Saiba um pouco mais sobre a vida e a obra de Abdellatif Kechiche
- Nasceu em Túnis, na Tunísia, em 1960.
- Realizou três filmes: O Segredo do Grão (2007), LEsquive (2003) e La Faute à Voltaire (2000).
- Seus filmes retratam, direta ou indiretamente, a vida de imigrantes árabes e de suas famílias na França.
- O Segredo do Grão venceu os prêmios de filme, roteiro, direção e atriz estreante no César 2008, o Oscar do cinema francês.
- Recém-lançado em DVD, segue inédito nos cinemas de Curitiba, apesar de ter tido pré-estreia na Cinemateca e no Cineplex Batel.
Se O Segredo do Grão reflete a visão de mundo do franco-tunisiano Abdellatif Kechiche e as chances são boas de que reflita, pois ele escreveu e dirigiu o filme , é bom começar este texto anunciando o surgimento de um cineasta sem igual.
Não se trata de uma opinião pessoal. O prêmio César, um dos dois mais importantes do cinema francês (junto com o Festival de Cannes), considerou O Segredo do Grão o melhor filme, com a melhor direção, o melhor roteiro e a melhor atriz estreante (Hafsia Herzi) de 2008. E este é o só o terceiro trabalho de Kechiche.
O longa-metragem de duas horas e meia tem como protagonista Slimane Beiji, um senhor turrão de 61 anos que ainda se dedica a um trabalho braçal no porto de Sète, apesar de ter idade para pensar na aposentadoria.
Por causa de problemas burocráticos labutou por mais de uma década sem registro , deve continuar trabalhando. Como não consegue produzir com a mesma velocidade que alguém com a metade de sua idade, tem a sua jornada de trabalho reduzida . O patrão o pressiona para pedir demissão.
É quando decide colocar em prática o desejo de abrir um restaurante em que venderia o cuscuz feito por sua mulher, quer dizer, sua ex. Slimane saiu de casa para viver em um hotel. A proprietária é sua amante e tem uma filha que o adora.
Na verdade, todos gostam muito de Slimane. A família e os amigos o admiram por ser trabalhador, honesto e amoroso. São tantos filhos, netos e agregados que é fácil perder a conta. Cinco? Seis com a enteada? A certa altura, um almoço soma pelo menos uma dúzia de pessoas que falam ao mesmo tempo, intercalando francês e árabe. (É com ternura que Kechiche aborda a questão dos imigrantes no país.)
Slimane é um homem de poucas palavras, mas seu rosto é um discurso interminável sobre uma existência de muito trabalho e pouca diversão. Ele nunca ri.
Com uma expressão melancólica, rugas e cabelo grisalho, chega à chamada terceira idade com a consciência de não ter nada para "deixar aos filhos".
O papel de Slimane parece ser o único que Habib Boufares fez no cinema. É possível que nem sequer seja ator profissional, o que não faz a menor diferença.
Quem embarca na ideia do restaurante, a ser montado em um barco abandonado, é a enteada adolescente Rym (Hafsia Herzi). Ela prepara um dossiê infantil para apresentar ao banco, veste sua melhor roupa e acompanha Slimane para tentar conseguir um empréstimo.
A responsável destrói o documento que os dois levaram, mas admite que a proposta é interessante. De novo, a burocracia se revela uma areia movediça. O banco exige a permissão da prefeitura, que exige o aval da vigilância sanitária. A papelada não tem fim.
Se sentindo impotente, Slimane resolve oferecer um jantar. E convida todas as pessoas importantes do lugar, uma centena delas, da mulher do banco ao responsável pela prefeitura. Para a grande noite, conta com a ajuda da família, o que inclui a ex-mulher, a atual e toda a filharada. O cuscuz vai ser colocado à prova.
Quanto à visão de mundo de Kechiche, O Segredo do Grão sugere que a vida é imperfeita, confusa e difícil. Tem inúmeras problemas que não se pode resolver. O que não significa que seja inteira ruim na pior das hipóteses, é injusta. Mas não o tempo todo.
A convivência com outras pessoas de que se gosta ou não gosta pode dar algum sentido para a rotina. Ter ao menos um desejo também ajuda. Mesmo que ele seja colocado em prática de maneira imperfeita, confusa e difícil. Com problemas que não se pode resolver.
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