Há uma discussão que sempre acomete o exercício constante do que costumamos chamar de crítica literária. Se alegam que ela não existe mais enquanto instituição respeitável, é notório que ainda se falam de livros, mesmo que não tenhamos mais nomes como Afrânio Coutinho e Wilson Martins. Paralelamente a essa constatação, outro tema importante: a crítica de livros ditos locais quando seríamos mais transigentes (e coniventes) com o nível do que se produz na região.
O protecionismo não se aplica, de forma alguma, a "Jornal da Guerra Contra os Taedos", a obra-prima póstuma de Manoel Carlos Karam (1966-2007), que a Coleção Gazeta do Povo Literatura Paranaense traz nesta sexta-feira (14), encartada nos exemplares de banca e para assinantes. Série de colagens, pensamentos aleatórios, anarquismos linguísticos e crônicas esparsas, "Jornal da Guerra Contra os Taedos", é dos textos mais divertidos e originais da literatura brasileira, a justificar, na totalidade, o porquê de Karam pertencer ao topo da chamada literatura de invenção.
"O nosso governo criou uma loteria. Apostava-se no número de taedos mortos na semana. Quando as apostas carregavam em números altos, o nosso exército colocava nossos uniformes nos taedos abatidos para baixar o número."
DesautorizaçõesA sinopse é o de menos, mas representativa: uma voz de aspectos fellinianos traz notícias de um conflito bélico de contornos ridículos. Como um narrador arbitrário e dado à subjetividade, ele vai contando os desdobramentos de uma guerra sem maiores sentidos.
"No fim do jantar, entre licores e charutos, os taedos decidiram declarar guerra contra nós. Isto conforme a versão de que quem começou a guerra foram eles. Entre as várias versões do começo da guerra decidido por nós, a que eu mais gosto é aquela que diz o seguinte: no fim de um jantar sem licores e sem charutos etc. Já fomos até chamados de comunistas por causa disso."
Aqui, Karam, a bordo de sua imaginação irônica e iconoclasta, parece encontrar Beckett para rir do absurdo do mundo. Um clássico. GGGGG
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