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Taí uma banda realmente independente. Tão independente que não precisa nem do underground para sobreviver. Há nove anos na ativa, os curitibanos do Zaius simplesmente ignoram o circuito de shows nos bares da vida. Tocam quase sempre de dia, muitas vezes em lugares abertos, e cuidam de todos os detalhes da produção. Mesmo quando recebem algum tipo de apoio, caso da lei da incentivo que viabilizou seu novo álbum, os músicos não se acomodam. No fim do ano passado, realizaram duas apresentações gratuitas, com recursos próprios, para prestar contas à comunidade da verba recebida para gravar o disco.

"Tudo o que as bandas independentes mais querem é ser dependentes de alguma estrutura. Mas temos consciência de que precisamos ser nossos próprios agentes", diz o vocalista e guitarrista Marcelo Brum-Lemos, também conhecido por trabalhos-solo. Junto com o irmão, o baixista Junior, ele conduz a carreira do Zaius sem ansiedade. Fazem poucos shows e preferem concentrar seus esforços no estúdio. No caso do novo CD, A Cidade Não Morre, até perderam a conta do tempo gasto entre os instrumentos. "Como fã de música, sempre fui fascinado pelo disco como objeto. Também gosto de tocar ao vivo, mas não sinto necessidade de estar ligado ao circuito. Prefiro fazer poucas e boas", afirma o professor de Literatura do colégio Bom Jesus.

Mas essa postura pode mudar em 2007, pelo menos no que se refere às apresentações. Mais roqueiro e direto, A Cidade Não Morre traz à tona um Zaius acessível, que funciona bem no palco e deve atrair a atenção de um público maior. Outro fator importante é a formação: antes um trio, o grupo agora é um quinteto, reforçado pelos versáteis Felipe Ayres, Carlos Ramos e Emanuel Moon. Os dois primeiros, multiinstrumentistas, vêm de faculdades de artes. E Moon é baterista da Relespública, veteraníssima do cenário local. "Agora, sim, podemos fazer um show com todas as músicas do disco, com os mesmos arranjos", comemora Brum-Lemos, que ainda anuncia para este ano a produção de um DVD com clipes experimentais, dirigidos pelo cineasta Luciano Coelho.

Psicodelia, rock progressivo, jazz, MPB de vanguarda e medievalismos continuam guiando a sonoridade do Zaius. A diferença é que, neste terceiro CD, o grupo resolveu experimentar o formato de canção. O resultado é um conjunto plural, porém mais conciso. Inclusive no terreno das letras, interligadas por um único tema: a experiência urbana. "É uma visão subjetiva da grande cidade, só que de um ponto de vista absolutamente individual", explica o músico.

No caso do Zaius, isso significa a sugestão de imagens surreais, psicodélicas. "Manhã na Cidade" fala de "carros piando no asfalto". Em "Abuzidos", um personagem viaja pelo "céu infinito", onde vê "Aracy de Almeida cantarolando um blues". "Ringo Starr", a canção, é um "herói imaginário", "destinado à Mágica". E por aí vai...

Mas como reagem à essa maluquice os alunos do professor Marcelo Brum-Lemos? Segundo ele, suas turmas de estudantes compõem boa parte do público do Zaius (vide o grande número de membros na comunidade da banda no Orkut, a maioria extremamente jovem). Brum-Lemos, no entanto, revela que pensou em separar o artista do docente no início da carreira. Ao ponto de seus alunos-fãs questionarem as diferenças entre a sua postura no palco e na sala de aula. "Hoje acho tudo muito natural. Afinal, dar aula é como fazer um show, não?", conclui.

* Os CDs do Zaius estão à venda nas Livrarias Curitiba e no site www.bandazaius.com. Para ouvir faixas do grupo gratuitamente, acesse www.tramavirtual.com.br/zaius.

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