Fichário de Florbela
Leia sobre a vida e a obra da poeta:
1894 Em 8 de dezembro, nasce Florbela D´Alma da Conceição Espanca, filha de Antónia da Conceição Lobo e João Maria Espanca, que era casado com Mariana do Carmo Ingleza. Consta dos registros de batismo dela "filha ilegítima de pai incógnito". Entretanto, foi criada por João Espanca, cuja esposa, que não podia ter filhos, tornou-se madrinha de Florbela.
1913 Em 8 de dezembro, Florbela casa com Alberto Moutinho, com quem ficaria casada até 1921 e de quem se separaria para casar com o oficial de artilharia António Guimarães. Teve ainda um terceiro casamento.
1917 Termina o curso complementar de Letras. Inicia a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, que irá, em 1920, abandonar. Foi a primeira mulher a cursar aquela faculdade. Dentro de um universo de 347 universitários, Florbela era uma das 14 mulheres inscritas na Universidade.
1919 Publica o Livro de Mágoas.
1923 Publica o Livro de Sóror Saudade. Sofre novo aborto e seu segundo marido pede divórcio.
1930 Tenta se matar em outubro e em novembro. Em 8 de dezembro, às vésperas daquela que seria considerada sua obra-prima Charneca em Flor, Florbela se suicida, tomando uma dose excessiva de Veronal, nome comercial de um sedativo do grupo dos barbitúricos.
O nascimento, o primeiro casamento, a vida e a morte da poeta portuguesa Florbela Espanca foram marcados pelo dia 8 de dezembro. Ao completar 36 anos, após deliberadamente tomar uma violenta dose do sonífero Veronal, Florbela morria sem saber que o reconhecimento de seu talento poético estava prestes a chegar. O suicídio aconteceu há 80 anos, em 8 de dezembro de 1930. A escritora deixava como legado poemas carregados de erotismo e feminilidade, em que o amor, a paixão, a dor da rejeição e a morte eram temas dominantes.
Em Florbela, tudo é intenso. O excesso e a teatralidade são características presentes em sua obra. Florbela é incessante. Chega a ser teatral, como bem assinala a professora Renata Soares Junqueira, da Universidade Estadual Paulista (Unesp). "Toda a escrita de Florbela Espanca revela-se prenhe de uma teatralidade que se realiza na pintura de seres e objetos deliberadamente artificiais, visivelmente estereotipados, produtos de uma hábil sofisticação da linguagem", afirma Renata Soares Junqueira.
Florbela chega a trazer um pouco dessa encenação à sua vida. Evidência disso está no fato de casar, em 1913, com o seu primeiro de três maridos que virá a ter Alberto Moutinho no dia em que completou 19 anos. Em 8 de dezembro.
No Brasil, a obra da autora despertou o interesse popular quando alguns poemas foram musicados por Fagner, como "Fanatismo", "Fumo" e "Tortura".
O amor em todas as suas matizes é encontrado na obra de Florbela, assumindo, muitas vezes um caráter transgressor. "A vertente do erotismo que também está intimamente ligada ao tema amoroso vincula-se à transgressão, à interdição. A análise da poesia mostrou que o erotismo se realiza pelo silêncio, pela mudez, pelas analogias, pelas imagens sensoriais, pelas metáforas", explica Renata Soares Junqueira.
A professora de Letras Marly Catarina Soares, da Universidade Estadual de Ponto Grossa, também considera que, passados 80 anos da morte de Florbela Espanca, o tema que se sobressai de seus poemas é o amor. "O amor é a força motriz da humanidade. É causador de dores, sofrimento, tristeza, agonia, mas também é a fonte da felicidade suprema, um caminho para se chegar à divindade".
Esse sentimento, ressalta Marly Soares, permeia a poética da autora nas mais diferentes situações, desde sua forma transgressora até sua forma divina. "Percebe-se em alguns poemas uma tendência à essencialização ou à sublimação do amor, denunciada pela ausência de um objeto e de um sujeito amoroso", explica a professora. "Para a poeta, o amor é a representação de tudo: o lugar, a síntese da realidade corporal, a terra em que nasceu, os lugares por onde andou, cidades, ruas. Enfim o amor não é direcionado exatamente a um homem, mas a tudo que a rodeia".
No tratamento da poeta dada ao amor, verte sua feminilidade, que se impõe de forma ativa, numa época em que as mulheres detinham um papel submisso na sociedade portuguesa. "Poderia citar como exemplo a imagem da mulher na condição de sujeito ativo que aparece em alguns poemas, dirigindo-se ao amante convidando-o para o amor", analisa Renata Junqueira. De certa forma, Florbela recusa o papel tradicional conferido às mulheres de seu tempo. Teve três maridos. Foi a primeira mulher a cursar a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Intelectual feminina num tempo em que isso era incomum, a poeta viveu, de certa forma, à margem do mundo literário. Não fez parte dos grupos de modernistas, no qual conviveram, por exemplo, Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro.
A poeta não chegou sequer a ser reconhecida em sua grandiosidade enquanto esteve viva. O reconhecimento veio com a morte da poeta, o que acabou sendo bastante explorado por seu editor, Guido Battelli, que conscientemente misturou a vida e a obra dela, mistificando-a.
A sincronicidade que acompanhou a vida e o destino de Florbela em três momentos de sua vida no dia 8 de dezembro transcende o contexto vivido pela poeta portuguesa. Nesta data, praticantes do candomblé e da umbanda saúdam Oxum, orixá feminino que rege o amor e as riquezas, o encantamento e a beleza. Afora o aspecto trágico de dar o fim à sua própria existência, pensando bem, Oxum tem tudo a ver com Florbela Espanca e sua poesia.
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