São Paulo - Há 38 anos, o político Odorico Paraguaçu gritava, no meio da praça da cidade de Sucupira: "Vote em um homem sério e ganhe um cemitério". Seu fiel escudeiro, o gago Dirceu Borboleta, rasgava um sorriso no rosto, orgulhoso do patrão. "O grande entretanto" - como diria Odorico entre seus neologismos - era o matador Zeca Diabo, nada satisfeito com a demagogia do prefeito.
Muito menos a Censura Federal do Brasil. Com bom humor e críticas diluídas nos diálogos de seus personagens míticos da novela O Bem Amado, o escritor Dias Gomes (1922-1999) incomodou o governo do País de 70: o Regime Militar. Mas a repressão governamental ao deboche foi dura.
Nesta sexta-feira, depois de 26 anos longe dos holofotes, a cidade de Sucupira volta à cena, desta vez nos cinemas. O diretor Guel Arraes, responsável por produções de sucesso, como TV Pirata (1988) e O Auto da Compadecida (2000), é quem assina a direção e a adaptação do longa-metragem O Bem Amado (confira trailer, fotos e horários das sessões).
Apesar de, na ficção, Sucupira estar localizada no litoral baiano, na versão cinematográfica, a cidade escolhida como cenário para as armações do corrupto e engraçado prefeito Odorico Paraguaçu (Marco Nanini) fica em Alagoas.
De janeiro a fevereiro do ano passado, o pequeno município de Marechal Deodoro, fincado a 137 quilômetros de Maceió, virou Sucupira. A cidade, que celebrará 400 anos em 2011, tem 18 igrejas, 30 pousadas, um mini shopping e uma agência bancária.
A ideia inicial era filmar o longa em Olinda, Pernambuco - estado de origem de Guel Arraes -, mas o diretor foi seduzido por Marechal Deodoro. Lá, encontrou a luz perfeita, ao Sol escaldante de 45 graus, para as filmagens diárias de 12 horas, com início sempre em torno das 5 horas da manhã. E reencontrou uma passagem da vida de seu pai, o ex-governador pernambucano Miguel Arraes (1916-2005).
O gasto com a produção foi grande: R$ 8,3 milhões (o filme nacional mais caro até hoje foi Lula, o Filho do Brasil, que custou R$ 12 milhões). Para garantir qualidade e não fazer feio na bilheteria, Guel Arraes e o parceiro Cláudio Paiva fizeram um minucioso trabalho de adaptação.
» Veja a programação completa de cinemas
Prejuízo recorde ressalta uso político e má gestão das empresas estatais sob Lula 3
Moraes enfrenta dilema com convite de Trump a Bolsonaro, e enrolação pode ser recurso
Carta sobre inflação é mau começo para Galípolo no BC
Como obsessão woke e negligência contribuíram para que o fogo se alastrasse na Califórnia