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Ficha da prisão de Sônia Hadad Hernandes, divulgada pela polícia de Palm Beach, nos EUA | Divulgação/Polícia de Plam Beach
Ficha da prisão de Sônia Hadad Hernandes, divulgada pela polícia de Palm Beach, nos EUA| Foto: Divulgação/Polícia de Plam Beach

História

• Jeremias, O Bom foi criado em 1965 para o Jornal do Brasil, que pediu que Ziraldo criasse um personagem que substituísse o Amigo da Onça. O cartunista fez algo completamente oposto do famoso personagem que marcou época na imprensa brasileira.

• No início, no JB, as histórias de Jeremias eram mais comportamentais. O viés político do personagem apareceu quando ele passou a ser publicado na revista O Cruzeiro.

• O livro Jeremias, O Bom teve a primeira edição publicada em 1968, semanas antes da decretação do AI-5, que instaurou de vez a ditadura Brasil.

• A nova edição traz cartuns com críticas políticas que não haviam sido publicados no original para não incomodar os militares. Apresenta também algumas tiras inéditas.

• Se Jeremias, O Bom tiver sucesso editorial, outros personagens adultos de Ziraldo podem ganhar edições especiais em livro, como a Supermãe ou o Mineirinho Come-Quieto.

Você seria capaz de ficar de fora de uma pelada de futebol porque não foi escolhido para nenhum dos times, mesmo sendo o dono da bola? O Jeremias, sim. E sair da sala para comemorar sozinho o gol de seu time só para não incomodar aqueles que torcem para os adversários? É como o Jeremias faz. Passar horas na fila para comprar ingressos daquela peça esperada para toda a sua turma, mas ter que ceder o seu bilhete porque a mulher de um amigo decidiu ir de última hora? Sem problemas para o Jeremias.

Jeremias é um personagem criado pelo cartunista Ziraldo, que está lançando neste início de 2007 uma reedição de um livro com suas tiras, depois de quase 40 anos da primeira publicação, em 1968. Jeremias, O Bom (Melhoramentos, 180 págs., R$ 39) segue a linha do resgate de importantes publicações e cartuns políticos dos anos 60 e 70, como o personagem Gip Gip Nheco-Nheco, de Ivan Lessa, e o jornal O Pasquim, que recentemente ganharam edições especiais realizadas pela editora Desiderata.

Ziraldo criou Jeremias em 1965 para o Jornal do Brasil, que lhe pediu uma tira que substituísse o Amigo da Onça. Completamente o oposto do famoso personagem que marcou época na imprensa brasileira, Jeremias era ingênuo e bondoso e suas histórias faziam uma crítica social e comportamental da sociedade da época. "Não me inspirei exatamente em alguma pessoa para fazer o Jeremias. Todos nós conhecemos alguém como ele, pessoas extremamente boas, tanto é que muita gente ganhou o apelido de Jeremias na época em que eu o criei. O conceito pegou", destaca Ziraldo em entrevista ao Caderno G.

As histórias de Jeremias eram publicadas semanalmente no JB e ficaram muito populares. "Mas teve uma época que o editor do jornal pediu para parar com o personagem e fazer outra coisa. Aí, levei o Jeremias para a revista O Cruzeiro", revela o cartunista. Já em curva descendente, a outrora mais importante publicação semanal brasileira viu a transformação da tira, que ganhou um tom bem político, condizente com o que acontecia no Brasil da época, governado pelos militares. "Nesse período, não havia como não fazer charge que não fosse inteiramente contra o governo. A gente achava realmente que iria conseguir derrubar a ditadura. Era importante fazer toda a crítica possível", continua.

Mas a fase das charges políticas não durou muito em O Cruzeiro. Ziraldo ia fazendo suas histórias e, segundo ele, os militares não se davam conta das críticas ao governo. "Nem mesmo o dono da revista percebia. Quando ele se tocou, já tinha publicado muita coisa. Ele mandou eu parar", relembra Ziraldo. Ele ainda continuou fazendo o personagem por um tempo. E, para eternizá-lo, decidiu publicar um livro, que acabou saindo sem as charges políticas, para não incomodar ainda mais os militares.

Mas veio o AI-5 – Ato Institucional N.º 5, de 13 de dezembro de 1968, que instaurou de vez a ditadura militar no Brasil – e Jeremias acabou sendo silenciado de vez. "Já havia publicado o livro algumas semanas antes. No dia da decretação do AI-5, estávamos lançando, no Veloso, um famoso botequim de Ipanema, um livro de cartuns chamado Dez Humor, com o trabalho de dez cartunistas. E chegaram e falaram para a gente: ‘Se manda todo mundo, que o pau tá comendo’", lembra Ziraldo, bem-humorado, sobre o início de um terrível período da história brasileira.

A reedição de Jeremias, O Bom apresenta todas as tiras políticas que não puderam sair no original, além de algumas histórias inéditas não publicadas na época. Para o cartunista, o personagem continua atual: "O ser humano não muda, o que muda são as circunstâncias". Mas ele diz não ter muita paciência para criar novas histórias, mesmo que o atual momento do Brasil seja muito propício para críticas sociais e políticas. "Minha atividade principal agora é livro para criança, que é uma forma de perpetuação do meu trabalho como chargista e caricaturista", confirma.

Mas Ziraldo afirma que se Jeremias, O Bom tiver bom desempenho editorial, outros cartuns adultos seus poderão ganhar edições especiais em livro, como a Supermãe e o Mineirinho Come-Quieto. "Eles também são atemporais e também podem ser resgatados", completa.

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