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Os músicos Vina Lacerda, Julião Boêmio, André Prodossimo e Denis Mariano integram a Orquestra de Cordas de Curitiba | Diovulgação/FCC
Os músicos Vina Lacerda, Julião Boêmio, André Prodossimo e Denis Mariano integram a Orquestra de Cordas de Curitiba| Foto: Diovulgação/FCC

Desligar a televisão. O artista Goto convidou mais de cem pessoas para apertar o botão off de seus aparelhos diante das câmeras. O resultado é o projeto multimídia Desligare, em cartaz no Solar do Barão como parte de um conjunto de oito exposições de artistas contemplados em 2006 pela Bolsa Produção para Artes Visuais, subsidiada pela Fundação Cultural de Curitiba.

"Queria criar um espaço em que o receptor, sempre tão passivo em relação à programação de TV, pudesse responder criticamente ao que vê", explica o artista. Como os personagens da videoinstalação, que interrompem sua relação unilateral com a TV a partir de um gesto simples, mas decisivo, Goto quer romper com o que já se tornou convenção.

Para ele, a arte precisa deixar os ateliês e interagir com as pessoas e com o seu tempo. "Já não é mais possível produzir de forma isolada do mundo", diz o artista. Por isso, sua arte lida, de modo geral, com interpelações essencialmente políticas – como a alienação promovida pela televisão, cuja programação invade diariamente 99% dos domicílios brasileiros. O artista foi às ruas em busca de pessoas para seu trabalho; depois, visitou suas casas para registrá-las desligando a televisão e escolhendo o que fazer seguida (ler um livro ou ver um DVD eram as opções mais corriqueiras).

A investigação ganhou dimensão sociológica – o que se revela, inclusive, em gráficos expostos na exposição com o percentual de programas desligados. "É preciso repensar a concepção da sociedade sobre o que é arte. Tudo pode ser matéria-prima", diz o artista. O resultado de sua busca deu origem a dois vídeos: Percurso/Cena é a câmera entrando nas casas das pessoas para vê-las desligar a televisão; e, Tela/Espelho reúne imagens das pessoas refletidas em televisores desligados.

Aos 36 anos, o artista curitibano acumula uma boa formação acadêmica: graduado pela Faculdade de Belas Artes, é especialista em História da Arte do Século 20 e mestre em Linguagens Visuais, pela UFPR. Dividido entre seu trabalho artístico e a coordenação do curso de especialização em Crítica de Arte e Curadoria, na Faculdade Unibrasil, ele acha que o artista contemporâneo precisa pisar em vários campos. "Há um discurso que diz que o artista perde ao desenvolver várias atividades. Eu acho que é um ganho. A gente acaba aprendendo, pois tudo é muito interligado. O artista é parte do mundo, mas também inventa o mundo", considera. Ele cita a denominação de um colega para definir seu métier hoje: "Artista Etc.".

Ser multifuncional é, inclusive, necessário em um país em que a arte não é valorizada. O artista precisa se virar para vencer os obstáculos de um circuito de arte frágil, com um mercado de cultura ultrapassada, "que pensa a arte como objeto de consumo". Mas, nem só o governo é culpado por esta situação. A crítica de Goto também se dirige para a iniciativa privada que, em sua opinião, não valoriza o tempo de exibição de uma obra ao selecionar um projeto inscrito nas leis de incentivo à cultura. "Na música, não é só a obra, é o concerto. Nas artes visuais deveria ser a mesma coisa", explica.

O artista contemplado pela bolsa municipal reconhece alguns acertos da Fundação Cultural de Curitiba. "Há uma reformulação de estratégias que, se for levada adiante, pode proporcionar um campo de produção artística mais reflexiva, atualizada com o mundo", diz. Para ele, os problemas estão relacionados, principalmente, às políticas culturais desenvolvidas pelo governo do estado. "Os museus, principalmente o MON (Museu Oscar Niemeyer), não são vistos como instituições que propiciam o desenvolvimento do discurso, que criam uma leitura sobre o mundo". Ao invés disso, servem de palco para o que vem de fora.

O artista não pretende ser bairrista, mas considera que a arte contemporânea local deveria ser mais valorizada. Ele observa que a curadoria, quando existe, é apenas para exposições do acervo, formada, em sua maioria, por obras de artistas paranaenses anteriores à década de 1940. "São artistas importantes, mas é preciso mostrar a produção de hoje. O mundo mudou".

- Serviço: Desligare, do artista Goto. Centro Cultural Solar do Barão (R. Carlos Cavalcanti, 533), (41) 3321-3242. 3.ª a 6.ª, das 9 horas ao meio-dia e das 13 horas às 18horas; e sábado e domingo, do meio-dia às 18 horas.

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