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O título do livro que reúne sete textos antológicos de José Hamilton Ribeiro é apropriado: O Repórter do Século. Com certeza, ele não é o único, mas se existe algum jornalista brasileiro que mereça o título, este é "Zé Hamilton", como o próprio se apresenta na mensagem de sua secretária eletrônica.

O repórter de 70 anos trabalha para o Globo Rural e esteve em Curitiba na última quinta-feira para lançar três livros: Música Caipira — As 270 Maiores Modas de Todos os Tempos (Globo, 271 págs., R$ 32), Os Tropeiros — Diário da Marcha (Globo, 174 págs., R$ 32), e o já citado O Repórter do Século (Geração Editorial, 238 págs., R$ 34,90).

Diferentes nos temas que abordam, os livros têm em comum a origem em matérias para televisão. "São subprodutos, ou superprodutos de reportagem", explica Ribeiro, em referência ao fato de, nos livros, poder explorar melhor as informações que reuniu, muitas cortadas das versões finais por motivo de espaço (no caso do jornal impresso) ou de tempo e ritmo (no da tevê).

"Você não pode usar várias informações para não correr o risco de ficar monótono e a pessoa acaba mudando de canal", diz o jornalista, com a paciência e a simplicidade que o caracterizam.

Dos livros, o volume sobre música caipira e o dos tropeiros surgiram como reportagens especiais exibidas no Globo Rural. Já O Repórter do Século reúne trabalhos importantes de Ribeiro na imprensa escrita, incluindo o texto "Eu Estive na Guerra", relatando a experiência como correspondente da revista Realidade na Guerra do Vietnã. O episódio entrou para história também pelo drama vivido pelo jornalista, vítima de uma mina que destruiu sua perna esquerda.

"A visão foi terrível. O sangue brotava como de torneiras. Depois do joelho, a perna se abria em tiras, e um pedaço largo de pele, retorcido, estava no chão. Olhei em volta e não achei meu pé", escreveu sobre os momentos que, imaginava, seriam o de sua morte.

Ribeiro descreve a publicação de um livro-reportagem, primeiro, como uma ilusão. "O repórter fica frustrado com os cortes da matéria no jornal e acha que pode compensar isso transformando o material em livro", diz. Mas a "dura realidade" do Brasil é a de um país "ignorante, em que 70% da população é semi-analfabeta e a parte alfabetizada está mais preocupada em ganhar dinheiro do que em ler livros". O público leitor é então muito pequeno e, por conseqüência, não se pode viver de direitos autorais.

"Nos EUA, o jornalista recebe um adiantamento da editora e tem condições de trabalhar por um tempo no livro sem se preocupar".

Sobre o futuro da imprensa, Ribeiro acredita que o desafio imposto aos veículos é o de criar um "jornalismo de precisão", em resposta ao noticiário "impuro, bruto" da internet. Esta não tem filtro e o público pode ser facilmente enganado. "A internet precisa de sistematização, de regularização. A informação confiável é, normalmente, aquela que tem um jornalista responsável por ela".

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