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Jean Dujardin e Bérénice Bejo também estão indicados nas categorias de melhor ator e atriz coadjuvante | Divulgação
Jean Dujardin e Bérénice Bejo também estão indicados nas categorias de melhor ator e atriz coadjuvante| Foto: Divulgação
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Polêmica

Cartaz pode tirar estatueta de Dujardin

Agência Estado

Jean Dujardin pode ter perdido no fim de semana passado seu favoritismo ao Oscar. Isso, naturalmente, se vazar para os votantes da Academia uma decisão da Justiça, que ordenou a retirada dos cartazes do novo filme do astro, que estreia dia 29 em toda a França, três dias após a festa de premiação, em Hollywood. Chama-se Les Infidèles (Os Infiéis), e no cartaz polêmico Dujardin, com a cara grave, olha para o público. Uma legenda reproduz a frase presumível. "Querida, estou entrando numa reunião." Mas, na verdade, ele está indo para a farra, como mostram as duas pernas de mulher abertas à sua frente.

Os norte-americanos são sensíveis ao politicamente correto. E nada mais ofensivo às mulheres – conforme determinou a Justiça francesa – do que essa imagem. Vai ser uma pena se Dujardin perder seu Oscar por isso, até porque o filme, tratando de um esporte (o adultério) no qual os franceses, segundo seu cinema, se dão bem, não encampa a bandeira do machismo.

Numa entrevista por telefone, de Los Angeles, o diretor Michel Hazanavicius conta que até chegar ao atual favoritismo – dez indicações, incluindo melhor filme, diretor, ator (Dujardin) e atriz coadjuvante (Bérenice Béjo, mulher do cineasta) –, O Artista foi um projeto que o perseguiu durante mais de dez anos. Doze, exatamente. Nenhum produtor queria ouvir falar. Um filme sem diálogos, em preto e branco. Loucura. O próprio Dujardin, parceiro de Hazanavicius na bem-sucedida série do agente 0017 – o James Bond francês –, que sempre foi cúmplice do diretor, na hora H, quando finalmente surgiram produtores dispostos a bancar a extravagância, vacilou.

Ele temia que o filme fosse muito experimental, que o público desertasse. Hazanavicius o seduziu com o que, na época, parecia um argumento improvável. "Pense, Jean, os norte-americanos vão adorar. E você vai chegar a Hollywood pela grande porta." Hazanavicius foi profético, mas antes de ganhar os prêmios de melhor ator no Globo de Ouro e no SAG, o Sindicato dos Atores, Dujardin foi melhor ator em Cannes, no ano passado. Robert De Niro, presidente do júri, agradeceu aos dois pelo "regalo". Começou ali, na Croisette, a escalada de O Artista.

  • O diretor Michel Hazanavicius: ceticismo dentro de casa

Produção mais premiada de 2011 pelas associações de críticos nos Estados Unidos, O Artista, em cartaz desde sexta-feira no Brasil, é, teoricamente, o grande favorito ao Oscar de melhor filme. Há quem aposte, no entanto, que esse favoritismo todo pode resultar em decepção no dia 26 de fevereiro, quando os prêmios da Academia de Hol­lywood forem entregues no Kodak Theater, em Hollywood. Sobretudo depois que perdeu o cobiçado troféu de melhor elenco, conferido há duas semanas pelo Screen Actors Guild (SAG), Sindicatos dos Atores de Cinema e Televisão, para o drama Histórias Cruzadas.

O ceticismo começa no próprio país de produção do longa-metragem do diretor Michel Hazanavicius, a França. Segundo reportagem publicada pelo site da revista semanal L’Express, comparável no Brasil à Veja ou à Época, logo após o anúncio das indicações ao Oscar, no fim de janeiro, O Artista, que concorre em dez categorias, estaria em desvantagem por diversas razões.

Bem-humorada, a matéria diz que, para início de conversa, a comédia dramática de Hazanavicius sobre o caso de um astro do cinema mudo (Jean Dujardin) com a chegada do som à sétima arte nos anos 20 tem um problema genético: é francês e não de um país anglófono, apesar de ter sido rodado nos Estados Unidos. Em seguida, baseada em estatísticas (um esporte nacional na França), a L’Express lista seus argumentos.

A curta duração do filme, 109 minutos, seria um de seus "defeitos" frente à tradição do Oscar. De acordo com os dados levantados pela revista, 80% das produções que já levaram a estatueta principal tinham mais de duas horas de duração – e, em 40% dos casos, o vencedor era o mais longo entre os indicados. Neste ano, apenas Meia-noite em Paris, de Woody Allen, é mais curto do que O Artista. Tem apenas 100 minutos.

Gênero

Outra desvantagem grave apontada pela L’Express é o fato de o longa de Hazanavicius ser uma comédia, enquanto a Academia tem escancarada preferência por dramas na hora de distribuir suas estatuetas. O segundo gênero favorito seriam os romances. E, proporcionalmente, os filmes de guerra, embora em menor número, sempre foram fartamente recompensados. Nesse aspecto, Cavalo de Guerra, de Steven Spielberg, seria um favorito disfarçado de azarão, dizem os franceses, Já as comédias nunca deixaram de ser menosprezadas. Pouquíssimas levaram o Oscar principal: Aconteceu Naquela Noite (1934), Se Meu Apartamento Falasse (1960) e Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977). Shakespeare Apaixonado(1998), embora também pertença a essa modalidade cinematográfica, triunfou muito mais em conta de seu caráter histórico e romântico.

Menos convincente, entretanto, é o argumento de que O Artista teria suas chances reduzidas de vencer o Oscar principal por causa de seu pequeno orçamento, US$ 15 milhões. Nos últimos três anos, o prêmio foi atribuído a filmes de orçamento igual ou até inferior: O Discurso do Rei (em 2011), Guerra ao Terror (2010) e Quem Quer Ser um Milionário? (2009).

Diz a revista que a Academia não costuma preferir superproduções, salvo exceções como Ti­­tanic, premiado em 1998, e que custou US$ 200 mihões. Ou Gladiador, melhor filme em 2001, cujo orçamento foi de US$ 102 milhões. Para a L’Express , a preferência seria por longas que custem entre US$ 50 e 70 milhões. Nesse caso, estariam em vantagem Cavalo de Guerra (US$ 66 milhões), de novo, e O Homem Que Mudou o Jogo (US$ 50 milhões).

Nos Estados Unidos

Para o jornal The New York Times, O Artista figura, sim, entre os favoritos ao Oscar de melhor filme, porém, o diário relativiza o favoritismo sugerido pela chuva de prêmios de críticos que vem recebendo. Sugere que Os Descendentes, de Alexander Payne, e, sobretudo, A Invenção de Hugo Cabret, de Martin Scorsese, têm grandes chances de saírem vitoriosos. Este último, além de ser o mais indicado do ano (11 categorias), diz a jornalista Melena Ryzik, "casa a tecnologia 3D a uma história sobre as origens do cinema, provavelmente sendo o que mais chega perto de encarnar o espírito da Academia".

Para o crítico Dave Karger, da revista e do site Entertainment Weekly, as chances de Histórias Cruzadas aumentaram com o prêmio de melhor elenco do SAG, mas são Viola Davis, indicada a melhor atriz, e Octavia Spencer, a melhor coadjuvante, que têm possibilidades concretas de en­­trar para a história, se tornando as primeiras afro-americanas a vencer dois prêmios da Academia no mesmo ano. Para Karger, O Artista segue favorito, seguido de perto por A Invenção de Hugo Cabret.

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