Antônio Skármeta estava radiante. Por quase uma hora e meia, ele traçou de modo leve e intenso um circuito de suas referências artísticas e destacou elementos que auxiliaram na compreensão de sua obra, marcada pelo intercâmbio entre a alta cultura e as notas populares. "Busco friccionar esses dois universos e trazer ao texto a espontaneidade daqueles que não são leitores", afirmou.
Ele narrou sua história afetiva desde os tempos de colégio e como as leituras do poema monumental "Martin Fierro", de José Hernandéz, definiram seu futuro. "Ali descobri que havia uma outra maneira de expressar a tristeza", disse. Na mesma linha memorialista, citou a sensação de conhecer, na adolescência, "Segredo", de Herivelto Martins, na interpretação de Dalva Oliveira. Embora tenha se confundido na letra, a simpatia lírica conquistou de vez o público curitibano. Aliás, quando citou Dalva e levou a plateia a tons mais efusivos, o cineasta Silvio Back, um dos presentes, foi um dos mais próximos de flutuar.
"O céu está chorando"
Um dos momentos mais marcantes da palestra de Skármeta foi a leitura de trechos do seu célebre romance O Carteiro e O Poeta, sua obra mais conhecida no mundo, posteriormente adaptada ao cinema por Michael Radford.
Ele aproveitou para narrar as desventuras da época em que os jornalistas queriam descobrir se o carteiro romanesco que conversa com Pablo Neruda no filme realmente existia. "Não foi fácil convencê-los de que o carteiro era um personagem arrancado de minha alma".
Por fim, ele realçou seu amor literário à obra de Neruda inclusive apresentou um vídeo pitoresco em que lê "Ode ao Gato" e rememorou suas influências brasileiras, como Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Noel Rosa e Pixinguinha. Skármeta esteve, em Curitiba, solar como sempre e fechou de forma emocionante a temporada do Litercultura em 2014.
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