Nas mãos de Pharoah Sanders, o saxofone parece uma criatura viva, feita de sangue e músculos. Uma criatura saída de um filme de ficção científica, de metal, mas capaz de urrar ferozmente como se tivesse coração. Há quase duas décadas sem pisar no Brasil, o jazzista se apresenta no Sesc Pinheiros, em São Paulo, no próximo fim de semana.
Até o fechamento desta edição, o Sesc ainda tinha ingressos à venda. Eles são relativamente baratos (R$ 30), mas é preciso ir a qualquer unidade do Sesc em São Paulo para comprá-los não há serviço pela internet nem por telefone. Se há qualquer célula no seu corpo interessada em jazz, é o caso de mover montanhas para ver o homem que John Coltrane (1926-1967) descobriu no início dos anos 1960.
Sanders completa 70 anos no dia 13 de outubro. Tocou ao lado de muita gente importante e hoje é ele que costuma ser citado como alguém com quem os outros se gabam de ter tocado.
Depois das viagens sonoras que fez ao lado de Coltrane até hoje difíceis de entender , o saxofonista Ferrell Sanders (Pharoah é uma corruptela que remete à palavra pharaoh, "faraó" em inglês) deu início a uma carreira pelo selo Impulse!, ícone do jazz espiritualizado e experimental, pelo qual lançou os clássicos Karma e Jewels of Thought (ambos de 1969).
Os trabalhos de Sanders buscavam a transcendência espiritual "The Creator Has a Master Plan", faixa de Karma, é um exemplo e defendiam a identidade negra, fazendo referências ao continente africano e à força da raça. Outros discos importantes dele se chamaram Black Unity (1971) e Africa (1987).
Ninguém hoje é capaz de tocar o saxofone tenor da forma com que Sanders toca. Assim como não há nada igual a Coltrane. Não por acaso, há uma proximidade entre os dois, ambos saxtenoristas. É absurdo tentar fazer comparações, mas, para tentar explicar, o que o som de Coltrane tem de cerebral, o de Sanders tem de selvagem. E os dois conseguem soar extremamente sedutores. Experimente: uma vez em contato com o disco Crescent with Love (1992), você vai ver como é difícil largá-lo.
Uma das marcas de Sanders é o urro que emite com o sax durante os improvisos. Um bom exemplo desse grito primitivo está na faixa "Olé" do disco Heart Is a Melody (1982). A intensidade do solo é tão grande que ele não se contenta em berrar com o sax, para de tocar e começa a gritar a plenos pulmões no microfone. E o público grita de volta.
Serviço
Pharoah Sanders. Sesc Pinheiros (R. Paes Leme, 195 Pinheiros, São Paulo, SP), (11) 3095-9400. Dia 21, às 21 horas, e 22, às 18 horas. Ingresso: R$ 30 e R$ 15 (meia), à venda somente nas unidades do Sesc em São Paulo.
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