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Alessandra Negrini tem sua melhor atuação no cinema | Divulgação
Alessandra Negrini tem sua melhor atuação no cinema| Foto: Divulgação

O cineasta cearense Karim Aïnouz acertou mais uma vez. O Abismo Prateado, que esteve por uma mísera semana em cartaz no Cine Guarani, no Centro Cultural do Portão, revisita um tema recorrente na obra do diretor de Madame Satã e O Céu de Suely: o abandono emocional. Mas é com Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo, seu longa anterior, que o filme parece dialogar com mais intensidade. Pelo viés da extrema dor suportada por quem vive o fim de um grande amor.

A trama de O Abismo Prateado, que merecia ter uma segunda chance nos cinemas (Alô, programadores!), se desenrola ao longo de um único dia, um daqueles em que a vida parece chegar à beira de um precipício. Toma como inspiração "Olhos nos Olhos", clássico de Chico Buarque sobre o abrupto e irreversível desfecho de uma relação de anos. Violeta (Alessandra Negrini, em sua melhor atuação no cinema) é uma dentista chegando aos 40 anos, moradora da Zona Sul do Rio de Janeiro, casada e com um filho adolescente.

Tudo parece ir bem, sem maiores sobressaltos, até receber um recado na secretária eletrônica que lhe rouba o chão. É o marido (Otto Jr.). Ele diz, na lata, sem dó nem piedade, que o amor acabou e ele está de partida para Porto Alegre, para ela "ser feliz e passar bem".

Aïnouz brinca com as expectativas de quem vê o filme sem saber o que virá pela frente: o fora vem pouco depois de uma ardente cena de sexo entre o casal. E tem o impacto de uma colisão frontal com um caminhão.

O filme investiga o que se passa na cabeça de alguém que vê, em uma questão de horas, sua vida afetiva desabar sem aviso prévio. Acompanha seu desespero, a busca por respostas, a tentativa de escapar da dor mergulhando de cabeça em uma longa jornada dia adentro, com direito até a dançar sozinha em uma pista qualquer, onde se refugia para não ouvir sua dor. Até terminar em um aeroporto, a um passo de pegar um voo para Porto Alegre.

Se O Abismo Prateado parece menos redondo, mais irregular do que os longas anteriores de Aïnouz, talvez porque seu roteiro seja mais fluido, construído em torno de sentimentos e sensações da protagonista, sem um rumo aparente, o filme tem a seu favor o raro trunfo de acompanhar o espectador por horas, depois de finda a exibição. Quem, afinal, nunca sofreu de amor? GGG1/2

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