Ficha da prisão de Sônia Hadad Hernandes, divulgada pela polícia de Palm Beach, nos EUA| Foto: Divulgação/Polícia de Plam Beach

Crueldade, lascívia, frivolidade e decadência são apenas algumas das "qualidades" associadas até os dias de hoje a uma das figuras mais controversas da História, a arquiduquesa austríaca Maria Antonia Josefa Joana, mais conhecida como Maria Antonieta, rainha da França, decapitada em 1793, pela "Santa Guilhotina" da Revolução Francesa.

CARREGANDO :)

Desmitificar a figura de Maria Antonieta e mostrar sua verdadeira essência, encoberta por acusações por vezes exageradas e até mesmo falsas em determinadas ocasiões, é o intuito da biografia Maria Antonieta (Record. 572 págs., R$ 67,90), da historiadora inglesa Antonia Fraser, especialista em monarquias e autora de livros sobre importantes figuras históricas, como Mary Stuart, Jacques VI e Charles II. O livro, que serviu de base para o roteiro de Maria Antonieta, terceiro filme da cineasta Sofia Coppola, cuja estréia nas salas de exibição brasileiras está prevista para o mês de março, mostra um lado mais humano da rainha mais impopular de todos os tempos, colocando-a na posição de vítima de um mau casamento impulsionado por razões políticas e bode expiatório para o fracasso da monarquia francesa.

Nascida em 2 de novembro de 1755, a filha caçula da imperatriz do Sacro Império Romano, Maria Tereza, teve seu destino traçado com apenas seis meses de idade, quando foi assinado o Tratado de Versalhes, pelo qual sua terra-natal, a Áustria, unia-se à França, sua inimiga tradicional, num pacto defensivo contra a Prússia. Fortalecer a aliança política com o país francês seria o motivo de seu casamento com o delfim Luís Augusto, em 1770.

Publicidade

A graciosa Madame Antoine, fã de música e canto, mas pouquíssimo interessada nos estudos a ponto de ser praticamente semi-analfabeta, foi enviada então a Versalhes, com apenas 12 anos e meio, destinada a se casar com o desajeitado filho do rei Luís XV. Sem ninguém da família a recorrer e pouco familiarizada com a complicadíssima etiqueta da corte francesa, Maria Antonieta, apesar de inicialmente ter conquistado a simpatia do povo francês, não foi capaz de conquistar a quem mais lhe interessava: seu marido.

Gordo, tímido e inseguro, Luís Augusto rejeitou a esposa, recusando-se a consumar o casamento por um longo período de sete anos e três meses. O futuro rei sofria de fimose e negava-se a ser submetido a uma cirurgia, pois, na época, não havia anestésicos disponíveis. Para piorar, a dificuldade do delfim (príncipe regente) em completar o ato sexual era constantemente ridicularizada pelos escritores satíricos da época, que não hesitaram em colocar em dúvida a paternidade dos quatro filhos que Antonieta veio a parir ao longo de seus 38 anos.

Os boatos eram alimentados em parte pelo comportamento extravagante da rainha, que compensava a frustração dos primeiros anos de sua união com Luíz XVI gastando quantias exorbitantes em roupas, jantares e na decoração de seu palácios. No entanto, a rainha era dona de uma personalidade caridosa e constantemente dedicava-se à filantropia, exatamente o oposto da cruel imagem da rainha dizendo aos pobres esfomeados "que comessem brioches". De acordo com a autora da biografia, a famosa frase teria sido dita pela princesa espanhola que desposou Luís XV cem anos antes da chegada de Maria Antonieta à França. "Comparada a esta imagem lasciva da esposa estrangeira, cruel, manipuladora, a verdadeira essência de Maria Antonieta tornou-se mera sombra", lamenta Fraser no epílogo de sua defesa à rainha.