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O jornalista e crítico H. L. Mencken (1880-1956): exemplo positivo de aproximação com a comunidade científica | Ilustração: Marcos Mello
O jornalista e crítico H. L. Mencken (1880-1956): exemplo positivo de aproximação com a comunidade científica| Foto: Ilustração: Marcos Mello

Opinião: Cientistas encastelados prejudicam a si mesmos

O norte-americano já foi muito fascinado pela ciência, mas hoje não é mais. Cientistas, políticos, jornalistas, religiosos – todos são responsáveis por isso, afirmam Chris Mooney e Sheril Kirshenbaum, autores de Unscientific America, lançado em 2009 e ainda sem edição brasileira.

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Sem dúvida, o interesse do público leigo pela ciência parece crescer no Brasil, e uma prova disso seria o aumento do contingente de leitores aficionados pelo assunto. O bom número de livros editados e efetivamente vendidos, e a quantidade de revistas especializadas publicadas no país também passam, a um observador atento, uma impressão positiva de crescimento e melhora. Entre jornalistas e cientistas, no entanto, não há consenso quanto a essa questão. A geneticista Lygia da Veiga Pereira, por exemplo, acredita que sim, há um crescente interesse popular pela atividade científica. Para ela, essa atenção se intensificou a partir dos anúncios da clonagem da ovelha Dolly, em 1996, e do mapeamento do genoma humano, em 2000. "Talvez até por estes serem temas mais próximos de uma aplicação, mesmo que por vezes um pouco fantasiosa", explica Lygia.

Aplicação é a palavra. Se, por um lado, o diretor de redação da Superinteressante, Sérgio Gwercman, não acha que os leitores andem verdadeiramente mais interessados pela ciência, por outro, imagina que estejam, sim, mais curiosos em relação à aplicação do conhecimento científico no seu dia a dia. "Atualmente, há tanta informação disponível na internet, por exemplo, que as pessoas precisam de ajuda até para navegar", afirma. "E a ciência pode ajudar, sim, e sair em busca de respostas para aquelas pessoas que querem saber se a homeopatia realmente funciona, ou se comer carboidrato à noite engorda mesmo. A ciência é quem melhor responde a essas questões."

Jones Rossi, editor de Ciência e Saúde da Veja.com, concorda com Gwercman. Ele não acredita que tal recrudescimento do interesse pela ciência exista de fato no Brasil. "Mas talvez as pessoas estejam percebendo que a ciência está presente em suas vidas o tempo todo e, naturalmente, queiram saber mais a respeito", arrisca. "Hoje, a tecnologia parece ser capaz de tudo e ninguém quer ficar de fora disso — seja sabendo como um celular funciona ou se inteirando acerca das novas descobertas médicas proporcionadas por equipamentos que escaneiam nosso cérebro." Rossi vai além, e dá um exemplo ainda mais simples: "Atualmente, a ciência é capaz de responder não só a porquês técnicos, mas também aos porquês do amor e da vida em geral".

Pseudociência

"É inevitável que esse interesse pela ciência cresça, pois a cada dia vemos mais temas científicos aden­­trando nosso cotidiano", lembra Salvador Nogueira, editor da Conhecer, destoando, apenas em parte, do discurso de seus colegas. Para ele, assuntos como clonagem, exploração espacial, engenharia genética, transgênicos e potenciais catástrofes ambientais há muito deixaram de ser tema para a ficção científica e passaram a integrar a rotina dos cientistas. "E é claro que a sociedade precisa participar dessas discussões, determinando limites para certas linhas de pesquisa e elencando prioridades."

E aí a conversa cai, mais uma vez, no âmbito jornalístico. No­­gueira é quem retoma o assunto: "Finalmente, alguns veículos começaram a explorar a demanda reprimida que existia para o conteúdo qualificado de ciência". Afinal, defende ele, todas as pessoas têm, de forma inata, algum tipo de curiosidade científica. "A elas, só faltavam as formas de exercer essa curiosidade, e essa tendência de crescimento vem justamente tentar explorar esse potencial no Brasil."

Assim, para o físico e escritor Marcelo Gleiser, o público sempre alimentou um interesse satisfatório pelos temas científicos. Mas, antes, não havia meios de divulgação adequados para evidenciar essa realidade. "Agora, os cientistas estão mais interessados em divulgar o que fazem, e a mídia também", diz. Por outro lado, Gleiser supõe que tudo isso seja uma decorrência do desenvolvimento da própria ciência durante o último século: à medida que ela lidava com questões mais fundamentais, relacionadas com a origem do universo, da vida e da mente, mais os leigos se deixavam cativar. O que, em alguns casos, pode ser um perigo. "Veja o caso da pseudociência e da autoajuda, que usam conceitos científicos fora de contexto, como ‘cura quântica’ e ‘consciência cósmica’ para atrair as pessoas", denuncia Gleiser. "Numa era em que a religião deixou de ser a fonte de explicação da natureza, a ciência assumiu um papel importante. E, infelizmente, os aproveitadores também."

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