A 11.ª edição da Festa Literária de Paraty (Flip), que acontece entre os dias 3 e 7 de julho, vai homenagear o escritor alagoano Graciliano Ramos com uma programação especial. A conferência de abertura de evento será do escritor Milton Hatoum, que fará uma análise da obra do autor de Vidas Secas e Memórias do Cárcere.
Respeitando as características do homenageado, conhecido por sua austeridade e economia de palavras, Hatoum elabora um discurso breve, enxuto e direto. Ele revelou alguns dos pontos que serão tratados na conferência. "Graciliano gostava de uma linguagem nítida, direta, que expressava a situação social, política e psicológica de seus personagens", disse o autor, em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo.
Em sua palestra Hatoum vai destacar ainda a influência que Gracilaino teve no início de sua carreira como escritor. Quando ainda era um estudante, na década de 1960, ele conta que morava na úmida Manaus, irrigada pela água caudalosa do Rio Amazonas e pela chuva diária da capital amazonense. "Foi quando li Vidas Secas e descobri a terra árida, sem vida, sedenta era um outro país, desconhecido para mim, uma nova geografia", lembrou.
"A base de sua obra surge na década de 1930, quando a produção do romance social nordestino era muito grande. É o momento em que surgem autores que fazem denúncias, como José Lins do Rego e Jorge Amado. Graciliano, no entanto, seguiu outro caminho graças à sua linguagem focada no homem."
Para o curador da Flip, Miguel Conde, Graciliano soube, como poucos, unir a crítica social ao requinte literário. "Em vez da prosa documental de tantos autores engajados do mesmo período, o que se vê então é uma obra em que o próprio compromisso político conduz à experimentação", comentou.
Além da palestra de Hatoum, o professor do departamento de Espanhol e Português da Universidade da Califórnia Randal Johnson, também participa de uma mesa de debates para apresentar um estudo inédito que analisa a atuação política de Graciliano Ramos e a influência dela em sua literatura.
Na onda de homenagens, a Record, que edita a obra do escritor, está lançando um volume com inéditos. Garranchos, organizado por Thiago Miosolla, trará textos publicados em diários, como o Jornal de Alagoas, a correspondência do autor, discursos escritos na juventude e o começo de uma peça.
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