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Os quatro primeiros curta-metragens do pernambucano Kleber Mendonça podem ser vistos no site Porta Curtas (www.portacurtas.com.br)
A Menina do Algodão (2002)
Lenda da menina morta que assustava estudantes recifenses (8 min).
Vinil Verde (2004)
Mãe entrega à filha uma caixa com uma radiola e velhos disquinhos, mas proibe-a de ouvir o verde (13 min). Prêmios: direção, montagem e escolha da crítica no Festival de Brasília; escolha do público no Festival Internacional de Curtas de São Paulo. Selecionado para a Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes em 2005, entre outros.
Eletrodomésticas (2005)
"Classe média, anos 90, 220 Volts" (22 min). Prêmios: especial do júri no Cine de Las Americas International Film Festival (Texas); especial do júri no Festival de Hamburgo; escolha popular no Festival de Tiradentes; escolha do público, aquisição pelo Canal Brasil e melhor curta no Festival Internacional de Curtas de São Paulo; melhor curta pelo júri popular e pela crítica no Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro e no Cine PE; melhor curta no Tabor Film Festival; entre outros. Selecionado pelo Festival Internacional de Roterdã.
Noite de Sexta, Manhã de Sábado (2007)
Encontro entre um homem e uma mulher (12 min). Prêmios: Aquisição Canal Brasil, melhor atriz e escolha da crítica no Festival de Brasília, melhor diretor no Cine PE; entre outros. Selecionado pelo Festival Internacional de Roterdã.
Recife Frio (2009)
Inversão climática deixa Recife fria e sob chuvas constantes (23 min). Estreou este mês no Festival de Brasília com uma recepção calorosa do público. Venceu, por unanimidade, o prêmio da crítica para melhor curta-metragem e recebeu os Candangos de escolha popular, direção e roteiro. A surpresa (e injustiça) da noite foi ter perdido o prêmio oficial de melhor curta para outro pernambucano, Ave Maria, de Camilo Cavalcante.
Brasília - O paraíso tropical pernambucano subitamente gela. As temperaturas caem a 5 graus. Nuvens forram o céu irremediavelmente, despejando mares sobre a cidade. É como se Recife, de um instante para o outro e sem explicação, tivesse se transformado em Curitiba. Aquela dos guarda-chuvas e agasalhos de lã pesados que resiste no imaginário ao sol dos últimos tempos. Curiosa contradição.
A louca inversão climática é investigada em um (falso) documentário argentino, no curta-metragem de ficção Recife Frio, com qual o diretor pernambucano Kléber Mendonça saiu aclamado do Festival de Brasília.
Tão logo terminaram os 23 minutos da história inusitada e irônica, o público se alvoroçou em uma reação calorosa, que se estenderia à recepção da crítica ao elegê-lo por unanimidade o melhor curta em competição, e ao júri oficial, do qual recebeu os Candangos de melhor direção e roteiro. "Já tive filmes muito bem recebidos, principalmente Vinil Verde e Eletrodomésticas, mas o que aconteceu aqui foi muito além de qualquer expectativa", disse o cineasta à reportagem da Gazeta do Povo.
Cineasta: a palavra não costuma ser associada ao nome do diretor. Quem faz curta-metragens é considerado "curta-metragista", diz Mendonça. "Eu ficava muito frustrado nos anos 90 porque fazia vídeos alguns que acho muito bons ainda mas eram vídeos, não cinema." Nessa época, costumava ouvir a troça: "Mas quando é que você vai fazer um filme de verdade?" Fez. O curta A Menina do Algodão, em 35 mm. "E a próxima piada foi: quando é que você vai fazer um longa?"
A visão por trás das câmeras divide o tempo de Kléber Mendonça com outros trabalhos relacionados ao cinema. Ele é jornalista por formação, respeitado crítico de cinema que escreve para o Jornal do Comércio e a Folha de São Paulo. Também programa a sala de exibição da Fundação Joaquim Nabuco, no Recife, onde mora.
Mas suas atividades como roteirista e diretor têm ganhado espaço e notoriedade em Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Roterdã e Cannes, onde apresentou Vinil Verde na Quinzena dos Realizadores, deflagrando uma onda de pedidos vindos de 14 países. Em breve, fazer cinema deve se tornar sua ocupação principal.
As filmagens de seu primeiro longa-metragem de ficção começam em julho do próximo ano. Antes, Kléber Mendonça havia feito o elogiado documentário Críticos, com 80 minutos dedicados à relação passional entre os dois grupos que bem conhece: os que fazem filmes e os empossados do direito de julgar se são bons ou ruins.
"Agora vou receber um upgrade social, porque vou fazer um longa-metragem de ficção", constata. "Mas isso é ridículo. Quem acompanha os meus filmes e gosta deles já deveria entender que eu sou um cineasta."
O Som ao Redor, o novo longa, será financiado pelo edital de baixo-orçamento do Minc (o mesmo que contemplou os curitibanos responsáveis pelo projeto Circular), além de recursos do governo pernambucano, e carregará o selo do Festival de Roterdã, onde o roteiro foi premiado.
A história recupera algumas ideias sobre sua cidade natal, que aparecem em Recife Frio e em curtas anteriores. Embora fascinado pela cultura recifense, principalmente o cinema e a música, Kléber Mendonça se incomoda com o abandono urbanístico da capital pernambucana e com certos comportamentos ditados pelas relações econômicas e historicamente repetidos na região.
"É uma cidade tropical onde as pessoas não andam na rua porque o medo da violência é muito forte. Estão trancadas em condomínios, carros com ar-condicionado e shoppings. É um modelo que eu odeio."
Recife Frio, mais do que uma ficção científica cômica que o obrigou a filmar apenas em dias de chuva ou nublados, contém essa camada de crítica. A queda das temperaturas evidencia a frieza das relações sociais, como na visita do suposto documentarista argentino que conduz o filme à casa de uma família de classe média alta. O filho adolescente trocou de quarto com a empregada para usufruir do calor do cubículo mal-ventilado onde ela dormia mesmo nos dias mais infernais. E a deixou passando frio.
O Som ao Redor repetirá o jogo de luzes sobre essa classe abonada. Aborda uma ideia de monocultura (da cana-de-açúcar), instalada no DNA do pernambucano, e que ainda define a mentalidade dos moradores de uma rua na região sul da cidade. "Quase uma versão moderna de um engenho de cem anos atrás, pela maneira como as pessoas se relacionam, principalmente patrões e empregados."
As várias frentes de envolvimento com o cinema às vezes se misturam. A um festival na Eslováquia, em 2007, foi como jurado e retornou com uma entrevista com Ro- man Polanski, pronta para a publicação. "Tudo isso gera uma rede de cinema que me interessa muito."
Desta vez, assim como em 2004 e 2006, sua estada no Festival de Brasília foi como realizador, não crítico. "Meu editor no Jornal do Comércio ainda perguntou se eu iria mandar matéria. Eu disse que não tenho como cobrir o festival com um filme lá."
O que não o impede de, por instantes, abandonar o posto de cineasta e comentar o impacto, contraditório, provocável por um crítico de cinema: "É importantíssimo e, na maioria dos casos, nulo." Em meio à vastidão do que se produz, é necessário que haja os autorizados pela sociedade a indicar o que vale a pena ser visto mesmo que poucos os sigam. "Para Matrix, o crítico é nulo, mas, para um filme pequeno tailandês, o crítico é muito importante."
A repórter viajou a convite do Festival de Brasília.
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