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Frido (à esq.) com o avô e o primo Toni: profunda influência literária | Reprodução/Arquivo Frido Mann
Frido (à esq.) com o avô e o primo Toni: profunda influência literária| Foto: Reprodução/Arquivo Frido Mann
  • Livro - Terra Mátria – A Família de Thomas Mann e o Brasil - Karl-Josef Kuschel, Frido Mann e Paulo Astor Soethe. Civilização Brasileira, 322 págs., R$ 34,90

Virou lenda a vinda de Thomas Mann ao Brasil, fato que nunca ocorreu. Uma pesquisa acadêmica, porém, foi a fundo para revelar a relação desse que foi um dos mais importantes ficcionistas do século 20 com a terra de nascença de sua mãe, Julia, filha de um alemão com uma descendente de portugueses e brasileiros.

Mais do que menções ao país e seus nativos, obras como A Montanha Mágica, Os Buddenbrook, Morte em Veneza e Confissões do Impostor Felix Krull tratam da identidade estrangeira, que, agora se descobre, marcou muito a vida do autor e de sua família – a começar pelo sentimento de perda da menina Julia ao ser levada da paradisíaca Paraty (RJ), onde perdera a mãe, para o norte da Alemanha.

Para o curitibano Paulo Soethe, professor do departamento de Letras da UFPR, a pesquisa começou nos anos 1990 e resultou em sua tese de doutorado, em que comparou A Montanha Mágica e Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa.

O projeto de investigar a vida de Mann ganhou corpo após a parceria com dois escritores: o alemão Karl-Josef Kuschel e Frido Mann, neto preferido do autor, nascido em 1940 nos Estados Unidos e que, desde 1994, busca no Brasil referências de sua família.

Escrito, portanto, a seis mãos, Terra Mátria – A Família de Thomas Mann e o Brasil foi publicado primeiro na Alemanha, em 2009. A versão brasileira traz capítulos novos, sobre o contato de Erico Verissimo com Mann, nos EUA, e a obra de João Silvério Trevisan, autor de Ana em Veneza, em que Julia Mann é uma das protagonistas.

Entre os brasileiros, o primeiro a se interessar profundamente pela "brasilidade" de Thomas Mann foi Sérgio Buarque de Holanda, que o entrevistou após o alemão receber o Nobel de Literatura, em 1929.

Durante a perseguição nazista e seu exílio forçado, Mann, casado com uma judia, foi "acusado" de ter sangue judeu devido a suas raízes "um quarto brasileiras": entre os portugueses que aportavam no Brasil, muitos eram judeus forçados à conversão ao cristianismo, os chamados cristãos novos.

A associação entre as condições brasileira e judaica na família Mann é aventada pela primeira vez em Terra Mátria – termo utilizado por Mann para se referir ao Brasil. Outra revelação diz respeito a uma pesquisa sobre a obra do irmão de Thomas, Heinrich, que usou a ideia de identidade sul-americana em vários personagens – uma delas, Lola Gabriel, pode ser considerada uma cifragem da mãe, Julia.

Além da enumeração de influências estrangeiras na família, os autores trazem diversas correspondências inéditas. Numa delas, Thomas diz ao jornalista tcheco Karl Lustig-Prean: "Apenas uma certa corpulência desajeitada e conservadora de minha vida explica que eu ainda não tenha visitado o Brasil".

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