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Recife –Um dos maiores nomes da literatura brasileira, Ariano Suassuna foi o destaque na primeira noite de abertura do 11.º Cine PE – Festival do Audiovisual, que aconteceu na segunda-feira no Recife. O escritor paraibano, radicado em Recife, autor de O Auto da Compadecida (livro já adaptado para cinema, televisão e teatro), é tema do interessante documentário O Senhor do Castelo, primeiro longa-metragem do diretor Marcus Vilar, que passou como filme fora de competição e foi muito aplaudido pelo público que prestigiou a sessão no Cine-Teatro Guararapes.

Vilar realizou um trabalho correto, direto e simples, sem floreios narrativos, centrando quase toda a ação da fita nos depoimentos de Suassuna, figura às vezes polêmica por sua defesa intransigente da cultura brasileira – que ficou mais incisiva a partir da década de 70, com a criação do movimento armorial. O radicalismo do escritor, que vai comemorar 80 anos em 2007, rende bons momentos ao documentário, alguns deles divertidas e bem sacadas tiradas, como quando explica porque não gosta de rock – para ele, uma má influência americana e inglesa na arte nacional.

Suas conhecidas divergências com Chico Science, líder do movimento manguebeat, morto em 1997, também foram lembradas em O Senhor do Castelo. Suassuna não gostava da mistura do rock com ritmos regionalistas realizada por Chico e o grupo Nação Zumbi, mas reconheceu que o cantor e sua banda foram importantes para o redescobrimento e valorização do maracatu pelos mais jovens.

O escritor comenta também as adaptações de suas obras para o audiovisual e revela que, para ele, Luiz Fernando Carvalho (Lavoura Arcaica) é quem soube melhor traduzir sua obra em imagens. O cineasta, que já adaptou as peças Uma Mulher Vestida de Sol e Farsa da Boa Preguiça em especiais da Globo nos anos 90, prepara, para junho próximo, a transposição de O Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta para a telinha – a obra, escrita em 1971, será a primeira minissérie do projeto Quadrante, que vai adaptar vários textos regionalistas de todo o país.

O filme de Vilar ainda retrata a infância do escritor em Taperoá (PB), sua vida no Recife, cidade que escolheu para viver, e a relação com a esposa Zélia, uma tímida e talentosa litogravurista.

Nzinga

A competição de longas-metragens do Cine PE começou fria com a apresentação do fraco Atabaques Nzinga, do carioca Octávio Bezerra. O diretor fala da influência dos africanos na música brasileira, mas não fica bem definido se o filme é uma ficção, um docudrama, ou mesmo um musical.

Há história de uma jovem baiana (vivida por Taís Araújo), que busca um sentido para sua vida e o encontra no resgate das raízes e tradições africanas. Bezerra alia à ficção imagens da África, encenações sobre a vinda dos negros ao Brasil e inúmeros musicais, destacando desde a pernambucana Lia de Itamaracá até o clarinetista Paulo Moura, passando por muitos grupos baianos de percussão e a participação muito especial da grande cantora Carmem Costa. Um bom tema desperdiçado por uma confusa realização.

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