O ator Rodolfo Vaz como o personagem de Gógol.| Foto: Joao Caldas/Divulgação

O ator Rodolfo Vaz esteve por 25 anos “casado” com uma das mais importantes companhias de teatro de repertório do Brasil, o Grupo Galpão, radicado em Belo Horizonte. Mas, nos últimos sete, o intérprete do protagonista Argan, de “Um Molière Imaginário”, e do antagonista Judas, de “A Rua da Amargura”, começou a namorar a ideia de sair de casa. Segundo ele, não houve desgaste, mas, depois de embarcar em diversos projetos fora da companhia, no ano passado ele decidiu assinar o divórcio.

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Junto da mulher, a atriz Fernanda Vianna (que continua no Galpão), ele fundou a Oitis Produções Culturais, e traz agora ao Rio a primeira produção de sua recente independência. O espetáculo “O Capote”, parceria entre Vaz e Yara de Novaes e baseado no conto do russo Nikolai Gógol (1809-1852), estreia no Rio de Janeiro, ficando no Centro Cultural Banco do Brasil até 13 de março. Ator e diretora já haviam trabalhado juntos em “O Amor e Outros Estranhos Rumores” (2010), uma adaptação para os palcos do realismo fantástico do mineiro Murilo Rubião.

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Yara conta que a vontade de colocar em cena o funcionário público Akaki Akakievitch surgiu quando ela viu a interpretação de Vaz para Godofredo, personagem de Rubião “complexo e cheio de camadas” que, para a diretora, se mostrava como o avesso do protagonista de Gógol.

NO RIO DE JANEIRO

O Capote

Centro Cultural Banco do Brasil (R. Primeiro de Março, 66), (21) 3808-2020. R$10 e R$5 (meia). Quarta a domingo, às 19h. Duração: 60 min. Até 13 de março.

“Herdei a paixão pelo ‘Capote’ do meu pai, e só tive vontade de fazer a adaptação quando me reencontrei com o Rodolfo. Um personagem tão emblemático como o Akaki precisa de um ator muito inteligente; caso contrário, corre-se o risco de ficar simplório. Existe uma diferença entre fazer algo que seja uma reiteração do simples e, de fato, criar uma simplicidade para o personagem”, afirma Yara.

Livro

Apesar de retratar a vida de um pequeno burocrata da Rússia czarista, as situações construídas em “O Capote”, de 1842, encontram ecos no Brasil do século XXI, na opinião de Vaz. A compra de um novo casaco é o que move o personagem, que experimenta uma forma de ascensão social ao deixar de se vestir com o velho e remendado capote.

“O Akaki é um personagem sem desejo, muito acostumado à sua vida ‘arroz com feijão’. Mas tem um momento em que ele quer ter voz, e isso o traz para os tempos atuais.”

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A primeira versão do conto foi feita pelo médico e escritor Drauzio Varella. Inicialmente escrita em forma de monólogo, a adaptação ganhou a contribuição do dramaturgo Cássio Pires durante os ensaios.

Para Yara, uma das características essenciais de Akaki é justamente a sua mudez diante da opressão sofrida; logo, não poderia ser dele a voz que narra a história. No novo amor de Rodolfo Vaz, ele divide o palco com os atores Rodrigo Fregnan e Marcelo Villas Boas e a musicista Sarah Assis.