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Nelson Motta homenageia Glauber Rocha, o jovem prodígio, no novo livro: “a última fase da vida dele foi muito triste” | Bruno Veiga/Divulgação
Nelson Motta homenageia Glauber Rocha, o jovem prodígio, no novo livro: “a última fase da vida dele foi muito triste”| Foto: Bruno Veiga/Divulgação

Nelson Motta cultivou amizades ilustres ao longo da vida. Parte ativa do cenário cultural brasileiro desde os anos 1960 – com um breve hiato de 1992 a 2000, quando morou em Nova York – foi próximo de Rita Lee, Tim Maia, Edu Lobo Nara Leão e Glauber Rocha, entre outros. Este último é o tema de seu mais novo livro, A Primavera do Dragão – A Juventude de Glauber Rocha, publicado pela editora Objetiva.

VÍDEO: Confira a entrevista com Nelson Motta

Não se trata de uma biografia clássica, que vai do começo ao fim da vida do artista. Motta preferiu focar nos primeiros anos do cineasta baiano que culmina no ponto alto de sua carreira: o festival de Cannes de 1964, quando concorre com Deus e o Diabo na Terra do Sol, ao mesmo tempo em que o Brasil é tomado pelo governo militar.

"Glauber e eu fomos criados vendo os mesmos filmes, foi um mergulho no passado para mim", conta Motta em uma entrevista exclusiva concedida à Gazeta do Povo durante o lançamento do livro na Livrarias Curitiba do ParkShopping Barigüi, na última quarta-feira. O escritor e produtor musical falou sobre o novo livro, a adaptação da biografia de Tim Maia para o teatro e a democratização da música na era da internet.

Por que o senhor quis escrever apenas sobre os primeiros anos de Glauber Rocha?

Tem vários motivos. O primeiro é que o meu impulso ao escrever uma biografia é afetivo. Gosto de escrever sobre os meus amigos, pessoas de quem eu gostava e de quem tenho saudades. Não sou um biógrafo profissional. Adorava o Glauber, mas a última fase da vida dele foi muito triste. Não gostaria de lembrar daquilo por nada, seria um sofrimento enorme pra mim. Mas queria homenageá-lo porque ele é um dos maiores artistas da cultura brasileira, símbolo da sua geração, então eu achei que a melhor forma de mostrar isso é contar como se formou esse personagem. Mostrar os amigos que teve, os filmes que via, sobre o que discutia, as namoradas, as lutas políticas, enfim, como ele se tornou Glauber Rocha.

Como foi entrar no universo do cinema?

Entrei no cinema da minha época. Não foi difícil porque as referências eram as mesmas. Eu tenho 67 anos, o Glauber estaria com 70 hoje, Glauber e eu fomos criados vendo os mesmos filmes. Era um cinema fortíssimo, e para nós era a grande arte do século 20. Então foi um mergulho no passado pra mim. O livro Vale Tudo – O Som e a Fúria de Tim Maia foi adaptado para um musical. Seu novo livro pode passar pelo mesmo processo?

Não, porque esse livro é totalmente cinematográfico. É uma história com começo meio e fim. É um garoto do interior da Bahia que se torna, aos 24 anos, um dos maiores cineastas do Brasil. E termina com o jovem discípulo talentosíssimo confrontando seu mestre, que era o Nelson Pereira dos Santos, no festival de Cannes de 1964. O potencial dramático é grande. Para o teatro não, mas para fazer um filme com isso é só rodar.

O senhor foi muito amigo e próximo de Tim Maia. E o ator Tiago Abravanel tem sido bastante elogiado na interpretação de Tim no musical. O que achou dele?

Foi um espanto pra mim quando o [diretor] João Fonseca, depois de testar 20 ou 30 atores pro papel do Tim Maia, me ligou todo alegre dizendo que já tínhamos o nosso ator. "É o neto do Silvio Santos", ele falou. Eu não acreditei! Um garoto paulista, branco, judeu, neto do Silvio Santos, para fazer o Tim Maia? Aquilo não fazia o menor sentido. Mas quando eu o vi foi impressionante. Ele lembra bastante as feições do Tim quando eu o conheci, com 26 anos. Várias vezes eu vi Tim ali no palco. O Tiago Abravanel é um grande ator de musical. Ele vai ser a grande revelação do ano. Só precisou levar uma mãozinha de pancake escuro nas mãos e no rosto, o resto é tudo talento.

Seus livros sempre falam da importância de vários artistas para a cultura brasileira. Como o senhor vê a sua própria participação nessa história?

Claro que eu tenho consciência de que contribuo, mas não penso muito sobre isso, porque a minha vida toda fiz o que quis. E eu adoro o que faço. Para mim, a fronteira entre o trabalho e o lazer é duvidosa. Então nunca paro para pensar no assunto. Mas vou começar a pensar agora. [risos]

Qual sua opinião sobre a atual era de digitalização das músicas?

É uma época maravilhosa para quem gosta de música. Na minha juventude, encontrar um disco, uma partitura ou uma letra de música era impossível. Hoje você dá uma clicada e ouve todas as músicas de graça, tem todas as letras na sua mão, tem software de instrumentos. Se tivesse toda essa moleza de GarageBand [software de música desenvolvido pela Apple] na minha época eu teria sido músico, ia ser fácil! Eu amo essa tecnologia, para uma pessoa com os gostos como o meu, é o paraíso em vida.

Serviço:A Primavera do Dragão – A Juventude de Glauber Rocha, de Nelson Motta. Objetiva, 368 págs., R$ 56,90. Biografia.

Cultura e Lazer | 3:08

Nelson Motta fala sobre seu novo livro, A Primavera do Dragão, em que conta os primeiros anos do cineasta Glauber Rocha, autor de Deus e o Diabo Na Terra Do Sol.

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