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O casamento com Diego Rivera ocorreu em 1929 e foi marcado por muitas brigas | Divulgação
O casamento com Diego Rivera ocorreu em 1929 e foi marcado por muitas brigas| Foto: Divulgação

Trecho de Frida, de Hayden Herrera

"A força e a ênfase no sofrimento permeiam as pinturas de Frida. Quando ela se mostra ferida e chorando, é o equivalente à litania das feridas morais e físicas presente em suas cartas, uma tentativa de chamar atenção. Contudo, mesmo os autorretratos mais dolorosos nunca são sentimentalistas ou autopiedosos."

Frida Kahlo marcou e revolucionou a arte no século 20. Seu rosto delicado, emoldurado pelas sobrancelhas negras, longos cabelos e trajes típicos mexicanos se tornou uma imagem icônica do universo das artes. Da mesma maneira, muitas informações sobre ela se espalharam ao redor do mundo. Se tornou notório o fato de que sofreu um acidente grave ainda jovem, que lhe deixou fisicamente debilitada, que foi mulher do muralista Diego Rivera e amante do ideólogo comunista Leon Trotsky.

Na biografia Frida, lançada pela Editora Globo, a historiadora norte-americana Hayden Herrera, especialista em história da arte, vai além do já conhecido e traz detalhes da intimidade da pintora, estudos sobre suas obras, além de corrigir alguns dados errados sobre a trajetória de Frida – alguns deles inscritos até no Museu Frida Kahlo, em Coyoacán, sudoeste da Cidade do México. Lá, informa-se que Frida nasceu em 7 de julho de 1910, quando, na verdade, veio ao mundo três anos antes, em 6 de julho de 1907. Como comprova Hayden, a artista escolheu que "nasceria" junto com a Revolução Mexicana e passou a usar a data falsa de nascimento.

Apesar de iniciar o livro falando sobre a primeira exposição que Frida ganhou em sua cidade natal, em 1953, a autora não ousa e constrói um livro linear. Hayden dedicou atenção à personalidade dos pais de Frida, o que ajuda a entender o porquê da artista ter se tornado tão original e criativa. A mãe, apesar de analfabeta, era exigente com os filhos, e o pai viu potencial e inteligência superior na sua filha preferida, e incentivou que ela seguisse o caminho artístico.

Frida começou a se dedicar às artes depois do grave acidente de ônibus que sofreu aos 18 anos, e que lhe deixou praticamente imóvel por um ano. A reclusão a que teve de se submeter – antes, não parava quieta e adorava esportes – fez com que a pintura se tornasse o refúgio para a sua melancolia. A autora consegue deixar claro que a fragilidade física de Frida e luta pela vida refletiu-se diretamente em sua obra: os autorretratos são recorrentes pelo fato de a artista pensar muito sobre si mesma e as caveiras são sinais da morte, sempre iminente.

É interessante a maneira como a historiadora faz a análise de vários quadros. Um deles é Umas Facadinhas de Nada, em que Frida, baseada na história de um homem que assassinou a namorada, pintou uma obra não só com sua visão do crime, mas colocando na tela a dor que sentia no relacionamento conturbado com Diego Rivera. As diferentes fases artísticas dela também são explicadas – e ilustradas – para o leitor nas inúmeras imagens e fotografias.

Cartas

Uma das fontes de pesquisa de Hayden Herrera foram as inúmeras cartas que Frida escrevia para seus amigos, familiares e para o próprio Diego. Importantes para contextualizar o momento tratado, porém, as transcrições literais são, em algumas partes, exaustivas para o leitor. Apesar de o texto ser agradável, faltou apuro na mudança de assuntos, que ocorrem abruptamente, o que pode significar uma certa falta de cuidado, mas também refletir a volatilidade da personalidade de Frida. GGG

Serviço:

Frida, de Hayden Herrera. Editora Globo, 624 págs., R$ 64,90. Biografia

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