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McCarthy: autor de "A Estrada" vendeu a máquina de escrever que comprou em 1963 por 50 dólares. | Divulgação
McCarthy: autor de "A Estrada" vendeu a máquina de escrever que comprou em 1963 por 50 dólares.| Foto: Divulgação

Filmes para vestir

- Blow Up – Depois Daquele Beijo (1966), de Michelangelo Antonioni – Primeiro filme em língua inglesa do cineasta italiano, Blow Up revolucionou ao apresentar a primeira nudez frontal em um filme não-erótico (a atriz/cantora Jane Birkin, ex-mulher de Serge Gainsbourg e mãe de Charlotte Gainsbourg). Provocativa e repleta de referências, a trama gira em torno do envolvimento de um fotógrafo em um crime, que ele poderia ou não ter fotografado. A fita dialoga com um conto do escritor argentino Julio Cortázar e apresenta figurinos futuristas, com linhas retas, minissaias, e mostra a relação do fotógrafo com suas modelos.

- Prêt-à-Porter (1994), de Robert Altman – Nessa comédia de humor negro, Altman constrói uma sátira do mundo da moda, com vários personagens que se cruzam em subtramas, durante a semana de alta costura em Paris. A câmera sempre atenta do cineasta funciona como uma espécie de voyeur nos bastidores e apresenta diversas personalidades do cinema e da moda, como Thierry Mugler, Claudia Schiffer, Marcello Mastroianni e Sophia Loren. O filme gerou polêmica por parte de alguns estilistas como Karl Lagerfeld (o "kaiser" da maison Channel), que se sentiu ridicularizado pelos personagens.

- O Diabo Veste Prada (2006), de David Frankel – Verdadeira coqueluche entre os fashionistas, O Diabo Veste Prada é baseado no best seller de Lauren Weisberger, que apresenta Miranda Priestly (Meryl Streep), a "editora-ditadora" de uma grande revista de moda, baseada na editora-chefe da revista Vogue America, Anna Wintour. A jornalista Andrea (Anne Hathaway) é contratada para ser assistente pessoal da editora, mas descobre que a tarefa era mais difícil do que parecia. Weisberger trabalhou realmente como assistente de Wintour, que compareceu na estréia do filme vestida de... Prada.

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Na Nova Iorque dos anos 60, uma jovem com um vestido preto justíssimo observa a vitrine da Tiffany’s, uma das mais tradicionais joalherias da cidade, enquanto toma seu café da manhã. A jovem é ninguém menos que Audrey Hepburn, vestida com um provocante Givenchy na primeira cena do clássico Bonequinha de Luxo, dirigido por Blake Edwards, em 1961. O filme sintetiza o visual elegante e discreto do começo dos anos 60, ainda sobre influência da figura absoluta de Jackeline Kennedy, que não tardaria em mudar.

Moda e cinema caminharam juntos durante o século 20, em uma constante troca de referências. Desde os tempos do cinema mudo, as roupas e comportamentos apresentados nas telas se refletiram nos espectadores. Um filme de 1914, The Perils of Pauline (Os Perigos de Pauline) traz uma das primeiras divas do cinema mudo, Pearl White, com um modelito de blusa branca, casaco preto e boina, que foi copiado pelas fashionistas de plantão. Em O Pensionista, de 1927, primeiro filme de suspense de Hitchock, a protagonista é uma modelo que se envolve com um suposto serial killer. Provavelmente, a primeira vez que um desfile de moda é levado às telas.

A inabalável Greta Garbo marcou época com seu ar melancólico e visual expressionista durante os anos 20. Mas foi em 1939, com Ninotchka, que Garbo desfilou um curioso chapéu desenhado por ela própria e inaugurou seu sorriso nas telas: até então, a atriz sueca só tinha representado personagens sérios – como ela própria. Ao lado de astros como Jean Harlow e Fred Astaire, Garbo se tornou referência da moda da primeira metade do século 20.

A alemã Marlene Dietrich radicalizou a Europa dos anos 30 com a personagem Amy Jolly, em Marrocos. A atriz interpreta uma cantora de boate que parte em viagem de navio para o Marrocos e, chegando lá, se apresenta de fraque e cartola e é vaiada pelos soldados. A atitude lesbian chic de Dietrich inspirou, anos mais tarde, o estilista Yves Saint Laurent, que criou releituras do figurino do filme durante os anos 60.

O glamour de Hollywood chegou ao auge na metade do século, com a presença de estrelas como Rita Hayworth, de Gilda (1946), imortalizada ao cantar "Put the Blame on Mame" enquanto tirava as luvas.

Após a Segunda Guerra Mundial, a moda tornou-se uma forma de resistência (e negação) do passado: a sensualidade e exuberância ganharam espaço, com destaque para o New Look, do estilista Christian Dior, que resgata a sensualidade da mulher com vestidos acinturados e alta costura.

Audrey Hepburn protagonizou, em 1954, ao lado de Humphrey Bogart, o clássico Sabrina, de Billy Wilder, que radicalizou o glamour do período, ganhando Oscar de melhor figurino, que foi desenhado por Givenchy e Edith Head.

"Desde meados da década de 40, o cinema se tornou um grande democratizador de tendências, levando as propostas e idéias, não só da moda, como de uma série de outros assuntos para um número imensurável de espectadores. Acho que o melhor exemplo disso foi a difusão do ‘american way of life’ quase que totalmente difundido pelo cinema", explica Luigi Torre, colaborador do site Filme Fashion (www.filmefashion.com.br), coordenado por Alexandra Farah e referência na relação cinema e moda, e da revista digital Chic Today.

O cinema, assim como a moda, reflete atitudes e comportamentos da sociedade. Em Juventude Transviada (1955), dirigido por Nicholas Ray, James Dean interpreta um adolescente encrenqueiro que se envolve em brigas e com gangues, popularizando mundo afora um visual de jaquetas de couro, jeans apertados e camiseta branca, que se tornou ícone da juventude mundo afora. Os anos 50 foram relidos mais tarde em filmes como Grease – Nos Tempos da Brilhantina, com John Travolta e Olivia Newton-John.

Se nos primeiros anos da "década de 60" ainda predominava o visual sóbrio e elegante, em pouco tempo, as artes, a literatura, a música, o cinema e a moda entraram em um período de grande experimentação, lançando movimentos como o dos beatniks, a pop art e a nouvelle vague. Nesse mesmo período surgem os hippies, retratados no musical Hair, de Milos Forman.

A era disco e os anos 70 se popularizaram com Os Embalos de Sábado à Noite, de John Badham, e com John Travolta dançando de terno branco o clássico "Staying Alive", dos Bee Gees. O filme praticamente inaugurou uma era de brilhos, cores e formas que são explorados por estilistas até os dias de hoje.

Apesar de, a maioria das vezes, o cinema reproduzir comportamentos que já estão presentes na sociedade, por vezes ele funciona como uma espécie de difusor de tendências, por popularizar o estilo de grupos mais segmentados. Um exemplo seria o visual de moleton cinza, rasgado e oversized do filme Flashdance, de 1983, que era o uniforme dos descolados da cena underground nova-iorquina e se popularizou com o filme, tornando-se um dos visuais emblemáticos da década.

Seja nas telas, seja nas passarelas, moda e cinema continuarão se influenciando mutuamente. Como duas fábricas de sonhos, a busca por renovação estética nas duas artes se torna a cada dia mais labiríntica. Mas nem por isso menos divertida.

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