O clássico João Nogueira

• 0

Lançamento

Sambabook João Nogueira

Vários. Musickeria. Preço médio: R$ 24,90 (CDs Vol. 1 e 2),R$ 39,90 (Duplo Digipack), R$ 29,90 (DVD) e R$ 69,90 (blu-ray). Samba.

João Nogueira: Discobiografia

Luiz Fernando Vianna. Casa da Palavra, 256 págs., R$ 29,90.

Sambabook João Nogueira: Fichário de Partituras

Casa da Palavra (org.). R$ 49,90.

O jovem Diogo Nogueira se lançou em uma prontamente bem-recebida carreira de sambista, em 2007, como um entusiasta da obra do pai. Reverência que seria, em certa medida, presumível, já que não faltou a João Nogueira (1941-2000) o reconhecimento como um dos grandes nomes do samba.

Mas o plano de resgate empreendido por Diogo culminaria em um projeto que se destaca entre os últimos lançamentos musicais pela grandiosidade. O Sambabook, idealizado pelo sambista e por seu empresário, Afonso Carvalho, e lançado pela estreante Musickeria com apoio da Petrobras, do Banco Itaú e do Canal Brasil, traz CD, DVD e blu-ray com 24 canções de Nogueira gravadas por convidados, além de uma "discobiografia" escrita pelo jornalista Luiz Fernando Vianna e de um fichário com 60 partituras.

De acordo com os idealizadores, que falaram por e-mail com a Gazeta do Povo, o projeto surgiu às vésperas dos 70 anos de nascimento de João Nogueira, completados em 2011. Diogo e Carvalho decidiram corrigir o desequilíbrio entre o grande prestígio do sambista no meio artístico e as poucas homenagens que recebeu.

"Vimos que tínhamos um projeto parecido com o songbook [do produtor musical Almir Chediak (1950- 2003), que lançou edições de Caetano Veloso e da Bossa Nova], e foi aí que tive a ideia do nome Sambabook", diz Carvalho, que, diante da boa recepção do primeiro número, anuncia como próximo homenageado Martinho da Vila.

O sambista fluminense é um dos ilustres que regravaram, em arranjos fiéis aos originais, clássicos como "Nó na Madeira", "Poder da Criação", "Súplica" e "Corrente de Aço" – que, conforme conta Vianna no livro, foi o principal trampolim de João Nogueira, em 1970, na voz de Elizeth Cardoso. "Optamos por gravar as mais emblemáticas de sua obra", afirma Diogo, para quem o principal desafio foi escolher as músicas de acordo com os intérpretes convidados. "Queríamos reunir artistas que foram muito próximos do João em vida, como Beth Carvalho, Martinho da Vila, Monarco, Ivan Lins, Alcione e Leny Andrade, mas também a geração que foi diretamente influenciada por ele, como Teresa Cristina, Arlindo Cruz, Marcelo D2 e Dudu Nobre. É um orgulho danado pra gente ver tantos astros de primeira grandeza juntos nesse tributo ao meu velho", diz.

O resultado, que tem materiais extras esclarecedores em depoimentos e cenas de bastidores presentes no DVD, revela um ambiente de gravações saudoso e comovente (o choro copioso de Jorge Aragão é o melhor exemplo). "João era uma pessoa muito querida e as gravações foram emocionantes. Cada artista, cada amigo que chegava e contava uma história dele, percebíamos o quanto João era especial", alega Carvalho.

Um bom suporte para compreender o protagonismo do sambista é a discobiografia de Vianna. Além de detalhes das gravações de cada álbum, a significativa coleta de depoimentos revela histórias esclarecedoras da carreira de João e de sua personalidade. "Como todo grande artista, João foi, ao mesmo tempo, singular e uma combinação de várias referências", diz Vianna. "Mas, tanto cantando quanto compondo, ele partiu dessas influências para fazer algo único, inigualável, inspirando também as gerações seguintes", afirma o jornalista, sobre o estilo criado intuitivamente por Nogueira, que não tocava mais que uma caixinha de fósforos. Focando em ritmo e melodia, o sambista desenvolveu uma divisão oscilante, cantada em estilo "malandro", com temática urbana, cronista.

"Qualquer compositor de sambas é fã de João. Então, olhando para ele, olhamos para parte significativa da história da música brasileira, mas também olhamos para um artista único, que fez sucesso nos anos 1970, mas não teve tempo suficiente para ter a obra reconhecida em toda a sua grandeza, pois morreu cedo, aos 58 anos", diz Vianna.