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E Se Contorce Igual a um Dragãozinho Ferido
Luiz Felipe Leprevost. Arte & Letra, 120 págs., R$ 25. Romance.
Combinar linguagem poética e narrativa em prosa pode ser um exercício perigoso. O perigo, no caso, consiste no risco de transformar uma bela narrativa em um soporífero poderoso que atravanca a dinâmica do romance em prol de um barroquismo nem sempre propositado. O poeta e dramaturgo curitibano Luiz Felipe Leprevost mostrou ser capaz de transitar com facilidade entre os limites da prosa e da poesia com seu romance de estreia, E Se Contorce Igual a Um Dragãozinho Ferido, publicado pela editora Arte & Letra.
A história se passa em dois tempos, com duas vozes que, embora pertençam ao mesmo personagem, se distinguem no tom. A primeira, que narra as aventuras do publicitário que tenta a vida no Rio de Janeiro, é entusiasmada, apaixonada e poética. A segunda, que infere num regresso malsucedido à Curitiba natal, embora abra o romance com tórridas cenas eróticas, é mais triste, desiludida e seca, e se fortalece sobretudo na memória dos dias na antiga capital do Império.
Ao contrário de seu lugar de origem, a cidade do Rio faz com que Júlio, o protagonista, se sinta um eterno estrangeiro, e o deslumbre que tem com a Cidade Maravilhosa repousa com intensidade na figura de Nanda, uma cantora que vê pela primeira vez saindo do mar uma espécie de regresso da Garota de Ipanema. Envolvidos em um romance instável, de idas e vindas, Júlio e Nanda mal percebem que suas vidas se deterioram ao entorno: enquanto o primeiro, aspirante a poeta e relegado a um quartinho de pensão de uma velha usurária, perde sua maior chance profissional na capital, a segunda desenvolve uma doença que coloca em jogo a relação do casal. Louco de amor, inconsequente e embriagado, Júlio desce ao inferno quando tenta se desvencilhar da garota, que o troca por um músico de sua banda no Rio, mas conta com cansaço na voz, já em Curitiba, como recebe, anos depois, a visita inesperada de Nanda.
É então que as duas narrativas do protagonista vão se aproximando, e o leitor pode acompanhar a transformação do publicitário empolgado no filho vencido que volta a morar com a mãe no Pilarzinho. Não só a experiência do amor enfurecido, mas também a do emigrante curitibano são devastadoras para o protagonista, que resolve contar sua história sem esconder a ânsia de, com ela, tentar entender o que se passou com o distanciamento necessário. O lirismo que Leprevost mantém do começo ao fim da narrativa não esconde nem desvia a atenção da boa trama que se desenrola debaixo de impressões e expressões poéticas. Pelo contrário o estilo do autor confere à história uma intensidade quase palpável, que transforma a leitura de E Se Contorce Igual a um Dragãozinho Ferido em uma experiência visceral. GGGG
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