Como uma filha pródiga, Thaís Gulin reencontra hoje suas origens. Nascida em Curitiba, mas longe daqui há mais de cinco anos, a cantora escolheu a cidade para fazer o show de lançamento de seu primeiro disco. Uma noite de estréias, portanto, para essa ilustre desconhecida de 27 anos. "É uma honra começar por Curitiba", diz, sem evitar o clichê.
Thaís chega ao palco do Guairinha para mostrar um repertório, no mínimo, corajoso. Vai de Zé Ramalho a Chico Buarque, passando por Otto, Arrigo Barnabé e Nelson Sargento. À primeira vista, uma mistureba danada, que só faz sentindo com a audição do CD, recém-lançado pela gravadora carioca Rob Digital. "Esse discou sou eu por inteiro. Cada palavra que eu canto foi importante para a fase de descobertas que estava vivendo", conta a cantora, antiga moradora do bairro do Cabral e ex-aluna dos colégios Positivo e Santa Maria.
Uma fase iniciada aos 20 anos, quando Thaís decidiu seguir, para valer, a carreira artística. Antes disso, ela fez aulas no curso do Teatro Lala Schneider e no Conservatório de MPB. Chegou a participar de algumas peças enquanto cantava informalmente na noite, com amigos. Decidida a alcançar vôos maiores, passou uma temporada fora do país até se estabelecer no Rio de Janeiro, para trabalhar e estudar (cursa Bacharelado em MPB na Universidade do Rio de Janeiro).
Em terras cariocas, envolveu-se em diversos espetáculos teatrais: A Traviata, de Augusto Boal; A Canção Brasileira, de Paulo Betti; Havana Café e Missa dos Quilombos, ambos de Luiz Fernando Lobo. Também autuou no longa-metragem Desafinado, de Walter Lima Jr., e no curta Quem não Encontro Mais, de Luiz Fernando Praddo. E, ainda, excursionou pelo país com os shows performáticos Dussekolândia e Folia no Matagal, com canções de Eduardo Dussek e direção musical de Fernando Moura, pianista que já acompanhou gente como Marisa Monte, Elba Ramalho e Moraes Moreira.
O encontro com Moura rendeu frutos. Convertido a "mentor" da cantora, ele viabilizou sua carreira musical e a incentivou a gravar composições próprias logo no primeiro CD "A Vida da Outra (Dela) Ou Eu" e "Cinema Incompleta", escritas em parceria com Rogério Guimarães e Arrigo Barnabé, respectivamente. Duas de Chico Buarque, no entanto, parecem falar mais ao alto à sua memória afetiva. "Lua Cheia" (parceria com Toquinho), que ela canta desde criança, e "Hino de Duran", espécie de cartão de visitas de Thaís. "Essa música me acompanha desde o primeiro show", conta. "Se tu falas muitas palavras sutis/ E gostas de senhas, sussurros, ardis/ A lei tem ouvidos pra te delatar/ Nas pedras do teu próprio lar", diz a canção, incluída na Ópera do Malandro e também conhecida como "Hino da Repressão".
Solidão
Em Thaís Gulin, o disco, a política "Hino de Duran" divide espaço com a confissão de um michê ("Garoto de Aluguel", de Zé Ramalho) e um elogio ao amor louco ("Cedotardar", de Tom Zé e Moacyr Albuquerque), entre outros temas. Segundo a cantora, cabe ao ouvinte interpretar o disco à sua maneira, ainda que todas a letras tratem, de alguma forma, da solidão. Seria um desabafo de Thaís, após tantas andanças por aí? "Acho que não. E nem sou uma pessoa muito instrospectiva. Mas todo mundo é um pouco solitário. A criação, para mim, é um processo solitário", diz.
Para ela, mais do que discutir um assunto ou causa específica, a nova geração de artistas está mais empenhada em "fazer alguma coisa diferente". "Antigamente, havia mais uma coisa de grupo, de ter algo pelo que lutar. Hoje a gente luta para ser diferente, para fazer uma coisa própria", explica. Com um repertório desses, não dá para dizer que ela não está tentando.
Serviço: Show de lançamento do primeiro CD de Thaís Gulin. Hoje, às 21 horas, no Guairinha (Rua XV de Novembro, s/n.º), (41) 3304-7982. Ingressos a R$ 20 e R$ 10 (estudantes, classe artística e idosos).
Deixe sua opinião