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Até a semana passada, cerca de 80% das salas de cinemas do país estavam sendo ocupadas por apenas três filmes: as continuações das franquias Homem-Aranha, Piratas do Caribe e Shrek. A situação não deve mudar até agosto, pois estão na fila mais quatro blockbusters para dominar o mercado – Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado, que estreou este fim de semana, Ratatouille (dia 6), Harry Potter e a Ordem da Fênix (dia 11) e Transformers (dia 20).

Não tem sobrado espaço para as produções nacionais e de outros países, e mesmo para outras menores de Hollywood. Dominação total do blockbuster ou um momento especial e episódico do gênero? A situação atual está mais para a segunda opção, segundo dois profissionais ligados ao mercado do cinema entrevistados pelo Caderno G: Pedro Butcher, crítico de cinema da Folha de S. Paulo e jornalista responsável pelo periódico eletrônico Filme B (que faz acompanhamento do mercado); e Adhemar Oliveira, administrador das rede de cinema Espaço Unibanco e Unibanco Arteplex, e e sócio da distribuidora Mais Filmes.

"Esse encadeamento de grandes filmes não é comum. Ficar fazendo deduções filosóficas em cima de uma coisa que é atípica é um erro. Concordo com qualquer crítica que vá contra monopólios, mas não acredito que a situação seja essa. Quando chegar agosto, essa questão já não vai mais ser discutida, pois não haverá mais esses grandes lançamentos e o mercado voltará ao normal", comenta Oliveira.

O momento de domínio é visível, mas o público tem respondido a ele de forma positiva em termos de audiência, lotando as salas para ver os blockbusters. Butcher lembra que, quando Piratas do Caribe 3 estreou, o filme e Homem-Aranha 3 ocuparam 75% das salas do país. "Mas o market share de público dos dois filmes juntos foi de 95%, ou seja, foram vistos por 95% das pessoas que estiveram no cinema naquele fim de semana", atesta, lembrando que o grande número de espectadores significa que os lançamentos gigantes estão cumprindo uma demanda de mercado também. "A ocupação é um fato, há um poder econômico gigante trabalhando para estar presente e impor um determinado tipo de lançamento no mercado, mas há resposta de público também é muito grande", continua.

Brazucas

E como fica o cinema brasileiro nesse cenário? Em 2003, a produção nacional conseguiu a impressionante marca de 22% de participação no mercado, com diversos títulos ultrapassando a marca de 2 milhões de espectadores como Carandiru, Cidade de Deus, Os Normais, Lisbela e o Prisioneiro, Maria, Mãe do Filho de Deus. "A questão do cinema brasileiro não estar conseguindo se impor no mercado é outra. O que se pode ver é que as forças que trabalharam para o sucesso do cinema brasileiro em 2002 e 2003 não estão mais tão mobilizadas", opina Butcher, citando o aumento da cota de tela, que desmobilizou os exibidores

Oliveira destaca que houve momentos em que também aconteceu o mesmo encadeamento de grandes lançamentos e um filme brasileiro conseguiu se sair bem: Cazuza – O Tempo não Pára, que fez 3 milhões de espectadores em 2004. Segundo o distribuidor e exibidor, o cinema brasileiro está vivendo um problema de apelo popular de suas produções. "Qual a quantidade de filmes brasileiros de grande apelo popular hoje em dia? São necessários pelo menos quatro ou cinco por ano para manter o mercado para o filme nacional", diz.

O excessivo investimento em produção sem se preocupar se o filme vai chegar às salas é apontado pelo jornalista do Filme B como uma questão política a ser encarada pelo Estado brasileiro. "Deve se começar a pensar igualmente nos três pilares: produção, distribuição e exibição. E criar também uma rede alternativa de exibição com ingressos mais baratos e com possível projeção digital, que possa absorver o filme brasileiro", avalia.

Para Oliveira, o mercado exibidor está investindo muito pouco em nichos de mercado, como o filme nacional, o documentário ou outros gêneros. "Busco isso em minhas salas, mas é uma opção minha, dou garantia de seqüência dos filmes pequenos no circuito. Mas preciso passar os grandes filmes para pagar minhas contas", confirma. A questão é ampla e precisa ainda ser muito debatida por todos os envolvidos na área, do governo aos cineastas, passando por distribuidores e exibidores.

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