Rodrigo Lombardi (Herculano Quintanilha) é perseguido nas ruas de Antonina: produção digna de cinema| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Para quem começou a acompanhar novelas a partir da segunda metade da década de 80 (como eu), o remake de O Astro causa uma certa estranheza: tudo é meio brega e exagerado – sequências grandiloquentes, diálogos melodramáticos, interpretações histriônicas, figurinos extravagantes, tudo é over. Ou seja, nem parece novela "da Globo".

CARREGANDO :)

Revendo as cenas da versão original, entretanto – e de outras histórias de Janete Clair, como Irmãos Coragem, Selva de Pedra e Pecado Capital, por exemplo –, o julgamento muda: O Astro parece novela da Globo sim, mas uma típica trama de Janete Clair dos anos 70. Se levarmos em consideração ainda que ela foi escolhida para homenagear os 60 anos da teledramaturgia no Brasil, o resgate da estética kitsch da autora passa a fazer sentido.

A micronovela ou macrossérie é over, mas extremamente bem feita. A sequência em que a multidão enfurecida persegue o picareta Herculano Quintanilha (Rodrigo Lombardi) pelas ruelas de Antonina e Morretes é magnífica, digna de cinema. O mesmo vale para as cenas do protagonista na cadeia, gravadas no Presídio do Ahú, em Curitiba. E para as performances de Herculano como o ilusionista Professor Astro, cheias de efeitos especiais.

Publicidade

É nas interpretações que as diferenças com a versão original se tornam mais marcantes – na mesma medida da injustiça das comparações. Rodrigo Lombardi tem fama de canastrão, o que é uma vantagem para viver o trambiqueiro Herculano Quintanilha – há quem diga inclusive que nesse caso ele convence mais que o original, Francisco Cuoco. Carolina Ferraz (lindíssima) faz a sua Amanda sob o fantasma de Dina Sfat, assim como o Salomão Hayalla de Daniel Filho, que parece assombrado por Dionísio Azevedo. Thiago Fragoso se esforça, mas ainda precisa provar que merece o papel que consagrou Tony Ra­­mos, o do idealista Márcio Hayalla.

Regina Duarte, que já tem fama de escandalosa, eleva ainda mais os decibéis da sua Clô Hayalla – mas, nesse caso, a atriz parece prestar um tributo tanto à intérprete original, Tereza Rachel, como a Elizabeth Taylor em Quem Tem Medo de Virginia Woolf? – conforme me lembrou o colega José Carlos Fernandes.

Mas nada disso compromete a nova versão de O Astro. O que realmente causa um certo mal-estar – principalmente se você estiver assistindo em alta definição – é o desfile de rostos botocados: Regina Duarte, Rosamaria Murtinho, Mila Mo­­reira e até da Carolina Ferraz. O truque da juventude eterna, na maioria dos casos, não deu certo. GGG