Liberdade enfrentou uma disputa com outras editoras para conquistar os direitos da obra de André Gide (1869-1951). Não bastasse essa dificuldade, precisou negociar a publicação com a editora Gallimard, uma das gigantes da França. As exigências eram muitas. Afinal, Gide é um dos escritores mais importantes de seu país e vencedor do prêmio Nobel de Literatura em 1947.
Etapas vencidas, a editora paulistana publica, numa sentada, quatro títulos do autor, contando aquele considerado sua obra-prima, Os Moedeiros Falsos. E mais Os Porões do Vaticano, O Pombo-torcaz e Diário dos Moedeiros Falsos. Os dois últimos, traduzidos pela primeira vez no Brasil.
Há mais de duas décadas fora de catálogo, os livros do autor francês se tornaram artigos de sebo. A empreitada da Estação Liberdade incluiu novas traduções, feitas por Mário Laranjeira a exceção é O Pombo-torcaz, traduzido por Mauro Pinheiro.
Laranjeira já verteu ao português obras de Marguerite Duras e Guillaume Apollinaire este, em versos , mas considera Gide um dos mais difíceis de se traduzir. "Pela complexidade na montagem do texto, com parágrafos longos e com o que Gide chamava de mise en abyme (colocar no abismo), uma coisa enfiada dentro de outra", explica.
Os Moedeiros Falsos tem como personagens Bernard, Olivier e Édouard. O intelectual Bernard é o filho que sai de casa para tentar encontrar a si mesmo. Olivier é seu melhor amigo, que oscila entre a vaidade e a insegurança. Quem narra a história é Édouard, um alter ego de Gide, tio de Olivier e escritor que planeja um livro chamado Os Moedeiros Falsos. Ele produz um diário acerca das ideias relacionadas ao processo de escrita e esta é a chave para o efeito "abissal" da prosa de Gide, como dois espelhos colocados um diante do outro, refletindo imagens ao infinito. O texto funciona como um exercício de metalinguagem, nas palavras do editor Leandro Rodrigues, da Estação Liberdade, usada por Gide com o objetivo de fazer um romance ao mesmo tempo que vê a validade de se fazer um romance.
"Os Moedeiros Falsos foi concebido como o ponto central de sua obra. No Diário..., é possível ver o trabalho que teve para criar os personagens, as hesitações que sentiu enquanto escrevia e suas concepções de arte", diz Rodrigues.
O diário a que se refere o editor é o que torna a obra ainda mais intrigante. Diário dos Moedeiros Falsos traz Gide escrevendo sobre o seu processo de criação. Nele, é possível encontrar paralelos entre o que aflige o autor de carne e osso e o que preocupa Édouard, o narrador ficcional.
Já Os Porões do Vaticano é uma espécie de farsa satírica assim o definia Gide, um católico devoto e também um homossexual assumido que defendia a liberdade moral absoluta. A trama se desenvolve em torno de quatro figuras: o papa, um maçom, um católico ferrenho e um escritor. Embora não seja inédito, o livro ganha nova tradução.
O quarteto de lançamentos se completa com O Pombo-Torcaz. A filha de Gide, Catherine, escreve uma apresentação à obra que permaneceu quase cem anos na gaveta. Um prefácio e um posfácio assinados por dois pesquisadores distintos procuram dar conta do relato inspirado em uma vivência do autor em 28 de julho de 1907. Ele teria se envolvido por uma noite com o filho muito mais jovem de um empregado da casa onde se hospedava durante uma viagem pela região de Toulouse.
Serviço
Os Moedeiros Falsos (424 págs., R$ 62), Diário dos Moedeiros Falsos (144 págs., R$ 31), Os Porões do Vaticano (256 págs., R$ 42), O Pombo-torcaz (96 págs., R$ 28), de André Gide. Estação Liberdade.
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